Foi uma espécie de Dom Fernando, o príncipe de Portugal que morreu encarcerado em Tânger para que se não abrisse mão de Ceuta. Irmão de Dom João IV, Rei de Portugal após a revolução nacional de 1640, Dom Duarte de Bragança era Senhor de Vila do Conde e um dos mais importantes aristocratas do Reino. Era filho de Teodósio II, Duque de Bragança e, como o seu irmão restaurador, meio-castelhano de nascimento: a sua mãe era Ana de Velasco e Girón, filha, por sua vez, de Juan Fernández de Velasco y Tovar, importantíssimo nobre espanhol e 5.º Duque de Frias, 3.º Marquês de Berlangas, 7.º Conde de Haro e 11.º Condestável de Castela. Nasceu em 1605, em Vila Viçosa. Em 1634, pretendendo glória castrense e livre que era das obrigações do seu irmão, Duque desde 1630, Dom Duarte rumou à Alemanha. Passou a servir os exércitos do Imperador Fernando III, cunhado do Rei Filipe III & e IV de Portugal e Espanha.
Em 1638, encontrando-se Dom Duarte de visita a Portugal, foi-lhe sugerido pelos que já planeavam o vindouro levantamento anti-espanhol que ficasse em Lisboa e tomasse, chegada a revolução, o mando dos exércitos portugueses. O Senhor de Vila do Conde terá considerado esse caminho de acção, mas recusou-o em virtude dos seus deveres com o Imperador. Estes factos narra-os pena anónima em "Relação de tudo o que passou na felice Aclamação do mui Alto & mui Poderoso Rei D. JOÃO O QUARTO, nosso Senhor, cuja Monarquia prospere Deos por largos anos", obra publicada em 1641 e frequentemente atribuída ao Padre Nicolau da Maia e Azevedo. Quando sobreveio a Revolução, pois, e tomou a coroa portuguesa o Duque de Bragança, Dom Duarte achava-se na Alemanha para dar luta às forças protestantes da União Evangélica. Madrid, temendo que o experiente general português regressasse à península em defesa dos direitos do seu irmão, tramou a sua prisão e exigiu-a à Áustria, que a concretizou. Duarte, que estava na Alemanha como servidor de Fernando III, foi por ele feito prisioneiro e entregue às autoridades espanholas. Seguiu para Milão, onde o tiveram aprisionado até 1649. Morreu nesse ano, vítima de anos de clausura e privações de toda a estirpe.
O triste fim sofrido por este príncipe de Portugal causou abundante comoção entre os portugueses de então. A corte cobriu-se de negro ao conhecer a morte de Dom Duarte, e o seu destino trágico, traído que foi o português às mãos do imperador que tão fielmente servira, foi motivo de escândalo e exasperação. O seu corpo jamais foi devolvido a Portugal, e o túmulo que Dom João IV dedicou ao irmão em Vila Viçosa mais não é que um cenotáfio. Lêem-se lá estas palavras: "Neste túmulo deveriam recolher-se os despojos mortais do Infante Dom Duarte de Bragança, que pela Fé de Cristo sete anos batalhou nos exércitos do Imperador da Alemanha. Recompensados seus gloriosos feitos com vil traição, foi o Príncipe português levado agrilhoado para o Castelo de Milão depois de inumeráveis afrontas e ultrajes, lá morreu encarcerado em 1649, aos quarenta e quatro anos de idade. Não podendo cumprir-se o seu desejo de para sempre repousar nesta igreja, por se terem dispersado as cinzas do seu corpo, aqui seu nome se guardará para eterna memória de tão alto sacrifício pela Liberdade da Pátria."
RPB
Fonte: Nova Portugalidade
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