segunda-feira, 20 de maio de 2019

A Europa está há muito construída e não é um Estado-império


A Europa das Nações que teve em De Gaulle um intransigente paladino, deixou entre nós de ter defensores. Tratava-se de um ideal de fraternidade fundado no bom-senso e na necessidade da cooperação entre Estados criados pela história, mas ninguém questionava a diversidade, as tensões, os interesses por vezes divergentes dos Estados. Subitamente, ainda Maastricht não fora assinado, entrou de rompante a expressão "Europa dos cidadãos", logo acoplada à "Europa das regiões". Quando a actual União Europeia desvelou finalmente o seu rosto, todos compreendemos que o principal objectivo desta União era (e é) o de destruir os Estados. Para atingir tal objectivo, importava reescrever a história e até teorizar sobre a "acidentalidade" dos Estados ainda hoje existentes. Nasceu, assim, a teoria da inevitabilidade do ocaso do Estado-nação. Porém, antes que fosse lavrada certidão de nascimento do "povo europeu", importava partir os Estados nas suas especificidades endógenas, quebrando-lhes a unidade mercê do apontar das especificidades, dos regionalismos, dos micro-interesses. Aquilo a que se assiste na Escócia e na Catalunha, mas igualmente na Bélgica, na Córsega e em Itália é - aceitemos de barato - uma prodigiosa obra de engenharia que visa partir os Estados existentes, desagregá-los para, sobre os cacos, inventar a unidade e decretar a cidadania europeia. Só não vê quem não quer.

A União Europeia não deve ser confundida com a Europa. Europas há muitas, como sempre houve, pelo que confundi-la com essa entidade regulamentadora, unidimensional, seca de cultura e sem história, desdenhosa das europas de sempre, entregue a ficções autoritárias e a gente que nunca pôs os pés numa biblioteca ou num museu, é, para além de atrevimento, um grosseiro insulto às fontes e correntes profundas da nossa civilização.

MCB

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