Em Monarquia condecorava-se o Valor, inclusive dos simples, como José Rodrigues Maio, mais conhecido como Cego do Maio ou Ti’ Maio, que nasceu a 8 de Outubro de 1817 (morreu a13 de Novembro de 1884) e que foi um pescador de sardinha da Póvoa de Varzim do século XIX, que alcançou estatuto de herói como salva-vidas. Graças à coragem como salva-vidas tornou-se a figura mais representativa e emblemática da Póvoa de Varzim onde é idolatrado como herói local.
‘Os pescadores têm um verdadeiro imposto: as grandes ondas que viram as lanchas.’, escreveu Eça de Queiroz. De facto, a vida do Mar é muito dura, e ninguém sabe isso melhor do que os pescadores e as suas famílias, que tantas vidas viram ceifadas e tantos mortos tiveram de chorar.
Entre os poveiros desse século, retintamente monárquico, destacou-se José Rodrigues Maio, o Cego do Maio e que como muitos dos seus patrícios vivia do mar, mas que para além do mester de pescador dedicava-se à corajosa missão de salvar as vidas daqueles cujas embarcações eram engolfadas pelas tempestades e enroladas e viradas pela força das ondas do mar. Os conterrâneos reconheciam-lhe especial clarividência na previsão do mau tempo e das tempestades, e por isso sempre que vinha tormenta, o Ti’ Maio ficava no Mar ou na praia perscrutando o horizonte para o caso de alguém precisar do seu auxílio. Quando havia naufrágio lá ia ele, a maioria das vezes sozinho, mas algumas vezes auxiliado pelos seus dois filhos. Mais de cem vidas foram salvas por este herói!
Sabendo dos seus valorosos feitos, El-Rei Dom Luís I de Portugal decidiu, de acordo com a Carta-Patente, agraciar José Rodrigues Maio com a condecoração da Ordem da Torre e Espada no grau de Cavaleiro.
‘DOM LUÍS, por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, etc.: Tomando em consideração os relevantíssimos e repetidos actos de coragem e de devoção cívica que José Rodrigues Maio, da Póvoa de Varzim, tem praticado, arriscando a vida no salvamento de muitos indivíduos que teriam perecido se não fossem os esforços e verdadeira abnegação de tão benemérito cidadão; e Querendo, por estes respeitos, dar-lhe um público testemunho da Minha Real Munificência: Hei por bem fazer-lhe mercê de o nomear Cavaleiro da Antiga e muito Nobre Ordem da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito’.
A mais alta condecoração portuguesa, o Colar de Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, assim como a medalha de ouro da Real Sociedade Humanitária do Porto, foram impostas em pessoa pelo Rei D. Luís I. Na cerimónia, quando o Rei o condecorou, o herói José Rodrigues Maio, apesar da sua simplicidade à qual não faltava boa educação, viu-se na obrigação de retribuir e presenteou ‘O Popular’ Rei de Portugal com uma mão-cheia de conchinhas raras, afirmando: ‘Tome lá ó Ti’ Rei, uns beijinhos para as suas criancinhas brincarem!’ Consta que El-Rei se comoveu!
Miguel Villas-Boas
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