quinta-feira, 9 de maio de 2019

Pela globalização portuguesa, contra o mundialismo dissolvente

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Persiste uma grande confusão entre o fenómeno chamado "globalização" e a "mundialização". Não há entre elas qualquer sinonímia, porquanto uma é um facto com o qual temos de viver - e no quadro do qual nos temos de habituar a viver, sob risco de desaparecermos - e o segundo se apresentar como uma ideologia.

O mundialismo inscreve-se no mito da Utopia planetária, é tão antigo como as civilizações, revestindo-se a moda de modos vários (cosmopolitismo, tecnopolitismo, paz universal), e tendo historicamente relevante arsenal de propositores: Montaigne, Condorcet, Saint-Simon, Comte, Marx, Otlet e, ultimamente, o think globally. Há, por detrás do "mundialismo", uma clara apetência pela ideia de Império, aquela que quer destruir a riqueza da espécie humana, aquela que mais relativiza e torna possível pensar e reduzir a vida dos homens e dos povos a um mínimo de necessidades que dispensam os factores histórico-linguísticos, morais, religiosos e idiossincráticos. Não, não entendemos o homem apenas como consumidor.

Para os mundialistas, todos somos aparentemente diferentes, mas essa diferença decorre, tão só, de formas diferentes de resposta às mesmas necessidades: reprodução, protecção, tecto e comida. O mundialismo menospreza a psicologia, o peso do passado e do simbólico, atendo-se unicamente às pulsões estruturadas (cultura, Estado, sociedade). Daí que julguem - desastrada e superficialmente - bastar invocar a liberdade de mercado, a democracia e os direitos humanos para se encontrarem os fundamentos de uma ordem internacional marcada pela tolerância, a paz e a boa-vizinhança. Discordamos em absoluto, pois até os mais respeitados decanos do pensamento liberal reconheceram que a organização, o sucesso, a abertura à ciência, a inovação e criatividade tecnológicas, o respeito pelas minorias, a produção de leis justas e demais factores de progressividade têm a ver com factores estruturantes de comportamentos e atitudes colectivas erigidos ao longo de séculos.

O triunfo da Europa e do Ocidente foi produzido pela história, longa de 2000 anos, pelo que julgar reproduzi-lo em atmosferas avessas a essas premissas tem sido nota dominante dos desastres em que o chamado Ocidente se tem vindo a envolver. Não se queimam etapas: as coisas derivam de lógicas que decorrem geração após geração, não havendo qualquer fórmula mágica de engenharia antropológica, cultural e social que as possam precipitar.

A NP defende uma globalização de matriz portuguesa, pelo que abomina o mundialismo do mercado e da imposição de um só tipo de regime político. A globalização portuguesa a que chamamos Portugalidade pode e deve ser agente de estreita cooperação entre as partes que compõem esta grande comunidade humana de 300 milhões de homens e mulheres.

MCB

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