“Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé”.
Assim se terá expressado Nossa Senhora aos Pastorinhos (Fátima, 1917).
Este ano as cerimónias da Peregrinação Anual, Nacional ao Santuário da Nossa Senhora da Concepção de Vila Viçosa, decorreram com inusitado brilho.
Tal deveu-se a um aumento sensível no número de “peregrinos”, à presença significativa da Instituição Militar de que se destaca a vinda do Chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas, Almirante Silva Ribeiro; do Comandante da Logística do Exército; a Banda do mesmo Ramo; o enquadramento da missa com honras militares, que incluiu uma guarda de honra ao altar por seis cadetes das Escolas Superiores Militares (dois da Armada, dois do Exército e dois da Força Aérea) e, sobretudo, pela extraordinária homilia de S. Excelência Reverendíssima o Arcebispo de Évora, D. Francisco José Senra Coelho, que presidiu à eucaristia da manhã (e que durou duas horas!), acolitado pelo Bispo de Castelo Branco/Portalegre.1
Nesta missa cantada participaram, seguramente, mais de mil pessoas, estando muitas no exterior da Igreja, mandada edificar pelo grande Fronteiro do Alentejo, Condestável do Reino; um dos homens mais ricos do país, que se fez pobre e carmelita, D. Nuno Álvares Pereira, mais tarde beato e, finalmente, depois de uma “espera” de seis séculos, Santo, o “nosso” São Nuno de Santa Maria.
Que Deus tenha em sua Glória, velando pelo que resta da Nação Portuguesa.
E assim estará por certo, pois foi ungido do Senhor: senão como explicar toda a sua vida de cavaleiro valoroso e espiritual, que nunca perdeu um combate ou uma batalha. Note-se que na sua primeira grande vitória, na batalha dos Atoleiros, no radioso dia 6 de Abril de 1384, mudou a táctica e o modo de fazer a guerra tradicional e estando em grande inferioridade numérica, viu sorrir-lhe a vitória sem que as tropas portuguesas tivessem sofrido um único morto.
Foi sempre inovador e audaz, defendeu os seus, esmolou em abundância tendo criado a “sopa dos pobres”, em Lisboa, e morigerou os costumes.
Esperámos seis séculos pela sua canonização a que o Poder de Castela e Espanha sempre se opuseram.
Fez-lhe finalmente justiça, o bom Papa Bento XVI, que para tormento da Cristandade renunciou ao trono de Pedro, em 28 de Fevereiro de 2013, tornando-se emérito. Misericordioso Benedito, que elevaste o bravo Nuno de Santa Maria aos altares, lembra-te que ele nunca desistiu e esteve sempre pronto a morrer pela causa de Cristo Redentor e por Portugal.
A Peregrinação está pois viva, mas deve ser encorajada em todo o País.
É certo que existem mais peregrinações de culto Mariano e outras, e que Fátima se tornou a grande peregrinação nacional que quase todo o resto ofusca. Mas a peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, é muito importante pois está ligada à Portugalidade e à grande tradição da nacionalidade. 2
Por isso todas as Câmaras Municipais do país – não só as paróquias (o Estado pode ser laico, mas a Nação não o é) – se deviam mobilizar, pois em 1654, o Rei D. João IV, ordenou que o juramento solene feito pela Nação a 25 de Março de 1646 fosse gravado em pedra e colocado em todas as portas e lugares públicos das cidades e vilas do Reino de Portugal. Que foi feito dessas pedras?
E também a Universidade Portuguesa se deveria mobilizar – sobretudo a de Coimbra - pois passou a fazer parte da forma de juramento dos futuros graduados desta Universidade, “defender sempre e em toda a parte que a Bem Aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, foi concebida sem mancha de pecado original”.
Mas todos nós sabemos que a Universidade está hoje em dia, dominada maioritariamente pelas forças das trevas…
Enfim, todos os sectores da vida nacional deviam peregrinar a Vila Viçosa e o “Dia da Mãe” nunca devia ter mudado para Maio.
Em Vila Viçosa voltaram a estar presentes este ano, os três “Braços do Reino”: a Igreja, na figura de um Arcebispo (e de todos os que o apoiaram) que fez uma notável homilia, não só do ponto de vista teológico e da Fé, mas também no âmbito da História e do Patriotismo; a Nobreza, consubstanciada em nomes de antigas famílias e nos defensores do “reino”, representados nas Forças Armadas, e no Povo que participou em largo número em todas as actividades, sobretudo na procissão, em que se deve realçar a elevada presença de cavaleiros e charretes, cujo conjunto é liderado por militares da Cavalaria Portuguesa, onde não ficava mal haver um reforço nas próximas edições e a presença de um oficial.
Finalmente a Família Real, sempre representada pelo sucessor do Trono e pela Real Ordem da Nossa Senhora de Vila Viçosa (criada pelo Rei D. João VI, em 6 de Fevereiro de 1818).
Em boa verdade Portugal nunca deixou de ser uma Monarquia, sem embargo desta ter sido ilegalmente (revolucionariamente) abolida, em 5 de Outubro de 1910, já que a Coroa tinha passado, em 1646, para Nossa Senhora, ficando esta para todo o sempre Rainha de Portugal.
E a Ela ninguém pode destronar…
Por isso faz todo o sentido a pergunta que D. Francisco José fez, alto e bom som, sem lhe tremer a voz, por três vezes no fim da sua homilia, “Portugal onde estás?”
A que se deve acrescentar uma outra: Portugal para onde vais?3
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)
1 Seria útil distribuir à assistência uma “pagela” em que se explicaria o sentido das honras militares, o significado dos toques de clarim, etc., para melhor ilustração do público.
2 Deve ainda referir-se a Régia Confraria de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e ainda a Confraria dos Escravos de NSCVV, que muto contribuem para a organização dos eventos. A “Aia” (uma Senhora nonagenária), de Nossa Senhora, que há 62 anos (creio) exerce essa função, foi este ano especialmente homenageada.
3 A propósito, onde estão guardadas o que resta das joias da Coroa Portuguesa?
Fonte: O Adamastor
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