sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Da verdadeira amizade


Os amigos que, podendo fazer boas obras a seus amigos, lhas não fazem, e no tempo da necessidade se arredam e retiram, não têm de amigos mais do que o nome, e podem ser condenados como de furto.

Assim como a sombra nos não acompanha senão quando nos alumia o Sol, mas, toldando-se de nuvens o ar, logo desaparece, assim há alguns que nos não acompanham senão no resplendor da prosperidade, mas, vindo a adversidade, logo desaparecem.

Não quero amigos que me sigam quando me dá claridade, que isso faz a sombra, mas que me acudam às necessidades com obras e conselhos, e claros sinais de inteira benevolência, e que tenham para mim, como eu tenho para eles, abertas as arcas e as entranhas; porque nunca tem vazia a mão do benefício quem tem o cofre do coração cheio de amor.

Os leais amigos hão-de ser participantes no prazer e no pesar, na riqueza e na pobreza.

Indo um dia dois homens, um muito rico, outro muito pobre, disseram a Teofrasto, discípulo que foi de Aristóteles, que aqueles dois homens eram amigos, e Teofrasto disse:

– Pois como é logo um rico e outro pobre? Não parece amigo o que não é participante na ventura do amigo, próspera ou adversa.

Frei Heitor Pinto in «Imagem da Vida Cristã», 1565.

Fonte: Veritatis

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