terça-feira, 31 de março de 2020

A realidade virtual desapareceu num ápice

A imagem pode conter: 1 pessoa, em pé, óculos de sol e closeup

Bastou uma semana de choque com o feio espectáculo do mundo doente para que desaparecessem todas as excentricidades ideológicas, próprias de sociedades entregues à abundância, à ociosidade e à rotina - logo, procurando vorazmente distrações, ópios psicológicos e picos nervosos. As gritarias do género, das quotas, dos comunitarismos, da "invisibilidade" de uns e de outros, das escravaturas, da legalização da cannabis, da iminência de catástrofes ambientais, as Gretas; tudo isso se volatilizou, desapareceu, perdeu valor.

Aquele mundo à Philip Roth - sim, pois que era distopia de plástico - volatilizou-se. O importante, o social, o político e o económico, eixos do real, regressam jubilosamente. Agora, importa que falemos de reindustrialização, de economia nacional, de produção e de economia virtuosa, assim como da reforma do regime muito doente e de um novo pacto de comunidade que permita a todos caminhar unidos no novo tempo de incertezas que se abre. O país perdeu muitas décadas, criou maus hábitos, afundou-se na mediocridade, deixou que se perdessem uma a uma as oportunidades que se lhe ofereceram. Agora, há que começar a viver fora das alienações.

MCB

domingo, 29 de março de 2020

São Roque, rogai por nós

sao roque pagela 1870

Roque nasceu entre 1345 e 1350, na cidade francesa de Montpellier. Oriundo de uma família da alta nobreza, sendo o seu pai, João, senhor de grandes domínios, e sua mãe, Libera, natural da Lombardia. Roque cresceu num ambiente cristão e, desde cedo, manifestou sinais de grande humanidade e enorme generosidade. Ainda jovem, ficou órfão, pelo que decidiu confiar a um tio a tarefa de cuidar dos seus bens, repartiu uma outra parte pelos pobres, cobriu o seu corpo de vestes e partiu como peregrino em direcção a Roma.
Neste período, a peste chegou à Europa através dos portos da Itália, França e Espanha e, em poucos anos, a bactéria Yersinia pestis ou Pasteurella pestis propagou-se pelas cidades, contagiando, debilitando e matando milhares de pessoas. Perante uma situação tão dramática, as enfermarias e os hospitais avolumaram enfermos a necessitar de cuidados. Foi neste cenário de crise e de medo, que Roque, cumprindo a sua peregrinação, decidiu ajudar muitos enfermos, aos quais reconfortava corpórea e espiritualmente desenhando sobre a testa o sinal da cruz. Em 1367, Roque chegou à cidade de Acquapendente, na província de Viterbo, dirigindo-se a um hospital para cumprir o seu voto de caridade. Retomou a sua viagem e nesse mesmo ano chega a Roma, onde cuidou de um cardeal (ou alto prelado), que, reconhecido o apresentou ao Papa Urbano V.
Permaneceu alguns anos em Roma, mas por volta do ano de 1370-1371, Roque iniciou a jornada de regresso. Em Placência alojou-se num hospital, dedicando tempo ao serviço e cuidado dos doentes, mas essa exposição originou o seu contágio.
Perante os sintomas da peste (demonstrados pela linfadenite inguinal – bubão – próximo do local da picada), Roque decidiu isolar-se e refugiou-se num bosque perto de Sarmato, onde foi milagrosamente alimentado por um cão que retirava todos os dias um pão da mesa do dono, Gotardo, para lho levar.
Quando recuperou da doença, resolveu regressar à sua pátria mas, ao chegar à zona de Placência, um dos locais mais atingido pelo conflito entre o Ducado de Milão, foi tomado como um dos revoltosos, sendo feito prisioneiro e passando cerca de cinco anos em cativeiro em Voghera, durante os quais padeceu inúmeros sofrimentos. A família só o reconheceu após a morte, que ocorreu a 16 de Agosto, num ano entre 1376 a 1379, ao que parece graças a um sinal de nascença, tendo um tio decidido dar-lhe piedosa sepultura em Voghera.
Os restos mortais de São Roque foram trasladados para Veneza em 1483. Devido à fama dos inúmeros milagres que operara durante a sua permanência em Itália, as relíquias do Santo foram distribuídas pelas cidades de Antuérpia, Arles e Lisboa.
A sua memória litúrgica é celebrada a 16 de Agosto e o povo cristão assegura que todo aquele que recorre com fervor à sua intercessão é atendido em suas súplicas, sendo essa a razão pela qual ainda hoje é considerado um poderoso advogado contra o mal da peste e de outras doenças. 
In honore salutoris, Sancti Rochi confessoris

sábado, 28 de março de 2020

A 25 de Março de 1223 Morreu El-Rei D. Afonso II

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas

El-Rei Dom Afonso II foi o 3.° Rei de Portugal nasceu em Coimbra a 23 de Abril de 1185 e faleceu a 25 de Março de 1223. Era filho de D. Sancho I e da Rainha D. Dulce, e casou com D. Urraca, infanta de Castela. Padecia de uma doença que o engordava e lhe causava maleitas de pele.

D. Afonso II não foi um guerreiro na senda de seu pai e avô, mas compensou a falta de vocação militar com uma estruturação administrativa do Estado, embora tenha conquistado Alcácer do Sal, Borba e Vila Viçosa e enviado uma hoste portuguesa para, ao lado de tropas castelhanas, aragonesas e francesas, combater na afamada batalha de Navas de Tolosa na defesa da Península contra os mouros.

Mas é um facto que enjeitou a política de expansão territorial - dominante até então - para munir o Reino de um Estado funcional, de uma concepção de um Rei como governante não-soldado e empreender a unidade nacional. Assim sendo, logo que ascendeu ao trono, em 1211, convocou Cortes para Coimbra. As Cortes eram assembleias políticas, Gerais ou Extraordinárias, os órgãos políticos de carácter consultivo e deliberativo das Monarquias orgânicas. Eram convocadas pelo Rei, ou em seu nome, para as diferentes classes sociais estabelecidas em três Ordens: o Primeiro Estado, fronde do Clero; o Segundo Estado, fronde da Nobreza; e o Terceiro Estado, fronde do Povo.

As Cortes da Monarquia Portuguesa eram uma evolução dos concílios nacionais da monarquia visigótica, e, a designação de Cortes provém do nome de Corte dado a cada uma das várias audiências pelas quais se desenvolviam os trabalhos da Assembleia. Havia diferentes designações para as Cortes: Cúria, Concílio e Parlamento – daí a designação ainda hoje utilizada.

As Cortes eram compostas pelo Estado do Clero, os prelados diocesanos, representantes dos cabidos e superiores das ordens religiosas; pelo Estado da Nobreza, um grupo de nobres membros das famílias titulares e nobres de Portugal a quem era reconhecido o direito de participar em Cortes; e o Estado do Povo, representado em Cortes pelos procuradores dos Concelhos Municipais. Desde o alvor da Monarquia Portuguesa que as liberdades municipais eram uma regra essencial de governação. O papel democrático dos municípios tornava-o em real representante de toda a comunidade local diante do Rei que valorizava o apoio popular.

Nessas Cortes de Coimbra foi estatuído que o Rei seria o “defensor do equilíbrio da Nação”, e saiu a primeira colectânea de leis gerais do país, que demonstram sem dúvida a acção centralizadora do poder no Rei, procurando derribar o poder pessoal, privilégios e abusos do Clero e da Nobreza, retirando-lhes poderes em função do reforço dos do Estado, e, foram, ainda, determinadas uma série de medidas gerais que se destinaram a garantir o direito de propriedade, regular a justiça civil, defender os interesses materiais da Coroa e evitar certos abusos dos dois Estados privilegiados - as confirmações, raras até este período, generalizaram-se entre 1216 e 1221 como medida de administração pública ajudaram a consolidar a soberania da coroa, pois validavam as doações e privilégios concedidos nos anteriores reinados, só após analisados os documentos comprovativos ou por mercê real, assim como as inquirições, os inquéritos feitos por funcionários régios com vista a determinar a situação jurídica das propriedades e em que se baseavam os privilégios e imunidades dos proprietários.

Esta política centralista originou, sobretudo conflitos com o clero e, também, com as Infantas, as irmãs do Rei, pois, o pai, D. Sancho I tinha deixado, por testamento, às infantas D. Teresa, Santa D. Sancha e D. Mafalda generosas mercês em terras, castelos e dinheiro sobre as quais D. Afonso II reclama soberania da Coroa e o pagamento de direitos régios. As infantas recorreram, então, ao Papa Inocêncio III, que acabou por ratificar a pretensão do Rei, mas este último teve de indemnizar as infantas com muito dinheiro, mas El-Rei passou a exercer soberania sobre as terras e confiou a guarnição dos castelos a cavaleiros templários.

Mas D. Afonso II gerou ainda mais pruridos quando decretou utilizar parte das receitas das igrejas em desígnios e projectos de utilidade nacional, o que originou um conflito diplomático entre o Papa e o Rei Portugal, que acabou excomungado por Honório III. Após isso, Dom Afonso II garantiu que ia corrigir os seus equívocos contra a Igreja, mas morreu em 1223, em Santarém, com 38 anos e ainda excomungado, sem fazer qualquer diligência verdadeira para mudar a sua política, salvaguardando, sempre, os interesses do Reino.

A excomunhão haveria de ser levantada quando o sucessor D. Sancho II resolveu os atritos com o Papado, e assim El-Rei D. Afonso II descansa em paz no Mosteiro de Alcobaça - Panteão Real.

Miguel Villas-Boas

quinta-feira, 26 de março de 2020

Procissão de Nossa Senhora da Saúde


Procissão de Nossa Senhora da Saúde é a mais antiga procissão religiosa que se realiza anualmente na cidade de Lisboa, em Portugal, normalmente no primeiro domingo do mês de Maio. A procissão remonta a 1570, ano em que os artilheiros da guarnição da cidade organizaram um cortejo sob a égide de São Sebastião e de Nossa Senhora da Saúde em acção de graças pelo final dum violento surto de peste.

No final de Maio de 1569, o primeiro ano do reinado de D. Sebastião, começaram a sentir-se em Lisboa os primeiros rebates da peste, flagelo que já não assolava a capital há cerca de quarenta anos. Em Junho, a doença propagava-se tão rapidamente que a família real partiu da cidade: o rei foi para Sintra juntamente com o Cardeal D. Henrique, e a rainha viúva D. Catarina e a Infanta D. Maria foram para Vila Franca e, passados dias, para Alenquer.

Entretanto, nos meses de Julho, Agosto, e Setembro, a mortalidade foi tanta que, apesar de se fazerem valas comuns, os cadáveres ficavam insepultos: as estimativas dos cronistas oscilam entre os quarenta e os oitenta mil mortos (números que, segundo Queirós Veloso, serão provavelmente exagerados tendo em conta a população de Lisboa). A epidemia começou a abrandar em Outubro, tendo logo no dia 16 desse mês o Rei escrito ao Senado da Câmara de Lisboa para que se construísse na cidade um templo consagrado a São Sebastião, em acção de graças. Tradicionalmente admite-se que o templo, na Mouraria, foi erguido pelos Artilheiros do Castelo de São Jorge graças à colaboração da rainha D. Catarina, avó de D. Sebastião.

A 20 de Abril de 1570, o Senado da Câmara celebrou uma solene procissão dando graças "pelos grandes milagres e maravilhas que operara, restituindo a saúde à cidade e desimpedindo-a de tão grande fogo e mal contagioso". saiu da  às 11 horas da manhã e recolheu a São Domingos pelas 2 horas da tarde, depois de percorrer as principais ruas da cidade. Não consta que a procissão se tivesse realizado no ano seguinte, porém, em 1572, a vereação da cidade obriga-se a que, todos os anos se celebre uma procissão com a mesma solenidade, "ẽ hũa qymta ffrª, que cair mais chegada, aos vimte dias do mes dabril, por no dito dia de quimta fª, ẽ que se a primra procisam fez, serẽ vimte dias do dito mes do año de 1570", para memória futura.

Em data incerta, mas aproximadamente coeva do voto dos Artilheiros, a nobreza de Lisboa resolveu agrupar-se numa confraria a que se deu o nome de Irmandade de Nossa Senhora da Saúde. Quer esta Irmandade, quer os Artilheiros, se juntavam na mesma procissão. Em 1662, o cortejo saía da capelinha do Colégio de Jesus dos Meninos Órfãos, e nele já figurava a imagem de Nossa Senhora da Saúde, como actualmente (anteriormente, só há notícia de ir na procissão "hũa charola cõ as Relíquias da bem aventurada Sta. Ana e de S. Sebastião"; nesse ano, devido a desentendimentos entre a Irmandade os Artilheiros, a imagem da Virgem ficou perpetuamente depositada na Ermida de São Sebastião (mudou de nome para Ermida de Nossa Senhora da Saúde), unindo-se desta forma as duas Irmandades que tomaram a designação de Irmandade de Nossa Senhora da Saúde e de São Sebastião.

A procissão realizou-se até 1910, altura em que foi interrompida na sequência da Implantação da República, só se retomando a devoção em 1940; em 1974, após a Revolução dos Cravos, interromper-se-ia uma segunda vez até 1981.

Actualmente, a procissão incorpora as imagens de Santa Bárbara, Santo António, S. Sebastião e da Senhora da Saúde, percorrendo a Rua do Benformoso, Largo do Intendente Pina Manique, Travessa do Cidadão Gonçalves, Avenida Almirante Reis, Rua da Palma, Praça Martim Moniz, Rua D. Duarte, Praça da Figueira, Rua dos Condes de Monsanto, Poço do Borratem e Rua do Arco do Marquês de Alegrete.

Fonte: Wikipédia

quarta-feira, 25 de março de 2020

24º Aniversário de SAR, O Senhor D. Afonso de Bragança, Príncipe da Beira



SUA ALTEZA REAL O AUGUSTO E SERENÍSSIMO PRÍNCIPE Dom Afonso de Santa Maria Miguel Gabriel Rafael, 9º príncipe da Beira e por mercê d'El Rei D. Sebastião I, 20º duque de Barcelos, nasceu a 25 de Março de 1996.


S.A.R., Dom Afonso de Bragança, ao celebrar neste o seu aniversário, enche o coração de Portugal de esperança, de alegria e de confiança num futuro promissor pela qual todos nós Portugueses sonhamos.


Desejamos ao nosso Príncipe Real  as maiores felicidades, muita saúde, alegria e paz na companhia da nossa Bem-Amada Família Real, no mais belo exemplo de União e Tradição. Que Deus o guie e ilumine.


VIVA SUA ALTEZA REAL DOM AFONSO, PRÍNCIPE REAL!

terça-feira, 24 de março de 2020

Nossa Senhora da Saúde, rogai por nós


História

Tradicionalmente invocada pelos doentes (como afirma o Padre António Vieira no seu Sermão do Nascimento da Mãe de Deus: «Perguntai aos enfermos para que nasce esta celestial Menina, dir-vos-ão que nasce para Senhora da Saúde [...]»), tornou-se particularmente cultuada a partir dos finais do século XVI, sendo-lhe atribuída a intervenção miraculosa que levou ao fim de vários surtos de peste ocorridos em Portugal. Em sua honra, nas povoações libertas do flagelo, foram-lhe erigidas igrejas ou dedicadas velhas capelas preexistentes.

Assim, o primeiro surto, ocorrido em Lisboa no reinado de D. Sebastião, em 1568, atingiu o seu ponto máximo no Verão do ano seguinte; ante a elevada mortandade (que levou mesmo a que o rei pedisse ao tio Filipe II de Espanha que enviasse médicos para Portugal, para auxiliar no combate à doença), a população da capital começou a organizar procissões em honra da Virgem, para que por sua intercessão pudesse cessar a peste. Tendo a mortalidade decrescido até ao começo da Primavera seguinte, o povo agradecido passou a celebrar anualmente uma procissão em honra de Maria, sob a invocação de Nossa Senhora da Saúde, no 1.º Domingo de Maio (salvo raras excepções). A imagem protectora foi depositada na Igreja do Colégio de Jesus, tendo mais tarde sido transferida, em 1662, para a pequena Capela de Nossa Senhora da Saúde e de São Sebastião da Mouraria, na freguesia de Santa Justa, próxima ao Rossio. A sua procissão é amplamente concorrida todos os anos.

Um novo surto da doença, em 1599, tornou mais visível a devoção pela Senhora da Saúde. A pestilência era tão intensa que muitas pessoas fugiam da capital para os arredores, em busca de ares mais saudáveis. Foi nesse contexto que, por exemplo, nasceu a devoção à Senhora da Saúde na povoação de Montemor, em Loures, onde logo foi erguida uma capela à santa (Capela de Nossa Senhora da Saúde de Montemor).

Do mesmo modo, também nessa altura, em Sacavém, nos arredores da capital, foi encontrada uma imagem de Maria com o Menino nos braços que, invocada como Nossa Senhora da Saúde, se diz ter feito cessar a peste; a imagem foi depositada na Capela de Santo André aí existente, passando a ser todos os anos magnificamente cultuada com uma grandiosa procissão no primeiro fim-de-semana de Setembro.Em Vila Fresca de Azeitão (Concelho de Setúbal) também se venera Nossa Senhora da Saúde e se realiza uma Procissão integrada na Festa dedicada a Nossa Senhora da Saúde. Esta festa realiza-se anualmente no fim de semana mais próximo do dia 8 de Setembro e realiza-se desde 1723 na sequência de uma peste que ameaçou aquela região no Verão de 1723.

Celebrações religiosas

É celebrada oficialmente, consoante os locais, ou a 22 de Abril (Lisboa), ou a 15 de Agosto (também dia da Assunção de Maria), ou a 8 de Setembro,ainda no primeiro Domingo de Setembro é celebrada a eucaristia e procissão em Honra de Nossa Senhora da Saúde na Coutada.

Em Pereiro, uma aldeia pertencente à freguesia e concelho de Mação, a missa solene em honra de Nossa Senhora da Saúde, padroeira da aldeia, tem lugar no último domingo de Agosto de cada ano. Finda a missa solene, segue-se a grandiosa procissão que percorre todas as ruas da aldeia que nessa altura se encontram pomposamente enfeitadas com milhares e milhares de flores de plástico feitas pela sua população ao longo de todo o ano.

Para transportar o andor de Nossa Senhora da Saúde, na procissão do Pereiro, são necessárias dezasseis pessoas que, dessa forma, cumprem promessas feitas em momentos de maior aflição, ao longo do ano.

Esta romaria é visitada por milhares e milhares de pessoas que ali se deslocam, vindas de todos os pontos do país, aproveitando para ver as ruas enfeitadas e as festas desta aldeia (tanto a parte religiosa, como a pagã).

Em Abragão (concelho de Penafiel) as celebrações são realizadas no primeiro fim de semana de Setembro. Na quinta-feira realiza-se a procissão de vela em honra da Nossa Senhora da Saúde. No Domingo celebra-se a missa, também em sua honra, na capela e da parte da tarde realiza-se a procissão em sua honra. Esta é uma das festas mais importantes a Norte de Portugal. Durante a semana da celebração das festas em honra da Nossa Senhora da Saúde, chegam peregrinos dos vários cantos do pais, a pé, para cumprir as suas promessas.

Oração a Nossa Senhora da Saúde
Intercede, Mãe querida, para que o teu Filho cure as nossas enfermidades

Ó Mãe de misericórdia,
Senhora da saúde,
que, servindo a tua prima Isabel
em suas necessidades
e permanecendo firme ao pé da cruz
do teu Filho agonizante,
manifestaste na bodas de Caná
a tua grande sensibilidade
para connosco,
ouve a voz e o clamor
de todos os teus filhos enfermos
que recorrem a ti
com a certeza de encontrar
uma Mãe que os acolhe
e os assiste com ternura.
Intercede, Mãe querida,
para que o teu Filho
cure as nossas enfermidades,
transforme as nossas lágrimas
em oração
e os nossos sofrimentos
em momentos de crescimento,
converta a nossa solidão
em contemplação
e a nossa espera em esperança,
nos fortaleça na hora da agonia
e transforme a nossa morte
em ressurreição.
Amém.
Pai Nosso;
Ave Maria;
Glória.
Saúde dos enfermos, rogai por nós!

domingo, 22 de março de 2020

Lembrar o exemplo do nosso Rei Dom Pedro V em hora de inquietude

A imagem pode conter: 1 pessoa, texto que diz "Onde ficará este povo, onde irá, se eu me retirar? DOM PEDRO' V PERANTEA EPIDEMIA DE FEBRE AMARELA QUE ASSOLOU LISBOA EM 1857-58"

"Em Outubro de 1857 atingiu a epidemia o auge (...), D. Pedro V não podia estar alheio às provações a que estava sujeito o seu povo: ele é a figura mais completa que podemos ver relativamente ao tempo em que entre nós esteve a febre amarela. O Rei não saiu de Lisboa, porque junto do perigo era a sua missão; ao pé dos seus súbditos atacados pelo mal é que lhes podia dar ânimo e coragem. Todos o aconselhavam a abandonar o perigo e ir (...) para longe da capital, onde pudesse estar seguro e sem possibilidades de contrair a moléstia (...), dizia o Rei «Se tenho alguma utilidade, é junto dos enfermos e dos pobres desprotegidos. Se sirvo para alguma coisa, será agora que o poderei mostrar» "

in Ruben Andresen “D. Pedro V, Um Homem e Um Rei”


sexta-feira, 20 de março de 2020

S.A.R., o Senhor Dom Duarte de Bragança, profere Conferência na Casa de Portugal de São Paulo

No dia 10 de Março de 2020, S.A.R., o Senhor Duque de Bragança, proferiu uma conferência na Casa de Portugal de São Paulo, perante os associados e numerosos convidados.
A sua apresentação foi feita pelo Dr. Durval de Noronha Goyos, a qual aqui se publica.






A conferência do Senhor Dom Duarte tratou das origens da Língua Portuguesa, da sua importância actual e das suas perspectivas futuras. Abordou, em particular, a situação de risco de enfraquecimento em certos países devido à falta do seu ensino e difusão televisiva.

De seguida a Direcção da Casa de Portugal condecorou o Senhor Dom Duarte com a Medalha de Honra ao Mérito do Infante Dom Henrique, a Comenda da Casa de Portugal. Curiosamente esta condecoração é muito mais antiga do que a equivalente instituída pelo Governo Português.
Durante a sua estadia no Brasil, acompanhada pela sua filha, a Infanta Dona Maria Francisca, visitou a mata amazónica na região do rio Negro.
No recife foi convidado para um jantar pelo Secretário de Estado da Cultura, Gilberto de Mello Freyre Neto, onde esteve com sua mãe, Cristina Suassuna, e outros membros desta família de conhecidos escritores, como Gilberto Freyre e Adriano Suassuna. Antes da morte destas ilustres personalidades, o Senhor Dom Duarte costumava visita-los quando vinha ao Brasil.
Devido às possíveis perturbações e no tráfico aéreo de Portugal, o regresso foi antecipado, impossibilitando uma visita do Senhor Dom Duarte ao Rio de Janeiro.

Fonte: Casa Real Portuguesa

quinta-feira, 19 de março de 2020

São José - Dia do Pai


Celebra-se hoje, 19 de Março, a Solenidade de São José. Neste dia, a Igreja, espalhada pelo mundo todo, recorda solenemente a santidade de vida do seu patrono.
Esposo da Virgem Maria, modelo de pai e esposo, protector da Sagrada Família, São José foi escolhido por Deus para ser o patrono de toda a Igreja de Cristo.
Seu nome, em hebraico, significa “Deus cumula de bens”.
No Evangelho de São Mateus vemos como foi dramático para esse grande homem de Deus acolher, misteriosa, dócil e obedientemente, a mais suprema das escolhas: ser pai adoptivo de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Messias, o Salvador do mundo.
“Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado e acolheu sua esposa” (Mt 1,24).
O Verbo Divino quis viver em família. Hoje, deparamos com o testemunho de José, “Deus cumula de bens”; mas, para que este bem maior penetrasse na sua vida e história, ele precisou renunciar a si mesmo e, na fé, obedecer a Deus acolhendo a Virgem Maria.
Da mesma forma, hoje São José acolhe a Igreja, da qual é o patrono. E é grande intercessor de todos nós.
Que assim como ele, possamos ser dóceis à Palavra e à vontade do Senhor.
São José, rogai por nós!

terça-feira, 17 de março de 2020

Mensagem do Chefe da Casa Real Portuguesa, S.A.R. o Senhor D. Duarte, Duque de Bragança, a propósito da crise de saúde pública emergente

MENSAGEM AOS PORTUGUESES

Durante as últimas semanas temos vindo a ser confrontados com um desafio que nunca imaginámos que nos pudesse acontecer. De forma inaudita o Coronavírus tem alastrado a grande velocidade pelo mundo, tendo chegado a Portugal nos últimos dias e com crescimento exponencial.
Inicialmente, ninguém quis acreditar no que nos estava a atingir, mas rapidamente os Portugueses adoptaram um comportamento notável para este enorme desafio que se nos coloca.
Milhares de cidadãos e empresas já tomaram medidas. Os cidadãos restringindo movimentos e recolhendo-se em casa, tendo iniciado um período de quarentena e isolamento social por sua voluntária iniciativa. Por seu lado, as empresas privadas e outras instituições deram um exemplo notável ao longo da última semana disponibilizando condições para os seus trabalhadores poderem exercer as suas actividades em casa, implicando uma maior segurança para as suas famílias, bem como dos seus colegas.
De forma admirável toda a sociedade está a organizar-se num enorme esforço para ultrapassar este perigo com a maior rapidez possível.
Ainda neste sentido, gostaria também de dar uma forte palavra de apreço e gratidão aos profissionais da saúde que estão na linha da frente deste combate, correndo enormes riscos pessoais, de forma muito profissional e generosa. Quero estender o agradecimento a todos os que, por motivos profissionais, ou por voluntariado, trabalham para a protecção dos Portugueses, nomeadamente forças de segurança civis e militares, bombeiros, farmacêuticos. Não esquecemos os sacerdotes e religiosas que nos ajudam nesta altura difícil, assim como todos aqueles que, pelo seu trabalho e risco da própria saúde, permitem o funcionamento do comércio de abastecimento alimentar.
O Governo, por seu lado, age com maior cuidado, tendo vindo a tomar as suas decisões, ponderadas, mas sempre alguns passos atrás da sociedade, que por sua iniciativa está sempre à frente.
Temos vindo a assistir a sucessivos apelos da população aos governantes para tomarem medidas mais rapidamente. Primeiro foi o encerramento das escolas, agora o pedido de declaração do estado de emergência e de iniciativas para apoiar as empresas e a estrutura económica.
É difícil compreender, na situação em que estamos a viver, como é possível convocar o Conselho de Estado que deverá definir o estado de emergência do país para meados desta semana. Todos os estudos realizados sobre este tipo de situações indicam que, quanto mais rapidamente e de forma radical actuarmos, mais depressa podemos conter o crescimento da pandemia e retomar a normalidade.
O comportamento exemplar dos Portugueses exige uma maior rapidez por parte dos seus governantes.
Situação como a recuperação do controlo das nossas fronteiras não deve continuar a ser protelada. Não podemos continuar a assistir a situações como a do navio que foi proibido de atracar em Lisboa e que seguiu para Espanha, tendo os seus passageiros vindo para Portugal por terra. Não podemos aguardar pela Europa quando a descoordenação é grande.
Não quero também deixar de referir que as empresas necessitam de um forte apoio por parte do Governo e que a resposta terá de ser também rápida. O País vai, com certeza, sobreviver a esta prova, mas precisamos ter empresas sólidas que nos permitam encarar o futuro com confiança.
O tempo é curto, a partir de hoje o IVA das empresas estará a pagamento e, até à próxima sexta-feira, as contribuições sociais. No início deste ano, em consequência do Corona Vírus, que já atingiu a China há mais tempo, as empresas não têm desenvolvido a sua actividade de uma forma normal, com consequências na sua rentabilidade. Assim, o Estado deverá assumir responsabilidades perante as empresas portuguesas, aliviando a sua tesouraria, permitindo pagamentos mais urgentes como são ordenados e fornecedores.
Ao longo dos últimos anos, as empresas portuguesas têm vindo a sofrer uma forte descapitalização o que dificulta a sua actividade para os desafios que se vão colocar. É necessário assegurar que as empresas vão ter capacidade para aguentar dois, três ou quatro meses de actividade reduzida para posteriormente voltarem a actuar. O bem-estar dos portugueses depende da capacidade de dar respostas rápidas. Os tempos são de excepção, por uma vez há que não olhar às despesas.
Os tempos que aí vêm poderão trazer-nos más notícias, temos que nos preparar para isso. Mas serão também uma oportunidade para o nosso desenvolvimento pessoal. Por outro lado, mostra-nos ainda a importância do nosso relacionamento com o próximo, das nossas famílias, dos nossos amigos, dos nossos vizinhos, etc. Na realidade dependemos todos uns dos outros, do nosso espírito de entreajuda e solidariedade. São momentos de adversidade como o que estamos a viver que nos fazem reflectir sobre o que temos e a que por vezes não damos valor.
A minha família e eu, como todos os Portugueses, vivemos com alguma apreensão os tempos que se aproximam, mas ao mesmo tempo com uma grande confiança de que, juntos, iremos todos superar este momento difícil e sair mais fortes. Estaremos em isolamento, à semelhança de todos e tentaremos tirar partido da melhor forma desta inusitada situação.
Os Portugueses foram sempre grandes nas épocas difíceis, demonstrando uma união e uma solidariedade, difícil de encontrar noutros povos. Foi assim em tantas situações ao longo da nossa história.
Tenho a certeza que é isso que mais uma vez faremos, respeitando as orientações dos responsáveis políticos. Vamos ser novamente heróis ajudando a salvar a nossa vida e a dos nossos mais próximos, ficando em casa com a calma, a responsabilidade e a serenidade que o momento exige.
Só assim conseguiremos vencer esta guerra, que nos toca a todos.
Finalmente, reitero o apelo ao Governo para a declaração do estado de emergência nacional, que permita declarar quarentena obrigatória a toda a população, salvo serviços essenciais, assim como a recuperação do controlo das fronteiras. São momentos extraordinários que requerem medidas de excepção máxima.
Nos momentos mais graves da nossa história sempre imploramos a Divina protecção e o maternal socorro de Maria, a Imaculada Conceição, que foi  proclamada nossa Rainha pelos legítimos representantes de todo o Povo português, solene decisão que nunca foi politicamente revogada. Assim a saibamos merecer.        
Termino com uma palavra de confiança no sentido de responsabilidade e de espírito de comunidade de todos os portugueses. Que ninguém se sinta sozinho nesta luta. Estamos, como sempre estivemos, juntos por um bem maior que é Portugal e os Portugueses.

Dom Duarte de Bragança
Sintra, 16 de Março 2020 

segunda-feira, 16 de março de 2020

Da República ocupante


Pode a República, dentro dos seus princípios, ou mesmo contra eles, curar estas doenças de aspecto mortal?

Não, porque estes três males [anarquia, impiedade e miséria], no seu somatório patológico, têm um só nome – a República; porque dos princípios republicanos, e da instituição republicana, essas doenças derivam, como a morte do veneno.

Regime baseado em ideias não-portuguesas, enraizado no maçonismo e no judaísmo internacional, essencialmente centralizador e tirânico, entronizador da ficção corruptora do voto, regime de tumultos por via das eleições, e de impotência nacional por efeito da acefalia governativa, – a República é a lenta ou catastrófica estrangeirização, é a traição nacional traduzida em lei escrita, a guerra civil e o assassinato infrene há dez anos, a alienação das colónias iminente, a soberania nacional periclitante.

Do voto que entronizou o «político», deriva irremediavelmente a constituição parasitária, alimentícia, depravadora da República, que desorganizou a riqueza nacional, desperdiçando o melhor dos seus valores, não praticando aqueles actos necessários de positiva gestão, empenhando ao estrangeiro a Terra portuguesa, e operando em favor dos piores portugueses, e quantas vezes de metecos qualificados, a usurpação de uma grande parte da velha riqueza legítima e nacional.

Sendo a democracia o governo da maçonaria, e, nos domínios do espírito, uma barbárie orgulhosa e sarapintada, a República tem-nos levado, apesar das suas escolas, a uma depressão incalculável de todos os valores intelectuais e morais.

Pela sua constituição parlamentarista e eleitoral, não pode a República, na pureza dos seus princípios, deixar de ser tendencialmente o governo do estrangeiro após a guerra civil, o trabalho servil após a fome e a miséria, a barbárie moral e mental pela impiedade e renúncia a Deus.

Também fora dos seus princípios, pela acção dos homens, a República não pode salvar o País. Nenhum regime vive fora dos seus princípios. E os princípios da República, não só afastam do poder os legítimos e os mais competentes, mas ainda tem o poder de corromper os homens e inutilizar as suas boas intenções. Além disso, não só os princípios negativos da República impedem a salvação nacional: removidos estes, são necessários os princípios e as virtudes positivas da Monarquia.

Faliu a república radical; faliu o presidencialismo conservador de Sidónio Pais, que, para não trair a República, atraiçoou inconscientemente o interesse nacional; há-de falir um novo Sidónio, se não tiver a envergadura de um Monk; haveria de falir miseravelmente qualquer parlamentarismo conservador, que somente significaria para a Pátria a morte numa paralisia humilhante, sem sobressaltos.

José Pequito Rebelo in jornal «A Monarquia», Janeiro de 1920.

Fonte: Veritatis

domingo, 15 de março de 2020

SAR, D.Duarte, Duque de Bragança participou numa Palestra sobre Lusofonia na Casa de Portugal em São Paulo

89671145_1621408961358848_8279773124992434176_n.jpg

SAR, o Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança participou numa Palestra sobre Lusofonia na Casa de Portugal em São Paulo. Também foi outorgada a Comenda da Ordem do Mérito Infante Dom Henrique ao Duque de Bragança.

89736676_1621409044692173_8311494812842852352_n.jpg


sábado, 14 de março de 2020

O ódio à racionalidade

É dura a tarefa de dar voz à serenidade em tempos de histeria – pior, quando o delírio parece aspirar à dignidade de ciência para, aproveitando o prestígio das instituições, converter-se em narrativa única, dominadora e totalitária. Mas de modo algum podemos render-lhes o campo.

Foi com grande surpresa que na edição de 2 de Março deste jornal fui confrontado com um texto intitulado O ódio ao presente, da autoria do meu prezado conterrâneo professor Elísio Macamo, reflexão motivada pela minha participação no “Prós & Contras” do passado dia 24, assim como da leitura de textos avulsos por mim assinados na página Facebook da Nova Portugalidade (NP), associação cívica e cultural da qual sou colaborador.

Lamentando não existir na nossa língua sentença equivalente daquela de Rivarol que até há anos encimava o pórtico das faculdades de humanidades – “Ce qui n'est pas clair n'est pas français” –, não posso deixar de lamentar no texto do professor Macamo a negação da clareza, concisão, objectividade, coerência e coesão requeridas por qualquer tentame ensaístico. Abstraindo expressões menos cordatas, e até argumentos que visam paralisar o antagonista, categorizando-o como inimigo da democracia e da espécie humana – para não referir o “ódio”, suprema fórmula infantil como inquisitorial que autoriza dar morte cívica a um homem, privá-lo de liberdade de expressão e criminalizar-lhe o pensamento –, o texto do professor Macamo revela três gravíssimas falhas: Macamo parece não ter seguido o debate; se o seguiu, parece não ter compreendido o que ali eu disse; Macamo quis fazer psicanálise ao meu discurso, recorrendo aos seus preconceitos e fantasmas para me endossar um metatexto que é negação do que ali tentei explicar a uma assembleia profundamente hostil a qualquer forma de expressão racional e ilustrada de argumentos. Aquela sala, dominada por uma miríade de associações de ativistas, não estava disposta a discutir, mas a repetir frases feitas e comboios de adjectivos. Nem faltou, caído do éter londrino via Skype, um professor com discurso autoritário para me lançar uma fatwa, tentativa gorada pelo facto de o mesmo se ter estatelado estrepitosamente, dando até provas de imperícia no mais chão conhecimento das cronologias.

Como raramente sucumbo à tentação do pólo irracional e teimosamente me atenho à racionalidade discursiva; como prescindo de psicologizações que reduzem a complexidade a combustões emocionais, obriga-me a circunstância a prestar os seguintes esclarecimentos ao meu compatrício professor Elísio Macamo:

Falso debate

Discreteia o professor Macamo sobre o meu suposto entusiasmo pela “afirmação dos mais fortes sobre os mais fracos” e pela “moral de desigualdade” que cultivaria. Ora, se há evidência em todos os meus escritos é precisamente a denúncia de doutrinas e práticas que justificam a segregação [dos fracos e dos pobres] por invocação da “espontaneidade”, do “struggle for life” ou da “lei da natureza”, porquanto o homem possuiu uma segunda natureza cultural e as comunidades humanas não são termiteiras. O professor Macamo diz – e diz muito bem – que não sou racista, pois que a Portugalidade é expressão do universalismo português entendido como fraternidade de povos destribalizados constituídos em nação de nações, como há meses lembrou o professor Alexandre Franco de Sá em colóquio realizado pela Nova Portugalidade na Casa de Goa. A “racialização”, sim, é obsessão e bordão tão caro aos comunitaristas inclinados ao factor rácico tomado como sobredeterminante na arrumação antropológica e da vida social.

O que insisti dizer nas poucas intervenções em que me foi possível concluir um raciocínio foi, precisamente, o de que o debate sobre o “racismo” é um falso debate. Ser-se negro e mulher ou branco e homem, nada quer dizer. A origem racial, assim como o género, não são categorias sociais. Não há conivência económica, social e política alguma entre a Dra. Joacine Katar Moreira (JKM) e uma mulher portuguesa negra originária de um bairro do subúrbio da outra margem do Tejo que se levanta às cinco da madrugada, apanha o cacilheiro às 5h30, desembarca no Terreiro do Paço às 6h, aguarda meia hora na fila para o autocarro e chega ao emprego às 7h para limpar o gabinete de investigadora em Ciências Sociais da Dra. JKM, mulher com formação superior ocupada no terciário. A questão do “racismo” está, pois, mal colocada. É tudo uma questão de classe e posição social, pelo que a análise adulta deve remeter para as condições sociológicas objectivas de status, rendimento e propriedade. No fundo, tais bandeiras só podem concitar entusiasmo a uma certa burguesia empregada no terciário. Discussões sobre raça e género impedem que se encare a realidade social e política de frente, pelo que são alienação, animação cultural, mas também comunitarização vitimizadora que muitas vezes permite manter negócio político. É uma conspiração anti-democrática que destrói o espaço da Cidade. Enquanto estiverem os “activistas” siderados por tais temas, não se fala na pobreza, na hemorragia da emigração da nossa juventude, na falta de soberania do país, no desmantelamento da nossa indústria e na vergonha de termos a população activa a servir copos a turistas ou em call-centers a vender serviços insignificantes.

A tradição colonialista é recente

No debate, lembrei que historicamente houve um racismo doutrinário branco, o qual está mais relacionado com a tradição intelectual das esquerdas (as Luzes, a Enciclopédia, o Evolucionismo, o Progresso) e que chegou tardiamente a Portugal através de Oliveira Martins, mas que encontrou expressão política através do general Dantas Baracho, deputado por Angola no fim da monarquia liberal e, depois, republicano. Afinal, a mudança da Secretaria de Estado da Marinha e do Ultramar para Ministério das Colónias (1911), a Lei do Indígena (1917) e até o Acto Colonial de 1930 foram inspirados pelo modelo centralista, vertical, eurocêntrico e progressista da mission civilisatrice do colonialismo francês da III República de Jules Ferry. Tudo isso foi breve, pelo que a poderemos balizar entre finais do século XIX e o início da década de 1960. Onde antes houvera “cidadania antiga portuguesa” e um império policêntrico – em África mandavam elites negras e mestiças, pois brancos não os havia até finais do século XIX – passou a haver quadrícula colonial, corpo administrativo e funcionários metropolitanos que se sobrepuseram àquelas elites locais, por sinal as mesmas que hoje, de Cabo Verde a Angola e São Tomé, são viveiro para recrutamento de políticos, generais, diplomatas e administradores. Sim, durante séculos Portugal foi uma nação africana.

O terrorismo cultural


O que devia, sim, incomodar o meu prezado conterrâneo professor Elísio Macamo é a destruição do espírito académico. Vivemos numa época em que a Universidade, a maior glória da civilização medieval europeia, está entregue à glossolalia de “novos saberes” que despedaçam séculos de tradição racional ocidental, em que se decreta o que deve ser e não deve ser lido – obras de Voltaire, Goethe, Rousseau, Schopenhauer, Dickens e Mark Twain retiradas das estantes das bibliotecas por conterem matéria considerada racista, etnocêntrica, xenófoba, sexista, misógina e “patriótica” – e até fontes clássicas por excelência da literatura ocidental expurgadas do currículo dos cursos de História da Literatura em Oxford. A defesa do património civilizacional europeu coloca-se como prioritária ante os novos bárbaros. Perante o vírus da histerização que lembra a caça às bruxas e a matança dos gatos de Paris, precisa-se com urgência de políticas firmes que impeçam a transformação da Universidade em Nave dos Loucos.

Por essa posição de firmeza em favor da racionalidade, do rigor e de um patriotismo inclusivo e aberto, que a portugueses de todas as cores e credos possa agregar numa narrativa comum, continuaremos eu e a NP a desenvolver todos os esforços. É dura a tarefa de dar voz à serenidade em tempos de histeria – pior, quando o delírio parece aspirar à dignidade de ciência para, aproveitando o prestígio das instituições, converter-se em narrativa única, dominadora e totalitária. Mas de modo algum podemos render-lhes o campo.

Miguel Castelo-Branco

Fonte: Público

sexta-feira, 13 de março de 2020

SAR, D. Afonso de Bragança na apresentação do livro "O Que é o Islão?", da autoria do Professor Amaro Monteiro

IMG 9153 resize

Em 5 de Março de 2020, pelas 18H15, teve lugar, nas instalações do Palácio da Bemposta – Sala D. João IV, a apresentação do livro “O que é o Islão?”, da autoria do Professor Doutor Fernando Amaro Monteiro e editada pela Letras Itinerantes.
A cerimónia teve inicio com a intervenção do Comandante da Academia Militar, Major-General João Vieira Borges, seguindo-se a apresentação da obra por parte do Dr. Nuno Carvalho da editora Letras Itenerantes e por fim usou da palavra o autor da obra, Professor Doutor Fernando Amaro Monteiro.
IMG 9150 resize

quinta-feira, 12 de março de 2020

Dom Manuel II e... «a ética republicana»

Referência de Nuno Resende a livro de Alexandre Cabral que eu desconhecia — Cartas da Aldeia, Coimbra, 1923 — levou-me a folheá-lo um dia destes na Biblioteca Nacional. É um curioso e relevante depoimento dos primeiríssimos meses da I República, vividos com perplexidade e provavelmente algum nojo pelo seu autor, que na verdade sobre eles escreveu nas primeiras páginas de O Liberal sob pseudónimo, «Frei João Campello», uma prudência preventiva por estar o seu autor certamente receoso de represálias por grupos de mão sem qualquer controlo policial. Reunidas em livro mais de uma década depois, um período em que de tudo um pouco aconteceu, de mal a pior, e falecido Alexandre Cabral em 1919, represálias já não podiam ser cometidas contra o autor desse registo perene dum tempo de má memória que contudo convém manter vivo, quanto mais não seja para repudiar todas as mitificações de que foi alvo — qual papel muito colorido e brilhante embrulhando rebuçado de péssima qualidade.
São duas pequenas histórias edificantes, a primeira caracterizando a honestidade do jovem D. Manuel II e o «direito de conquista» (sic) que levou políticos republicanos a usurparem para sua comodidade meios de transporte de propriedade pessoal do monarca exilado, e a segunda mostrando-nos até que ponto foi — e como sabemos, ainda vai — a propaganda republicana para tentar denegrir as figuras régias e o monarquismo. Mas Cabral também não poupa — e fez bem — aqueles que, dum dia para o outro, e por pura conveniência ou cálculo, dobraram a espinha ao regime criado pelo golpe militar de 5 de Outubro de 1910, revelando «falta de hombridade e de carácter».
Vasco Rosa
AC Retrato.jpg
Dívidas reais
 El-Rei D. Manuel mandou pagar aos seus fornecedores de Lisboa as dívidas da casa real, montantes a alguns contos de réis. Quer isto dizer que os grandes da terra se irmanam com as pessoas modestas nestes casos ordinários da vida, como são o de estar devendo ao alfaiate e ao merceeiro.
Significa também esse facto que era pouco desafogada a vida financeira do monarca, vendo-se forçado a trazer em atraso o pagamento do arroz e do calçado.
Pois, leitor, presumia muita gente que a lista civil, unida aos réditos da Casa de Bragança, faziam nadar em ouro os cofres del-rei.
Puro engano. O morgadio de Bragança, agora extinto certamente e para o futuro divisível, não excede o rendimento anual de 35 contos de réis, embora muita gente suponha que este igualava a verba da lista civil.
E, assim, sendo tamanhas as despesas ordinárias e as de representação da casa real, acrescidas ainda da anuidade do desconto para amortização das dívidas del-rei D. Carlos à nação, não me surpreende que sua majestade, em vez de acumular tesouros inestimáveis, o que a fantasia popular imagina que é costume invariável dos reis, tivesse o seu nome inscrito, em antecedência de longo rol de géneros fornecidos, em várias lojas de secos e molhados.
Sem querer devassar a vida íntima do último rei de Portugal, tão sagrada e respeitável como a de qualquer dos seus antigos súbditos, creio que não me engano presumindo que, para fazer de pronto o pagamento de alguns contos de réis aos seus credores, o senhor D. Manuel teve de recorrer também ao crédito, continuando a ser devedor em outra parte.
É de justiça que o governo provisório apressse os inventários dos paços e propriedades reais e apure com rapidez o que lá existe da nação, para entregar a el-rei o que pertence ao seu património pessoal. Dessa forma os senhores ministros terão de tomar tipóia da Companhia, quando restituírem ao seu dono as carruagens e automóveis que têm usufruído por direito de conquista, mas o monarca deposto poderá dispensar a hospedagem de seu tio o sr. duque de Orléans, sem ter de ensinar meninos como seu terceiro avô, Luiz Filipe, ou de receber tributos voluntários dos súbditos fiéis, como sucedeu a seu quarto tio D. Miguel de Bragança, que o antecedeu no trono e no exílio.
Só quatro!
Fez saber a república às nações estrangeiras que no dia de ano novo apenas quatro telegramas foram expedidos daqui à família real exilada; e daí pretende deduzir, não só a firmeza das novas instituições, mas que toda a nação voltou as costas ao antigo regime.
Se o facto foi verdadeiro, quem é obrigado a velar pelo bom nome do país tinha o dever intuitivo e rigoroso de ocultá-lo.
Se isso é exacto, significa muita falta de pundonor e de brio.
Então nem ao menos os antigos ministros da coroa, nem a casa civil e militar do monarca, se haviam de recordar dele nesse dia?
Pois de tanta gente que há um ano dobrava a espinha em derreada mesura, não haveria ao menos uma dúzia a lembrar-se de que a realeza é mais respeitável na desgraça?
Só quatro!
Muitos mais eram os camaristas, veadores, ajudantes de campo e oficiais às ordens em serviço. Às dúzias se contam os ministros de estado honorários e os oficiais-mores, os marqueses e grã-cruzes. Aos centos os outros titulares, os conselheiros del-rei, os fidalgos da sua casa, os comendadores e cavaleiros das ordens militares e civis.
E só quatro!
Pois todos esses que deveram um benefício ou uma atenção ao soberano, todos esses que viveram na sua honrosa intimidade, todos os que tantas vezes se curvaram para beijar-lhe a mão, todos o esqueceram só porque a revolução o depôs e já não pode distribuir graças nem mercês?
Mas então essa gente, quando levava ao Paço as suas homenagens, não ia cumprir um dever de cortesia para com o chefe da nação, como todos nós os cumprimos naturalmente para com as pessoas respeitáveis das nossas relações: iam impelidos por um sentimento desprezível de humildade bajuladora e servil. Iam como escravos que se rojam, e não como homens livres que até quando se inclinam respeitosos, aprumam altivamente a cabeça.
Só quatro?! Não pode ser.
Insidiosa ou inexacta, não pode ser verdadeira a notícia.
Deve sabê-lo, leitor, se lê jornais do país e do estrangeiro. Dois, franceses, tenho eu aqui, onde se diz que sm el-rei D. Manuel recebeu em Wood Norton mais de 300 telegramas de Portugal; e tratam o soberano deposto muito naturalmente por majestade e como rei: não lhe chamam, como o Diário de Notícias, D. Manuel de Bragança.
Isto é que deve ser a verdade.
Os reis, como toda a gente, estão sujeitos a errar; e mais o estava o senhor D. Manuel pela sua idade juvenil e pelos maus conselheiros que se lhe acercaram. Mas não há dúvida que foram sempre honestos os seus propósitos e foi sempre delicado e atencioso para com todos. Que assim não fosse, os que lhe levaram cumprimentos ao trono, em dias de recepção, mais rigoroso dever tinham agora de endereçar-lhos, por isso mesmo que da sua mão dadivosa de soberano já não pende a cornucópia régia das mercês.
Os que espalharam a notícia, felizmente inexacta para honra do país, devem ser os mesmos que narraram com jubiloso aplauso a adesão fácil da nação às novas instituições, esquecidos de que esse facto foi um sintoma triste de falta de hombridade e de carácter.
Quem se preza não muda de partido com a natural facilidade com que se muda de casaco.
Os que ontem lutaram contra a república não dão bom conceito de si próprios acamarando-se hoje com ela, só porque do mundo problemático das utopias ou das hipóteses passou a ser realidade distribuidora das graças e prebendas.
Alexandre Cabral
De Cartas da Aldeia, Coimbra Editora, 1923, pp. 119-21, 191-95