quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Mexe, mexe que eu gosto!

 


O Conselho Superior de Magistratura (CSM) ensaia retirar o processo EDP ao juiz Carlos Alexandre, do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC, vulgo Ticão), noticia o Observador, de 22-11-2021. O CSM, órgão de gestão da magistratura, tem maioria de nomeados políticos.

Como foi concedido ao juiz Ivo Rosa ficar apenas com a instrução do processo BES e Octapharma (ambos com relação também a José Sócrates), os outros processos que estavam a seu cargo foram redistribuídos a outros juízes do TCIC. Ao juiz Carlos Alexandre coube o processo EDP.

Ora, a instrução do processo EDP está a expor personalidades ligadas ao poder socialista, nomeadamente António Mexia. Nesse caso, a prisão preventiva domiciliária do ex-ministro socialista Manuel Pinho (alternativa à caução de seis milhões de euros, em dinheiro ou bens) determinada por Carlos Alexandre, não parece ser o motivo fulcral do incómodo do poder socialista, mas antes uma eventual pronúncia do ex-presidente da EDP, aliado de António Costa em grandes negócios de Estado, como o gigaprojeto da central de hidrogénio em Sines.

O alargamento do Ticão para oito juízes, fundindo-o com o Tribunal de Instrução Criminal (de pequena instância) de Lisboa, na terceira versão de um tribunal que começou por ter apenas um (Fátima Mata-Mouros), depois substituída por Carlos Alexandre, e a seguir dois (com a chegada de Ivo Rosa, na “reforma” da autoria da ministra Paula Teixeira da Cruz, no governo Passos Coelho), não parece suficiente para satisfazer os desejos do poder: imunidade de condição, isenção de prestação de contas, impunidade.


António Balbino Caldeira

Fonte: Inconveniente


quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Carta aos católicos de todo o Mundo - Quem, entre vós, se o seu filho lhe pedir pão lhe dará uma pedra? (Mt 7, 9)

 


Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

Foi com imensa tristeza que soubemos da decisão do Papa Francisco de revogar o Motu Proprio Summorum Pontificum promulgado pelo Papa Bento XVI, a 7 de Julho de 2007.

Após décadas de lutas e divisões, esse Motu Proprio foi para todos os fiéis católicos uma obra de paz e reconciliação.

Roma viola a palavra do Papa Bento XVI, com brutalidade e intransigência, bem longe de «Ajudar cada um a encontrar a sua própria maneira de participar na comunidade eclesial, para que se sinta objecto duma misericórdia “imerecida, incondicional e gratuita”» (Amoris Laetitia, nº 297).

A vontade manifestamente afirmada no Motu Proprio Traditionis Custodes, de 16 de Julho de 2021, é a de ver desaparecer da Igreja a celebração da Missa de São Pio V.

Esta decisão enche-nos de consternação. Como entender essa ruptura com o Missal tradicional, obra “venerável e ancestral” da “lei da fé”, que santificou tantos povos, tantos missionários e ajudou a fazer tantos santos? Que mal fazem os fiéis que simplesmente desejam rezar como os seus pais e avós o fizeram durante séculos? Acaso se pode hoje ignorar que a Missa Tridentina converte muitas almas, atrai grandes assembleias, jovens e fervorosas, suscita muitas vocações, deu origem a seminários, comunidades religiosas, mosteiros, e é a coluna vertebral de inúmeras escolas, obras juvenis, catequeses, retiros espirituais e peregrinações?

Muitos de vós, irmãos católicos, sacerdotes, bispos, compartilharam connosco a vossa incompreensão e a vossa profunda dor: obrigado pelos vossos numerosos depoimentos de apoio.

Favorecer a paz da Igreja para construir a unidade na caridade, mas também levar os católicos a recuperarem o legado que lhes é próprio, fazendo com que o maior número possível de pessoas possa descobrir as riquezas da tradição litúrgica, tesouro da Igreja, tais eram os objetivos perseguidos pelo Summorum Pontificum. O Papa Bento XVI vê agora a sua obra de reconciliação ser destruída ainda durante a sua vida.

Numa época impregnada de materialismo e dilacerada por divisões sociais e culturais, a paz litúrgica parece-nos uma necessidade absoluta para a preservação da fé e da vida espiritual dos católicos num mundo que está a morrer à sede. A restrição drástica da autorização para celebrar a missa na sua forma tradicional vem reacender a desconfiança, a dúvida e as incompreensões, anunciando assim o retorno duma disputa litúrgica muito dolorosa para o povo cristão.

Aqui afirmamos solenemente, diante de Deus e dos homens: não deixaremos que ninguém prive os fiéis deste tesouro que, antes de mais, é um tesouro da Igreja. Não ficaremos quietos e inativos perante a asfixia espiritual das vocações preparada pelo Motu proprio Traditionis Custodes para os seminários tradicionais.

Não privaremos os nossos filhos desse meio privilegiado de transmitir a fé que é a fidelidade à liturgia tradicional.

Pedimos ao Papa Francisco que reconsidere a sua decisão de revogar as principais disposições do Motu Proprio Summorum Pontificum e que restabeleça a plena liberdade de celebrar a missa tridentina, para a glória de Deus e o bem dos fiéis.

8 de Setembro, festa da Natividade da Virgem Maria


Para subcrever esta carta clique AQUI


Sobre esta carta:

Esta carta aberta aos católicos de todo o mundo foi escrita por dezenas de personalidades de todo o mundo que estão ligadas à Missa tradicional (quer sejam “tradicionalistas” ou não, e até mesmo se são católicos praticantes ou não).

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Não precisamos de pragmáticos

 


Surgiu no nosso tempo uma moda muito peculiar: a ideia de que, quando as coisas estão a correr muito mal, do que nós precisamos é de um homem pragmático. Ora, é bastante mais correcto afirmar que, quando as coisas estão a correr muito mal, do que nós precisamos é de um homem que não seja pragmático; precisamos, pelo menos, de um teórico. Um homem pragmático é um homem que só conhece a prática do dia-a-dia, o modo como as coisas habitualmente funcionam. Quando as coisas não funcionam, temos que recorrer ao pensador, ao homem que tem algum conhecimento da razão pela qual elas funcionam. É má ideia tocar harpa enquanto Roma está a arder; mas é uma excelente ideia estudar hidráulica enquanto Roma está a arder.

G. K. Chesterton in «What's Wrong with the World», 1910


Fonte: Veritatis

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Mensagem do Arcebispo Carlo Maria Viganò para o Santo Natal

 


18 de Dezembro de 2021
Sabbato Quattuor Temporum Adventus

«Octavo Kalendas Januarii, Luna undetricesima, innumeris transactis sæculis a creatione mundi, quando in principio Deus creavit cælum et terram, et hominem formavit ad imaginem suam; permultis etiam sæculis ex quo post diluvium Altissimus in nubibus arcum posuerat signum fœderis et pacis; a migratione Abrahæ, patris nostri in fide, de Ur Chaldaeorum sæculo vigesimo primo; ab egressu populi Israël de Ægypto, Moyse duce, sæculo decimo tertio; ab unctione David in regem anno circiter millesimo; hebdomada sexagesima quinta juxta Danielis prophetiam; Olympiade centesima nonagesima quinta; ab Urbe condita anno septingentesimo quinquagesimo secundo; anno imperii Cæsaris Octaviani Augusti quadragesimo secundo, toto orbe in pace composito, Jesus Christus, æternus Deus æternique Patris Filius, mundum volens adventu suo piissimo consecrare, de Spiritu Sancto conceptus   novemque post conceptionem decursis mensibus  in Bethlehem Judae nascitur ex Maria Virgine factus homo. 
Nativitas Domini nostri Jesu Christi secundum carnem».
Martyrologium Romanum, 25 Dec.

Como todos os anos, no ciclo das estações e da História, a Santa Igreja celebra o Nascimento, segundo a carne, de Nosso Senhor Jesus Cristo, eterno Deus e Filho do Pai eterno, concebido, por obra do Espírito Santo, da Virgem Maria. Com as palavras solenes da liturgia, o Nascimento do Redentor impõe-se à humanidade, dividindo o tempo em um antes e um depois. Nada será como antes: a partir daquele momento, o Senhor encarna-se para cumprir a obra da Salvação e arrebata definitivamente da escravidão de Satanás o homem caído em Adão. Isto, queridos filhos, é o nosso Great Reset, com o qual a Divina Providência restaurou a ordem rompida, pela antiga Serpente, com o Pecado Original dos nossos Progenitores. Um Reset do qual são excluídos os anjos apóstatas, e o seu líder Lúcifer, mas que concedeu a todos os homens a graça de poderem beneficiar do Sacrifício do Deus feito homem e recuperar a vida eterna a que estavam destinados desde a criação de Adão.  

Que admirável acto de Misericórdia, para criaturas rebeldes desde o início, da parte do seu Criador. Que Caridade divina, que concedeu ao homem desobediente o resgate da sua infinita culpa aceitando a oferta do Seu divino Filho na Cruz. Que divina Humildade, que respondeu ao orgulho do homem com a obediência da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, encarnada 
propter nos homines et propter nostram salutem. Esta é a verdadeira Nova Ordem, querida por Deus e destinada a durar na eternidade dos séculos, após as mil batalhas de uma guerra em que o eterno Derrotado procura impedir que a glória da Majestade divina seja partilhada por nós, pobres criaturas mortais. Este é o triunfo d’Aquele que não se contenta em criar o homem nas Suas perfeições e em conceder-lhe a Sua amizade, mas depois de O ter traído, entregando-se como escravo ao Demónio, decidiu comprá-lo de volta – redemptio é, precisamente, a instituição do Direito Romano com o qual o escravo é redimido e se torna livre – ao preço do Preciosíssimo Sangue do Seu Filho Unigénito. E é também o triunfo da Mãe de Deus, que no Mistério da Encarnação deu à luz o Redentor, aquele Sagrado Menino destinado a sofrer e a morrer por nós. Ela que, no Protoevangelho, foi prometida como vencedora da Serpente, na eterna inimizade entre a Sua descendência e o Inimigo.      

Por esta razão, foi recolhido o povo que foi escolhido; por esta razão, foi conduzido para a terra prometida. Foi por isso que o Espírito Santo inspirou os Profetas, indicando o tempo e o lugar deste Nascimento. Foi por isso que os Anjos cantaram o seu Glória sobre a gruta e que os Magos seguiram a Estrela para adorarem o Menino envolto em faixas como o filho de um rei. Foi por 
isso que a Virgem cantou o seu Magnificat e o pequeno São João Baptista estremeceu no ventre de Santa Isabel. Foi por isso que Simeão pronunciou o Nunc dimittis, segurando entre os braços o Messias prometido. 

Veni, Emmanuel: captivum solve Israël. Vinde, ó Emanuel: libertai o Vosso povo cativo. Libertai-o também hoje, tal como o libertastes com o Vosso santíssimo Nascimento e com a Vossa Paixão e Morte. Libertai a Santa Igreja revelando os falsos pastores e os mercenários, como revelastes a inveja dos Sumos Sacerdotes e os seus silêncios sobre as Profecias messiânicas, escondidas dos simples. Libertai as Nações dos maus governantes, da corrupção, da escravidão do poder e do dinheiro, da subserviência ao Príncipe deste mundo, da mentira da falsa liberdade, do engano de um falso progresso, da rebelião contra a Vossa santa Lei. Libertai cada um de nós das suas misérias, do pecado, do orgulho, da presunção de poder salvar-se sem Vós. Livrai-nos da doença que aflige as nossas almas, da peste dos vícios que empestam a nossa vida, da ilusão de podermos vencer a morte, que é a recompensa da nossa rebelião. Pois só Vós, Senhor, sois o verdadeiro Libertador; só em Vós, que sois a Verdade, seremos livres, veremos cair as correntes que nos prendem ao mundo, à carne e ao Diabo.           

Veni, o Oriens. Vinde, ó Oriente: afastai as sombras da noite e dissipai as trevas nocturnas. Veni, Clavis Davidica. Vinde, ó Chave de David, abri a pátria celestial; tornai seguro o caminho dos céus e fechai a porta do Inferno. Veni, Adonai. Vinde, ó Poderoso, que ao Vosso povo, no Sinai, destes a Lei do alto, na majestade da glória. Veni, Rex gentium. Vinde, ó Rei das Nações, reinar sobre nós, Príncipe da paz, Anjo do Grande Conselho. Vinde e descei no tempo e na História, abalai esta infernal Torre de Babel que construímos ao desafiar-Vos na Vossa Majestade.      

Vinde, Senhor, porque nestes dois anos de loucura pandémica compreendemos que o Inferno não consiste tanto nos sofrimentos do corpo, mas no desespero de saber-Vos distante, no Vosso silêncio, no deixar-nos afundar no horror surdo da Vossa ausência.           

E seja bendita a Vossa Santíssima Mãe e Mãe nossa, que deixastes ao nosso lado nestes dias terríveis como nossa Advogada, para que na visão deste inferno na terra possamos encontrar o remédio espiritual com o qual acolher-Vos na nossa alma, nas nossas famílias, nas nossas Nações, devolvendo-Vos aquela coroa que Vos usurpámos.    

Abençoai, ó Rei Menino, todos aqueles que se deixarão conquistar pelo Vosso amor, pelo qual não hesitastes em encarnar-Vos e em morrer por nós. Que a este Amor divino possa responder o espanto agradecido daqueles que, mortos em Adão, renasceram em Vós, novo Adão; daqueles que, caídos com Eva, em Maria, nova Eva, podem novamente levantar-se.  

Assim seja.     

 Carlo Maria Viganò, Arcebispo 

Fonte: Dies Irae


terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Ser Monárquico (Não) É…

 


Não raras vezes surge uma névoa que gera a confusão sobre o que é “ser Monárquico”. Se é certo que isso acontece na opinião pública por mera desinformação, existem mais variáveis que contribuem para isso.

Uma dessas circunstâncias resulta, sem sombra para dúvidas, da propaganda anti-monárquica que começou ainda antes da queda da Monarquia cimentando a concepção sem fundamento, às vezes mesmo sem nexo, que um monárquico é um aristocrata, um indivíduo que julga pertencer a uma casta superior que paira sobre os demais. Nada mais falso, pois essa ideia baseia-se, tão-somente, em mentiras preenchidas com factos mitológicos e com a imaginação daqueles que descrevem a História através da sua revisão, porque pretendem dessa forma alcançar uma vantagem para si. O Revisionismo histórico é a reinterpretação da História, reescrevendo-a e descrevendo os factos históricos com imparcialidade e/ou obscuridade. Segundo o criador do positivismo Augusto Comte, "a História é uma disciplina fundamentalmente ambígua" e portanto, passível de várias interpretações – os republicanos estudaram bem a lição de um dos seus mestres. De facto, a Verdade é apenas a crença que subsistiu.

Devido ao uso de instrumentos como a censura, devido a frequentemente envolver interesses políticos de pessoas, tornou-se quase impraticável o bom uso da realidade histórica para mostrar a Verdade! Ora os esteios da História não podem apoiar-se sobre motivos, às vezes desconexos, preenchidos com episódios alegóricos e com a inventiva dos escribas que num dado momento ocupam o poder.

É pois, necessário, dir-se-ia premente, que termine a desinformação de que fazem os Monárquicos alvo.

Monárquico não é sinónimo de aristocrata, pois a Monarquia é inclusiva e não exclusiva; não é um clube privado para ensimesmados, mas um modelo onde cabem todos, independentemente de condição social, sexo, estirpe, ideologia política. A Monarquia tem as portas escancaradas para a colectividade, não é um grémio de fidalgos, - lembremos o provérbio grego: ‘ninguém liga à música escondida’ -, mas uma Agora onde cada um faz parte do todo e o todo só faz sentido com cada indivíduo. Não pertencemos a uma elite de pessoas. Acreditamos que a medida da riqueza de cada um é o Espírito, tal como a do calçado é o pé! E, ao contrário, antes de sermos privilegiados, não raras vezes somos desprezados pela opção pela Causa da Monarquia.

Não somos monárquicos por snobismo de ADN como diz o equívoco que os republicanos instalaram na mente do Povo, apenas acontece que na Família de alguns monárquicos houve antepassados que ou fizeram parte da história ou participaram na construção do País ou na administração do Estado, e isso é para os seus descendentes motivo de orgulho familiar que não deve ser confundido com soberba, ou com pretensões de fidalguia ou de superioridade de sangue: trata-se de não renegar a sua Família assim como os demais não renegam a sua. É orgulho e fascínio por quem, em muitos casos, tanto contribuiu para o engrandecimento da Nação portuguesa.

De resto, como já Oliveira Martins o lembrava no século XIX “dá-se o caso tão frequente de se achar hoje nos solares aristocráticos a mais genuína elegância aliada à quase pobreza, ao passo que os palácios ricaços ostentam a sua opulência de mau gosto”. Sim, não são monárquicos a alardear o dinheiro na cara do Povo, este sofre do desprezo e do esbulho mas é na mão dos plutocratas e da oligarquia burguesa!

Assim, ser Monárquico não é preconizar o regresso de punhos de renda, de cabeleiras ou perucas similares e de criados de libré, nem do fidalgo carregado de insígnias, comendas, condecorações e cachucho com brasão, a desfilar de capa e espada; nem o regime da Monarquia Absoluta, nem o Feudalismo, mas uma Monarquia em que todos serão iguais e à cabeça um Rei – o primus inter pares -, o guia que orientará o País. Claro que Portugal é único e como tal devem ser respeitadas as idiossincrasias do ser português pelo que não se pretende decalcar um modelo de um outro país directamente para o nosso - para isso bastou o transplante do modelo da revolução francesa pelos revolucionários da república velha -, mas sim em conjunto encontrar a melhor solução.

Se hoje, “tão bons são uns como outros!”, há que procurar a solução noutro regímen. O regime de Monarquia evidencia-se como a resposta certa para o tempo incerto, é o único que funciona como símbolo de estabilidade e coesão nacionais e é autónomo das mudanças na política partidária. Os Monárquicos não têm um partido, pois qualquer um, independentemente da ideologia, pode ser monárquico: a Monarquia é suprapartidária.
Mas se com a Restauração da Monarquia não se pretende um regresso ao passado, não renegamos o passado do Portugal Maior.

A Monarquia a ter deve passar por uma combinação de um monarca forte, com umas Cortes (Parlamento), com uma democracia mais directa e uma descentralização política que dê às Comunidades intervenção e autonomia.

É preciso, também, o sentido de Missão que só um Rei possui - uma missão que é para a vida; e quando o Rei partir o Seu Filho, aclamado Rei, instruído nos mesmos valores de seu Pai, seguirá a obra com o mesmo desígnio de servir a Nação, acrescido das mais-valias que a substituição geracional aporta.

Miguel Villas-Boas

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Arcebispo Viganò sai em defesa do Cardeal Müller

 



O portal Dies Iræ publica, em exclusivo para língua portuguesa e a pedido do próprio, uma declaração que o Arcebispo Carlo Maria Viganò, antigo Núncio Apostólico, publicou, ontem, em defesa de Sua Eminência o Cardeal Gerhard Ludwig Müller, antigo Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que tem sido ferozmente perseguido pelas suas posições contra a presente farsa pandémica.

+

16 de Dezembro de 2021

«“Effathá”, que quer dizer “abre-te”».
Mc 7, 34


Não me admira que a verdade provoque reacções descompostas naqueles que propagam o erro que a essa se opõe. As reacções dos fariseus às palavras de Nosso Senhor – começando com os gestos teatrais de Caifás na proclamação da própria divindade da parte do Messias – traem sempre a raiva dos mentirosos e das pessoas de má-fé diante da afirmação da verdade e da honestidade intelectual. E esta indignação, que é tão forçada como desmotivada, uma vez que não existem argumentos para rebater a refutação, é frequentemente transferida para o interlocutor, numa tentativa de o ridicularizar, de o fazer parecer louco ou um perigoso criminoso. Os exemplos a que pudemos assistir de quem tenha colocado em questão qualquer uma das pedras angulares da narrativa oficial sobre o COVID são a confirmação de uma atitude intolerante por parte daqueles que mentem e, ao mesmo tempo, da acusação de intolerância contra aqueles que se limitam a declarar a verdade óbvia.           

O virologista que afirma a ineficácia da vacina e evidencia os graves conflitos de interesse nos funcionários responsáveis pela autorização dos fármacos ou das terapias; o deputado que se opõe à oportunidade de impor bloqueios depois de estes se terem revelado inúteis para conter a pandemia e desastrosos para a economia da Nação; o jurista que critica as normas impostas pelo Governo em violação da Constituição; o pároco que, desde o púlpito, questiona a moralidade de um soro experimental produzido com células de fetos abortados; o intelectual que assinala que o plano criminoso do Great Reset, promovido pelo World Economic Forum e a Agenda 2030 das Nações Unidas, está a ser pontual e perturbadoramente implementado precisamente devido à emergência pandémica auspiciada, desde 2009, por Jacques Attali, no semanário francês L’Express, são considerados, pelo Sinédrio globalista, como hereges, indignos de fazer perguntas sobre os novos dogmas da religião sanitária definidos ex cathedra pelos especialistas pagos pela BigPharma. Podemos imaginar que honestidade e imparcialidade podem ser asseguradas pelos controladores pagos pelos controlados.    

De nada serve citar os escritos dos expoentes do deep state em que confessam descaradamente o seu projecto criminoso. Tomemos como exemplo a citação de Jacques Attali: «A história ensina-nos que a humanidade só evolui significativamente quando tem verdadeiramente medo: depois desenvolve inicialmente mecanismos de defesa; por vezes intoleráveis (dos bodes expiatórios e totalitarismo); por vezes inúteis (da distracção); por vezes eficazes (das terapias que negam, se necessário, todos os princípios morais precedentes). Então, uma vez terminada a crise, o medo transforma estes mecanismos para os tornar compatíveis com a liberdade individual e para os inscrever numa política de saúde democrática» (aqui).      

Estas palavras foram proferidas em 2009, no período que antecedeu o surto de gripe suína, por cuja falsa emergência foi depois denunciada a OMS. Nelas podemos obter a confirmação de um quadro exacto acerca das modalidades de gestão da emergência sanitária, ou mesmo do planeamento da própria emergência, com a previsão das possíveis respostas por parte dos cidadãos. Há apenas alguns dias, Attali foi entrevistado, sem máscara, por dois jornalistas propensos, a quem repreendeu por terem a máscara abaixo do nariz. A anedota – que se pode encontrar num vídeo na internet – é a “prova provada” do absurdo da narrativa pandémica, que se aplica aos súbditos e aos escravos do sistema, mas não aos responsáveis. Biden, Johnson, Merkel, Draghi, Bergoglio e todos os “grandes da terra” ostentam desprezo pelas massas, impondo-lhes normas absurdas, que esses em primeiro infringem precisamente para demonstrar que a adesão a este culto pandémico requer um consentimento fideísta e não é nada de científico.

Sua Eminência o Cardeal Müller, que é uma pessoa intelectualmente honesta, disse coisas já denunciadas pelo Cardeal Burke, por D. Athanasius Schneider e por mim, entre outros; coisas que Klaus Schwab, George Soros, Bill Gates e todos os adeptos do Great Reset sempre declararam publicamente, até mesmo produzindo documentos oficiais e imprimindo livros nos quais explicam em pormenor os diferentes cenários que podem ser hipotéticos, desde a pandemia até à emergência climática. E as palavras do Purpurado são a confirmação de que o seu nome colocado no meu Apelo para a Igreja e para o Mundo, em Maio de 2020, foi meditado e desejado. Por esse gesto, por certos aspectos corajoso, agradeço a Sua Eminência.   

E lamento que, na Alemanha, os meios mainstream tenham acusado o Cardeal Müller de anti-semitismo, pelo simples facto de George Soros e Klaus Schwab terem origens judaicas, ao mesmo tempo que evitaram escrupulosamente entrar no mérito da questão. E, no entanto, análogas denúncias contra a elite globalista e, em particular, contra Schwab, Gates, Soros, os Rothschild e os Rockefeller são feitas por rabinos ortodoxos e por judeus sobreviventes dos campos de concentração nazis. São também eles, portanto, anti-semitas? Mas, mais uma vez, fazer perguntas razoáveis a quem é desconfiado não serve para nada. Como na fábula de Esopo, o lobo no topo do ribeiro acredita que tem o direito de não ter a sua água turvada pelo cordeiro a jusante.           

Posso imaginar que, para um Cardeal que também foi Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, é algo desafiante e não tão simples tomar uma posição sobre uma questão que vê Bergoglio do lado oposto a propagandear as vacinas Pfizer e a apoiar a green economy e o capitalismo inclusivo com os Rothschild e os Rockefeller. Mas também penso que se Sua Eminência teve a honestidade de denunciar a conspiração anti-humana da Nova Ordem Mundial e a interferência dos multimilionários Gates e Soros no destino das nações, com base nas provas e na consentaneidade das suas declarações, saberá com igual lucidez de análise reconhecer a mesma consentaneidade à ideologia globalista no inquilino de Santa Marta, que precisamente nestes dias abençoou um parque inter-religioso na Argentina e aprovou a Fundação Fratelli Tutti e a sua “formação holística” para o diálogo com as religiões. Se são evidentes as interferências de Soros e Gates no governo das Nações, é inegável a responsabilidade de Bergoglio em dar dignidade e legitimidade aos cúmplices do WEF e da ONU, aos seus planos e àqueles que com eles cooperam; porque o ecumenismo, a divinização da Mãe Terra, a dimensão “amazónica” da Igreja, o “synodal path”, o transumanismo da Fundação para a Inteligência Artificial e todas as infelizes inovações deste pontificado são perfeitamente coerentes com este quadro, são a ele instrumentais e prosseguem o mesmo fim, ou seja, o estabelecimento daquela Religião da Humanidade, que é a meta necessária da Nova Ordem Mundial. 

Embora a emergência sanitária tenha causado danos incalculáveis, tem, no entanto, o mérito de ter aberto os olhos a muitos cegos, de ter curado muitos surdos e mudos, que tornam a ouvir e a falar. Esta graça deve ser para todos nós uma ocasião para podermos avaliar com um olhar sobrenatural o que está a acontecer diante dos nossos olhos, discernir os princípios inspiradores e os objectivos não declarados, denunciar os responsáveis e avisar os simples, que esperam justamente que sejam os seus Pastores a dar-lhes salutares indicações e não a empurrá-los para o abismo. E para compreender quão verdadeiras são as palavras do Senhor: «Sem mim nada podeis fazer» (Jo 15, 5).        

 Carlo Maria Viganò, Arcebispo


Fonte: Dies Iræ

sábado, 18 de dezembro de 2021

Princípios e consequências do Liberalismo

 


Explicaremos agora em poucas palavras o Liberalismo, cujo exemplo histórico típico é o Protestantismo. O Liberalismo pretende libertar o homem de todos os constrangimentos não desejados ou aceites por si próprio.

Primeira libertação: aquela que liberta a inteligência de toda a verdade objectiva imposta. A Verdade deve ser aceite de forma diferente de acordo com os indivíduos ou grupos de indivíduos, ela é, portanto, necessariamente compartilhada. A Verdade é criada e procurada incessantemente. Ninguém pode alegar tê-lo exclusiva e integralmente. Não é difícil adivinhar o quanto isso é contrário a Nosso Senhor Jesus Cristo e à Sua Igreja.

Segunda libertação: a da fé que nos impõe dogmas formulados de forma definitiva e à qual se deve submeter a inteligência e a vontade. Os dogmas, segundo o liberal, devem ser submetidos ao crivo da razão e da ciência, e isso de uma maneira constante, conforme o progresso científico. Portanto, é impossível admitir uma verdade revelada definida para sempre. Note-se a oposição deste princípio à Revelação de Nosso Senhor e à Sua autoridade divina.

Finalmente, a terceira libertação, a da lei. A lei, segundo o liberal, limita a liberdade e impõe-lhe um constrangimento, primeiro moral e depois físico. A lei e as suas restrições vão contra a dignidade e a consciência humana. A consciência é a lei suprema. O liberal confunde liberdade com licença. Nosso Senhor Jesus Cristo é a Lei viva, sendo o Verbo de Deus; mas ainda veremos o quão profunda é a oposição do liberal a Nosso Senhor.

Os princípios liberais têm como consequência a destruição da filosofia do ser [ontologia] e a recusa de toda a definição de seres, para se fechar no nominalismo ou no existencialismo e no evolucionismo. Tudo está sujeito a mutações, a alterações.

Uma segunda consequência igualmente grave, senão mais, é a negação do sobrenatural, portanto do pecado original, da justificação pela graça, do verdadeiro motivo da Encarnação, do sacrifício da Cruz, da Igreja, do sacerdócio. Tudo é distorcido na obra realizada por Nosso Senhor; e isso traduz-se numa visão protestante da liturgia, do Sacrifício da Missa e dos Sacramentos, que não têm mais por objecto a aplicação da Redenção nas almas, a cada alma, a fim de lhe comunicar a graça da vida divina e prepará-la para a vida eterna, pela pertença ao corpo místico de Nosso Senhor, mas que doravante tem por centro e motivo a pertença a uma comunidade humana de carácter religioso. Toda a reforma litúrgica [de Paulo VI] reflecte esta orientação.

Outra consequência: a negação de toda a autoridade pessoal, participada na autoridade de Deus. A dignidade humana exige que o homem seja submetido apenas ao que ele consente. Uma vez que a autoridade é indispensável para a vida em sociedade, ela só aceitará a autoridade aprovada pela maioria, porque representa a delegação da autoridade do maior número de indivíduos a uma pessoa ou a um grupo designado, esta autoridade é sempre apenas delegada.

Ora, estes princípios e as suas consequências, que exigem a liberdade de pensamento, a liberdade de ensino, a liberdade de consciência, a liberdade de escolher a própria religião, essas falsas liberdades que supõem a laicidade do Estado, a separação da Igreja e do Estado, têm sido, desde o Concílio de Trento, incessantemente condenadas pelos sucessores de Pedro e, em primeiro lugar, pelo próprio Concílio de Trento.

D. Marcel Lefebvre in «Carta aos Amigos e Benfeitores» de 3 de Setembro de 1975

Fonte: Veritatis

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Vacina contra a Covid-19: mitos e quimeras

 


A partir de Dezembro de 2020 começou a campanha de vacinação mundial contra a COVID-19, com base nos ensaios clínicos realizados pelas empresas farmacêuticas Pfizer, Moderna, Johnson & Johnson e AstraZeneca.

Pela confiança na ciência, e dominados pelo horror da morte, ou outra razão, o que é certo é que poucas pessoas sabem que nenhum dos ensaios clínicos de fase III das vacinas foi feito tendo como finalidade detectar a redução dos casos graves, como hospitalizações, admissões nos cuidados intensivos ou mortes. Tão pouco o foi para determinar se estas podiam interromper a transmissão do vírus SARS-CoV-2 (pelas pessoas vacinadas infectadas), mas apenas para saber se reduzia o número de pessoas infectadas.

Vejamos o caso da Pfizer: o ensaio contou com 44 mil participantes e a eficácia da vacina contra a infecção foi calculada com base em 170 casos de COVID-19 (sintomáticos) confirmados por PCR, divididos entre o grupo que foi injectado com a vacina (8) e o outro que recebeu o placebo (162) – daí os 95% de eficácia (1 – 8/162).

A primeira coisa que salta à vista é o número reduzido de eventos registados. Com uma amostra tão limitada, desde logo era improvável obter dados estatisticamente significativos para os casos mais graves da doença. Portanto, dezenas de milhões de pessoas começaram a ser vacinadas contra a COVID-19 com base em 170 testes PCR positivos… Em termos de mortalidade “Todas As Causas” (tema abordado no artigo precedente) há que salientar que no grupo da vacina houve mais mortes (15) que no grupo placebo (14) – estatisticamente não significativo.

Peter Doshi, editor associado do British Medical Journal (BMJ), uma referência entre as revistas médicas, publicou vários artigos descrevendo esta problemática, confirmada também pelo diretor médico da Moderna, Tal Zaks (link 1 e link 2). Mas não se ficou por aqui, dado que denunciou ainda outras falhas como: as referentes ao número elevado de “suspeitos de COVID-19” não contabilizados (aqueles com COVID-19 sintomático que não foram confirmados por PCR); e aqueloutra relativa ao número elevado de indivíduos vacinados que foram excluídos (por razões desconhecidas – efeitos adversos?) da análise da eficácia.

Normalmente, este tipo de ensaio utiliza o método “double-blinded” (duplo cego): nenhum dos participantes (quem é vacinado e quem organiza) sabe se o que é injectado é a vacina em teste ou o placebo (substância inofensiva que deve parecer idêntica à vacina testada, mas que não contém nenhum ingrediente activo, podendo ser, por exemplo, uma injecção de soro fisiológico).

No caso de Pfizer, o ensaio clínico foi somente “observer-blinded” (cego apenas para o observador), pois a aparência física das vacinas candidatas em teste e do placebo era diferente e conservadas de forma distinta (a vacina Pfizer estava congelada, enquanto que o placebo era mantido à temperatura ambiente). Portanto, neste ensaio da Pfizer, na prática, todos os intervenientes podiam saber facilmente deduzir se era a vacina, ou o placebo, que estavam a injectar.

Recentemente o jornalista Paul Thacker, do BMJ, deu conta de problemas extremamente graves que aconteceram na empresa Ventavia Research Group, que participou no ensaio clínico da Pfizer: a empresa terá falsificado dados; não respeitou o protocolo do ensaio; empregou vacinadores com formação inadequada; demorou a acompanhar os efeitos adversos relatados; e os funcionários que realizaram o controle de qualidade ficaram sobrecarregados com o volume de problemas que encontraram.

Brook Jackson denunciou estes problemas à FDA (agência federal norte-americana), em Setembro de 2020. Mesmo perante tais falhas, a Pfizer voltou a subcontratar essa mesma empresa, a Ventavia, em quatro outros ensaios clínicos de vacinas: vacina COVID-19 em crianças e adultos jovens, mulheres grávidas e uma dose de reforço, bem como num ensaio de vacina contra o RSV (vírus responsável por bronquiolites e pneumonias).

O país que mais rapidamente começou o processo de vacinação maciça da sua população foi Israel. Por essa razão, pode dizer-se, que Israel foi o “laboratório” de validação da vacina Pfizer. Esta vacina é a única utilizada em Israel.

A partir de Março de 2021, o governo israelita implementou ainda o chamado Green Pass (Passe Sanitário): os não vacinados tinham que efectuar testes ao vírus SARS-CoV-2 para ter uma vida social normal. Portanto, faziam testes muito mais frequentes. Para analisarmos a eficácia da vacina Pfizer contra a infeção por COVID-19, temos de evitar este viés de selecção entre as pessoas testadas. Por isso, escolhi o período sem Green Pass: foi suspenso de 1 de Junho a 29 de Julho.

Como se pode observar a tabela abaixo (1), neste período a percentagem de casos positivos dos vacinados em Israel era sistematicamente superior à taxa de vacinação da população, para cada faixa etária. Ora, no caso de uma vacina eficaz, a percentagem de casos positivos deveria ser claramente inferior à da taxa de vacinação. Por exemplo, na faixa dos 40-49 anos (semana de 4-7 a 10-7) 81% da população estava vacinada com as duas doses, no entanto, estes representavam 87% dos casos positivos, o que mostra claramente uma eficácia nula (mesmo negativa) contra a infecção. Porém, com a anunciada eficácia de 95% contra a infecção, seria expectável que o grupo dos vacinados representasse apenas 17% dos casos positivos nesta faixa etária (2).

(1) Tabela criada a partir dos dados disponíveis em: https://data.gov.il/dataset/covid-19/resource/9b623a64-f7df-4d0c-9f57-09bd99a88880

(2) Neste exemplo, com 81% da população vacinada na faixa etária dos 40-49 anos:

• vacina com 0% de eficácia: em 100 casos positivos, 81 seriam vacinados e 19 não vacinados.

• vacina com 95% de eficácia: em vez dos 81 positivos vacinados, teríamos apenas 4 (81*0,05); Portanto 4 vacinados, mais os 19 que não se vacinaram (o número total de casos positivos seria reduzido de forma drástica); 17% = 4 / (4 + 19)


Perante estes resultados, que podemos classificar como altamente frustrantes, a conclusão das autoridades e da Pfizer foi de que a vacina perdia a sua eficácia com o tempo. Portanto, os ensaios clínicos, para além de terem sido realizados fora de todos os protocolos de segurança e eficácia habituais, nem sequer conseguiram prever que a vacina seria eficaz apenas durante 5 ou 6 meses!

No Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, nos últimos meses, a problemática da eficácia reduzida das vacinas contra a infeção tem sido patente: como é visível nas seguintes tabelas (a verde), em 4/5 das 8 faixas etárias a taxa de infecção dos vacinados com duas doses é superior à dos não vacinados. Estamos a falar de uma taxa, portanto o denominador é a população em cada uma das categorias.

09-12-2021 | ​​​​25-11-2021

Nas últimas semanas estas taxas foram alvo de polémica e a forma como o denominador é sistematicamente subestimado para os não vacinados (número total de não vacinados), pode levar a pensar que o impacto da vacinação nas infecções é residual.

Mas, em relação à transmissão do vírus, as vacinas seriam eficazes e permitiriam atingir a imunidade colectiva?

A estocada final na quimera da imunidade colectiva utilizando uma vacina não imunizante (que não impede a infeção com o vírus) foi dada por um artigo publicado na revista Lancet, disponível em pre-print desde Agosto, que concluiu que “os indivíduos totalmente vacinados infectados têm um pico de carga viral semelhante aos não vacinados e podem transmitir a infecção com eficiência em ambientes domésticos, incluindo para contactos totalmente vacinados”.

Trata-se de uma desmistificação já oficial em países como os Estados Unidos: Anthony Fauci, diretor do NIH (National Institutes of Health), confirmou que não há diferença da carga viral na faringe nasal entre infectados vacinados e não vacinados, pelo que a transmissão é idêntica!

A bibliografia, que junto, inclui ainda uma carta ao editor publicada na Lancet e vários artigos em pre-print (link 3link 4 e link 5).

Refira-se que as vacinas contra a COVID-19 actualmente disponíveis e homologadas na União Europeia foram desenvolvidas num curto espaço de tempo e os ensaios de fase III ainda decorrem: por exemplo, para a Pfizer este só terminará em Maio de 2023 e para a Moderna em Outubro 2022.

Todas estas vacinas usam novas tecnologias tais como o RNA mensageiro e o adenovírus, componentes utilizados contra a COVID-19 pela primeira vez na população geral. Isto é, nenhuma das múltiplas vacinas que todos nós já tomámos ao longo da nossa vida utilizava estas tecnologias vacinais. Acresce ainda que as vacinas anteriores tinham um histórico de 10/15 anos antes de serem recomendadas. Perante isto, absolutamente ninguém pode prever os impactos sanitários a médio e longo prazo (5-20 anos) que terá a actual campanha de vacinação maciça.

Estudos recentes na Alemanha e na Suécia mostraram que as crianças sem comorbidades graves (como a obesidade mórbida infantil, que é um problema muito grande nos Estados Unidos) que contraíram a COVID-19 (sem vacinação), tiveram uma mortalidade nula.

A gripe (vírus Influenza) provoca uma mortalidade superior nas crianças, no entanto, poucos são os pais que vacinam os filhos anualmente. A eficácia da vacina (criada a partir do vírus inactivado, técnica utilizada há décadas), situa-se entre 40 a 60%, dependendo da variante.

Fica a interrogação: se as vacinas contra a COVID-19 não reduzem, ou têm um impacto residual na infecção, e não têm efeitos na transmissão, qual o interesse de vacinar indivíduos (nomeadamente crianças e adolescentes) sem comorbidades e com risco quase nulo de sequelas graves ou morte por COVID-19? Mesmo fazendo abstracção dos efeitos adversos imediatos e sem saber quais serão os impactos a médio e longo prazo na sua saúde, que benefícios lhes trará, e à sociedade, esta vacinação?

Carlos Antunes

Fonte: Inconveniente