terça-feira, 29 de novembro de 2022

25 de Novembro – 47 anos depois

Passaram 47 anos desde que Portugal esteve perto de uma guerra civil, mas optou por colocar um fim ao PREC. Não irei descrever os acontecimentos que caracterizam a história do 25 de Novembro, pois optarei por falar da evolução e das consequências que esse dia teve para Portugal.

Começo por dizer que o 25 de Novembro tem pouco valor para a sociedade civil. Não é fastidiosamente comemorado como o 25 de Abril, que tem vindo a ser tratado como uma espécie de nova religião em Portugal.

Essa religião não permite que o 25 de Novembro seja equiparado e ensinado em pé de igualdade com o 25 de Abril. Praticamente todos os alunos ouvem falar do 25 de Abril até ao secundário, mas é surpreendente a quantidade dos que nunca ouviram falar do 25 de Novembro.

A falta de solidez e presença desta data em termos populares, coincide com o endeusamento do 25 de Abril e toda a subcultura marxista a ele associada, hegemónica no actual regime, que enfraqueça a energia dos autoproclamados “de direita”. Após o 25 de Novembro, muita da sociedade civil ficou convencida que o pior tinha passado e optou pela paz e sossego. Daí considerar que, por isso mesmo, o 25 de Novembro não foi perfeito.

Não é bom o comodismo dos apoiantes da direita, que ao centro saem à rua nas campanhas eleitorais ou nas manifestações LGBT, no caso do PSD e da IL, e deixam o CHEGA a actuar sozinho nas manifestações contra a ilegalização de um partido político em plena democracia, e contra o ideário marxista de que somos todos uns opressores com uma identidade nacional que deve ser substituída. Ainda hoje é impressionante como é que há “direitinhos” que não criticam os seus partidos por não defenderem Portugal quando este foi injustamente apelidado de “racista” pela extrema esquerda. Esse comodismo é descendente da falta de necessidade de fazer frente ao Marxismo, na guerra cultural que estes declararam a Portugal.

Pelo facto de não termos tido uma ditadura marxista solidificada, ficou a sensação de que o Marxismo perdeu e a democracia ganhou, já que os partidos mais à direita, embora não de direita, conseguiram travar, na teoria, a revolução de esquerda.

Como consequência, Portugal é o exacto oposto a alguns países do leste europeu, onde o Marxismo simplesmente não é tolerado, seja por lei ou por vontade popular, e sobressaem os exemplos da Hungria, Polónia, Chéquia e Estónia.

Por exemplo, nesses países o Holodomor é sistemicamente relembrado. Aqui, o PAR dá-se ao luxo de não permitir uma exposição que refere o regime que o perpetrou, como se isso fosse aceitável, dados os milhões de mortos nessa tragédia.

Nesses países, partidos como a IL ou o CHEGA estão entre os mais populares, e discute-se política ao centro e à direita, sendo irrelevante o contributo da esquerda, já que esses mesmos povos não esquecem os horrores pelos quais passaram, depois de décadas na pobreza material e imaterial. A 3ª República faz questão de relembrar aos portugueses o Salazarismo, mas jamais relembra o desastre que foi a 1ª República e o PREC, pois teria como consequência o despertar ideológico de milhares de portugueses, para a necessidade de uma oposição forte ao pior do que a esquerda deu a Portugal.

Nesses países, a redução de impostos e o aumento da liberdade económica, adaptada às características culturais e geográficas, permitiram à Hungria, Estónia, Chéquia e Polónia descolarem economicamente desde que se libertaram do Marxismo, ao passo que Portugal está praticamente estagnado (em média) desde há 22 anos. Também é verdade que alguns desses países têm governos iliberais. Orbán chegou a ser um liberal, mas hoje é um Nacionalista Cristão convicto (sendo que a Hungria é um dos países com impostos mais baixos na Europa em várias matérias), e depois temos o partido polaco PiS, também Nacionalista Cristão, mas de carácter mais dirigista na economia, embora praticante de grandes alívios fiscais desde o início da pandemia.

Nesses países, o ideário marxista que favorece a destruição da identidade nacional, e o internacionalismo laboral, simplesmente não tem espaço para actuar. Com políticas de fronteiras fortes e fechadas a não europeus, países como a Polónia e Hungria passaram ilesos durante a crise dos atentados terroristas e são um bloco demográfico europeu monolítico e coeso, como deveriam ser.

Todo o oposto do que referi é defendido em Portugal. Este país permitiu que certos valores marxistas se infiltrassem nos partidos mais à direita, nomeadamente o PSD, sendo que a social democracia é descendente do Marxismo, e da IL, que se diz anticomunista, mas é leviana e passiva quanto a uma oposição à natureza das políticas progressistas dos partidos de esquerda.

É o típico laissez faire da “direita fofinha” e comodista. O raciocínio não deriva muito da ideia de que se os outros não danificarem a minha propriedade privada, podem ter espaço para doutrinar crianças num exercício de engenharia social progressista e manipular a sociedade civil rumo a uma atomização artificial por parte dos seus membros, que não conseguem reconhecer algo tão simples como a pertença a um colectivo. Essa pertença é um propósito de vida mais nobre do que o individualismo que o corrói, mas preferimos ceder ao típico dividir para conquistar.

Para estes actores políticos, não interessa se estes partidos estão a danificar Portugal, logo que não sejam uns hereges contra o dogma da democracia liberal de Novembro. Acreditam mesmo que serão recompensados pelo insucesso ordeiro e fatalista, ao permitirem que a hegemonia cultural de esquerda persista no seu país, ao mesmo tempo em que comemoram o facto de esta não ter sido a mentalidade dos que preparam o contragolpe no 25 de Novembro, e ainda agradecem.

Concluindo, esta religião do 25 de Abril oblitera a essência do 25 de Novembro. Para as gerações que o sucederam, o desastre do PREC foi esquecido, e as bandeiras ideológicas marxistas passaram impunes, estando normalizadas até no centro direita. Quem as quer combater vê-se obrigado a confrontar uma perseguição da justiça, da comunicação social mainstream, e inclusive, da incompetente exclusão da “direita fofinha”, que serve como peão, neste jogo de xadrez entre os pais do regime e os antissistema.


Francisco Pereira Araújo

Fonte: Inconveniente

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