“Então Pilatos dirigiu-se à multidão que ali se havia reunido e lhes propôs: A quem desejais que eu solte, a Barrabás ou a este Jesus, que é chamado de Messias?”
Mesmo passado algum tempo interessa fazer algumas reflexões sobre o resultado das eleições brasileiras, e de tudo um pouco do que se passou à volta delas, pois reflecte muito do que se passa no chamado mundo ocidental e nomeadamente em Portugal, antiga Nação dos Portugueses. Nação em desaparecimento acelerado, por uma espécie de “eutanásia” de contornos próprios e induzidos.
E a primeira coisa que sobressai é a falência moral daquilo que se convencionou chamar do sistema político democrático, em que a eleição se polarizou à volta de dois candidatos, sendo um o actual Presidente e outro, um ex-presidente (mais do mesmo), dividindo o país ao meio. O que se passou com os restantes candidatos pode considerar-se irrelevante, o que, de per si, não abona nada também,ao sistema vigente.
Estes dois candidatos são, em termos ideológicos, não azeite e água (separados, mas coexistem) mas sim sódio e água (faz faísca e pega fogo).
O candidato Lula da Silva é marxista, libertário e demagogo encartado, apoiante de ditaduras comunistas, que se exprime como parecendo um alcoólico em fase terminal. Jair Bolsonaro é um defensor da ordem tradicional e conservadora, consubstanciada na trilogia, Deus, Pátria, Família, a que se acrescenta a Liberdade, pois tal consubstancia o autor brasileiro que terá inventado a frase e o conceito.[1]
Liberal na economia, é um nacionalista, o que deriva naturalmente da sua formação militar; que fala grosso, com linguagem pouco “diplomática” para político, e tem uma postura agressiva para com a comunicação social (restando saber de quem será a culpa) que lhe retribui com juros.
A forma algo desabrida de comportamento, também o fez perder o pé, por muitas vezes no combate à “Covid-19”, e noutras lutas que travou.
Bolsonaro representa ainda, um epifenómeno político (cada vez a acontecer mais frequentemente) dado ter saído fora da lógica partidária – os partidos são, aliás, o cancro da Democracia – por causa da pouca-vergonha, que há muito se passa no Brasil, relativamente a corrupção, insegurança e injustiça social.
Ora, segundo o sistema eleitoral, tido como democrático, cada eleitor fará o seu juízo sobre as propostas apresentadas (o que, no mais das vezes, se fulaniza na personalidade dos candidatos e na falsidade da escolha por a maioria do eleitorado não ter os conhecimentos mínimos para poder fazer uma opção em consciência, restando o “clubismo” cego e os eflúvios demagógicos) e, chegando o dia, deposita o seu voto num pequeno caixão, perdão urna, agora urna electrónica, que é o que parece estar na moda, o que já está a levantar muitas dúvidas sobre a sua credibilidade, isto é, na segurança da contagem e validação dos resultados – o que uma comissão dita independente das Forças Armadas Brasileiras confirmou recentemente. A partir daí o candidato ganhador toma posse segundo a fórmula em vigor e a vida continua.
Ora, o que se passou neste caso foi que a escolha entre os dois candidatos, não era uma escolha normal; isto é, os candidatos não se encontravam em planos morais idênticos; dito de outro modo, um dos candidatos não tinha idoneidade moral, logo social e política, para poder ser candidato a um cargo que é, “apenas”, o mais elevado de toda a estrutura política brasileira.
Ora, um sistema eleitoral, logo um sistema político (seja ele democrático ou não), que aceita e promove uma situação destas não é susceptível de ser considerado sério, ético e lícito – nem sequer é necessário ir ao adjectivo “democrático”, que passa até, a ser lateral ao assunto.
De facto, o candidato Lula da Silva – é dele que estou a falar – é um ex-presidiário, condenado com contas ainda a prestar à justiça, que um número de habilidades processuais (em que é fértil a “justiça” modernaça), tinha colocado em liberdade a aguardar julgamento e que o “Partido dos Trabalhadores” (PT) – um partido onde abundam os corruptos presos, a começar por ex-ministros, e até uma ex-presidente (não “presidenta”), mestra em actividades subversivas, terroristas e em assaltos à mão armada (transmutadas, pelo politicamente correcto, em”luta heróica contra a ditadura Militar”, que foi a melhor coisa que aconteceu ao Brasil desde que “despediram” o D. Pedro I, em 1831) – logo promoveu a sua recandidatura ao cargo, o que lhe permitiria caso a eleição se desse, ficar abrangido pela imunidade que o cargo confere.[2]
Ora uma sociedade e um sistema político em que tal acontece, e é permitido acontecer, faz com que a suposta independência entre os poderes legislativo, executivo e judicial, seja apenas uma mentira piedosa e a Democracia uma ficção malcheirosa, ao passo que é o próprio país, no seu todo, que se desacredita e se afunda na indigência política e moral.
Outras considerações é mister acrescentar.
É necessário repensar e legislar urgentemente sobre o papel dos jornalistas e da comunicação social, na sociedade.
Sabe-se que a prática da manipulação das notícias e da informação é tão velha como a prostituição, mas o nível despudorado de mentiras, meias verdades, propaganda encapotada e modo de apresentação da informação (como são escolhidas, ditas e escritas) fazendo com que a sua correcta interpretação saia falseada, atingiu formas impensáveis por qualquer guião de ficção científica. E cujo cúmulo se pode considerar a interrupção televisiva simultânea, por parte de algumas cadeias de televisão americana, quando Donald Trump, ainda presidente, discursava.
Ora a imprensa (lato senso) não deve interferir na actividade política, favorecendo esta ou aquela corrente, ou esta ou aquela ideologia – a não ser que seja um órgão privado e devidamente identificado politicamente – muito menos colocar adjectivos nas notícias que veicula, coibindo-se os jornalistas de uma postura que não seja neutra (os militares, por exemplo, também não podem/devem – e bem – usar os seus meios de coacção para influenciar as opções políticas). Sem embargo de poderem entrevistar os restantes cidadãos e auscultar o que pensam de uma forma honesta e imparcial e, ou, de denunciar ilegalidades ou de em reportagens, deverem enquadrar e denunciar os actos ilícitos, ilegais e imorais, pois o Bem tem de combater o Mal.
Numa palavra, há órgãos de comunicação a mais, e o dilúvio de informação, a censura, parcialidade e as “fake news” tornaram-se insuportáveis, o que depois é exponenciado pelas “redes sociais”. E não foi só no Brasil, em Portugal, foi igual.
Outra coisa insuportável é a tentativa de influenciar, ou tomar partido, em disputas em países diferentes do nosso, ou em aventuras ideológicas internacionalistas (a não ser que haja pontualmente uma disputa grave entre países, mas isso já é um assunto de Estado).
Ora o Brasil e Portugal tomaram a decisão, assaz lamentável e infeliz (mas tal é já história passada), de se separarem “de facto”, em 1822 e “de jure”, em 1825, e cada um seguiu o seu caminho. E até hoje, tirando a retórica do “País irmão”, na prática nunca houve quaisquer sinergias comuns.
Sem embargo, forças políticas nacionais e até o próprio Presidente da República, devidamente acolitados por grande parte dos “media”, resolveram apoiar um dos candidatos, neste caso, Lula da Silva, ao mesmo tempo que não se coibiam de tratar mal o antagonista – que, por acaso, era o Presidente do Brasil e fizeram-no antes, durante e depois das eleições. O PM, escondido atrás da figura de Secretário-Geral do PS fez até, uma patética declaração formal de apoio a um dos candidatos, ou seja, ao tal com nome de cefalópode. Ora isto não é nada saudável entre Estados e povos. Quando a situação mudar, como será? Que marcas deixará? E a que título se faz uma coisa destas?
E tal estende-se e generaliza-se em termos internacionais (uma bagunça!), pois a que título é que “alguém” na última Conferência sobre as Alterações Climáticas realizadas em Sharm-el-Sheik, convidou (ou foi ele que se fez convidado?) Lula da Silva para estar presente (em que qualidade?) na cimeira e discursar (em que palco?) quando o próximo Presidente do Brasil só toma posse a 1 de Janeiro de 2023?
Ou será que só os russos é que não podem interferir nas eleições americanas?
O mesmo se passando em Lisboa, onde o PR e o PM, resolveram convidar o dito cujo, para cá vir continuar os comícios (só pode ser)? Que falta de dignidade de Estado, de decoro e de chá, é este?
E outra coisa lamentável e que não fica nada bem – e eu como cidadão português rejeito liminarmente – é o de estarmos a aturar luta política, com manifestações e outras actividades, em espaço público do meu país, de forças políticas brasileiras (ou quaisquer outros estrangeiros).
O mal está feito e a triste realidade, ou nos enganamos muito, não só se vai manter, como vai piorar.
A asneira é livre e o “povo”, pelos vistos, vai continuar a escolher Barrabás e a virar as costas a Jesus de Nazaré. Com muitos “Pôncio Pilatos” a ver e a lavar as mãos.
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)
[1] O autor Afonso Pena (Santa Bárbara, Minas Gerais, 30/11/1847 – Rio de Janeiro, 14/6/1909), foi advogado escritor e político, e o 6º Presidente da República do Brasil, tendo morrido no cargo, com gripe pneumónica. Dizia, perto da sua hora derradeira, que a vida se exprimia em quatro palavras: «Deus, Pátria, Liberdade, Família». «Pois bem! Defendamos a família, relicário de amor sustentado pelas mãos trémulas dos nossos pais. Defendamos a Pátria, que consubstancia as nossas glórias de outrora, a Pátria que é bela, porque é a mãe de todos nós. Defendamos Deus da ignorância e do atrevimento, porque Deus é a suprema aspiração da alma humana, o grande mistério que ilumina as regiões do Além. Defendamos a Família, defendamos a Pátria, defendamos Deus pela Liberdade! Deus, Pátria, Liberdade, Família»
[2] A auto-denominada “Presidenta”, Dilma Rousseff, acabou destituída da presidência do Brasil, por “impedimento”, em 2016.
Fonte: Inconveniente
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