“Está resolvido o mistério da vitória dos portugueses na batalha dos Montes Claros, perto de Vila Viçosa, em 1665.
Os ciganos roubaram os cavalos às tropas espanholas!...”
(Chiste que corre pela “Net”).1
Já escrevi e tenho comentado amiúde, sobre a preocupação de que o cidadão temporário (todos nós estamos a prazo) número um do país - por ocupar a chefia do Estado - não esteja, eventualmente, no seu melhor equilíbrio psicossomático.
Não digo isto para atacar ou denegrir a pessoa ou o cargo, mas por genuína preocupação, pois mesmo que não me reveja na maioria das posições e comportamentos (de sempre), ele me representa e ao país a que pertenço. E nada consta na Constituição da República - que não devia ser revista, mas levar uma saponária de alto a baixo - que possa lidar com um eventual caso de incapacidade para o cargo…
Porque digo isto? Pois tendo em conta o comportamento da pessoa, as suas inconveniências de fala e de estilo, os esgares e manifestações institucionais pouco aconselháveis à função e algumas evidências compulsivo/obsessivas, que fazem a história da rã e do escorpião parecer um conto de fadas. E, ao que parece, deixou de ouvir seja quem for, o que só vai ao encontro do que atrás se afirma.
Um dia destes, quiçá, ainda se julgará alguém providencial…
Agora até nos arranjou um conflito diplomático com o Qatar (que foi abafado, mas lá que houve, houve), absolutamente despropositado, que só a demagogia; incapacidade de estar por um minuto calado e absoluta ausência de sentido de Estado, explica.
E como todos os santos dias, tem que tirar da cartola, um coelho qualquer, desta feita, a propósito da data sagrada do 1º de Dezembro de 1640, saiu da cartola, não um coelho, mas vários … ciganos.
Tenho que recordar o evento para situar os leitores (espero que as “leitoras” não se sintam discriminadas, por estarem incluídas nos “leitores”, mas o bom português assim postula).
Não tendo Marcelo Rebelo de Sousa, usado da palavra na cerimónia evocativa do 1º de Dezembro de 1640 (que evoca, não a Restauração da Independência como amiúde se vê escrito, a qual “de Jure” nunca perdemos, mas sim a Restauração ou “Aclamação” de uma Dinastia Portuguesa), junto ao monumento dos Restauradores, promovido anualmente pela Sociedade Histórica da Independência de Portugal a que se associa a Câmara de Lisboa, resolveu colocar um “comunicado” no “sítio” da Presidência, onde evocou um cavaleiro de origem cigana e outros 250 do mesmo grupo (pelos vistos agora não se “pode” escrever as palavras, raças, etnia e até apontar nacionalidades, etc., é claro que não há censura…) que, supostamente, teriam lutado contra os espanhóis e ajudado assim, a causa da Restauração. Serviu isto para lamentar a (suposta) discriminação existente em Portugal, contra os ciganos, o que, naturalmente, este exemplo mostrava ser uma injustiça…
Esta “nota” da Presidência levanta duas questões: o episódio em si e a questão da discriminação.
Comecemos por esta última.
A questão da discriminação dos ciganos, muito em voga, nos últimos tempos, é uma balela mal contada que desvirtua a realidade dos factos.
O “povo cigano” (nas suas vertentes “Rom”, “Calom” e “Sinti”) é originário do que é agora o noroeste da Índia, de onde emigraram, à volta do ano 1000, por razões ainda mal conhecidas. 2
Espalharam-se pela Ásia e Norte da Europa e também pelo Egipto (daí o termo “gypsy”, gitano, tsigane e cigano), Norte de África e Península Ibérica, onde tomou também o nome de “Calés” ou “Calós”. Na Europa concentraram-se especialmente na Roménia, onde hoje atingem a cifra de dois milhões de indivíduos. Têm língua própria e as tradições são passadas oralmente pois nunca praticaram a escrita. Daí ser também difícil estudá-los.
Ora, esta gente foi arranjando problemas com os restantes povos com que tocavam, marginalizando-se, ou sendo marginalizados, por quererem manter o seu estilo de vida, tradições, língua e costumes, sem se integrarem, nem misturarem nas comunidades por onde passavam, dando origem a perseguições e expulsões (e até eliminação física) em muitos locais do mundo. Sem embargo de ao longo do tempo irem colhendo e incorporando alguns traços da cultura dos locais por onde passam.
Em Portugal Continental constituíram comunidades essencialmente nómadas, que se moviam com alguma assiduidade de ambos os lados da fronteira e se dedicavam maioritariamente ao comércio em feiras; trabalho circense ou à prática de alguns ofícios artesanais, tais como ferreiros, caldeireiros, cesteiros, etc.
Era, e é, muito frequente ver ciganos a vender objectos pelas ruas, ou a ler a sina, sempre com um olho para evitar a autoridade, dado fazerem uma concorrência desleal ao comércio local.
O seu nomadismo criava (e cria) constantes atritos com as gentes das freguesias por onde passavam, dada a dificuldade em estabelecer regras sobre os locais onde poderiam acampar, ao passo que criavam disputas e má vizinhança (e ainda criam) quando se tentam (ou os tentam) estabelecer numa morada permanente.
De resto muitos vivem de “expedientes” e algumas actividades criminosas (contrabando, tráfico de droga, contrafacção de roupa de marca) como a elevada percentagem de população prisional, dessa origem (que hoje se oculta) revela e é prova concludente. O que se enquadra perfeitamente no ditado popular que reza “quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado vem” …
O seu estilo de vida não é de molde a permitir emprego estável, nem permite que as crianças frequentem a escola, o que naturalmente gera um grau de instrução muito baixo e manchas de pobreza. O seu aspecto pouco cuidado, sujo e falta de higiene evidenciada e a má fama generalizada (não é “inventada”) de que gozam, levou a que a generalidade da população se afaste deles e os ostracize. A sua presença gera de imediato, também, uma sensação de insegurança. E por maior injustiça que tal possa parecer ou comportar, raros serão os que confiam num cigano.
Com as actuais tentativas de os “integrar” ou tornar semelhantes (coisa que eles não são, nem aparentam querer ser) feitas de forma errada por líricos (chamemos-lhes assim), que não têm os pés no chão, as coisas só tendem a piorar, como a prova do aumento da agressividade de membros da “comunidade” cigana para com agentes da autoridade, desacatos em cafés e quartéis de bombeiros e ajuntamentos de pressão e intimidação, junto a centros de saúde, hospitais e tribunais, quando algum dos seus membros está a ser tratado ou julgado, prova à evidência!
Esta moda de defender, acriticamente, as “minorias”, sejam elas quais forem, está a levar a que sejam estas a querer impor-se ou a mandar nas maiorias, no mínimo, a fazer com que a lei não seja igual para todos. O que está longe de fazer jus ao desgastado “slogan” sobre o respeito das minorias…E é, atendendo aos cânones, anti-democrático…
Ora, se os ciganos não se querem integrar, a única coisa que falta fazer é oferecer-lhes (qualquer dia são eles a reivindicá-lo) uma parte do território nacional para eles viverem (ao que desde já me oponho!) com controlo cerrado das “fronteiras”, ou os reenviamos de volta ao "Punjab" de onde, historicamente, vieram.3
E se o actual Presidente desta desgraçada República (muito longe do que deve ser uma “Res pública”) está tão preocupado com a integração dos ditos cujos, deixo-lhe um alvitre: faça um acordo com a autarquia de Cascais para transformar uma moradia, da bonita praça onde mora, em habitação social, a ser oferecida (por concurso?) a famílias “calós”, ao mesmo tempo que se autorizaria o estabelecimento de tendas, por períodos mensais rotativos, nessa mesma praça, a quem pratica o nomadismo.
Vai ver que vai gostar e os munícipes também. Aliás, não há como liderar pelo exemplo!
Agora a suposta importância dos ciganos na “Restauração”: um general do Exército já escreveu sobre o assunto e assentou-lhe devidamente as “costuras” pelo que não me vou alargar sobre o tema.
Mas, convenhamos, que tentar distorcer a História, para chegar a resultados ínvios não é propriamente uma coisa muito digna de se fazer. E os Reis de Portugal sempre souberam lidar com os ciganos, nomeadamente depois dos registos ocorridos nos restantes reinos da península, em 1426.
Os tais 250 ciganos e aquele que se destacou mais entre eles, o tal “cavaleiro” (a título póstumo) Jerónimo da Costa, referidos por alguns (poucos) autores ao longo do tempo, representam um facto, absolutamente menor e pontual, num enorme conflito que durou 28 anos e extravasou largamente as fronteiras nacionais, não teve origem numa tomada de posição voluntariosa, por parte dos “ciganos” que, num gesto patriótico, correram a alistar-se nas fileiras, mas sim por via de uma disposição régia.
De facto, D. João IV, foi alertado para as relações promíscuas entre os ciganos de ambos os lados da fronteira, nomeadamente entre o Alentejo e a Andaluzia (o que tem sido uma constante ao longo dos séculos) - ou seja, eles nunca tiveram verdadeiramente uma Pátria – e mandou prendê-los e a seguir deportá-los para os territórios ultramarinos, para onde muitos já tinham ido. Em alternativa, permitia-se que os mesmos pudessem ficar desde que se alistassem no Exército, e em contrapartida ficava a promessa de que poderiam continuar a viver nos lugares do Reino desde que “abandonassem os seus hábitos e vestes e se assimilassem com os vizinhos”. Enfim, já então, uma preocupação de integração…
Daí os 250 que se alistaram…
Sabe-se também, que muitos destes homens foram premiados na altura, (como prova a atribuição do título de Cavaleiro) e até concedo que se possa atribuir ao tal Jerónimo Costa o nome de uma rua.
Agora o PR, como tal, tentar “torcer” a História de Portugal para, aproveitando as comemorações de uma das datas mais importantes e ditosas, da Nação dos Portugueses, se meter no meio da luta partidária – já que parece mesmo a propósito a divulgação (algo maquiavélica) da nota da presidência, pouco tempo antes de receber em audiência o líder do Partido CHEGA (que tem sido muito crítico do comportamento da comunidade cigana e ainda mais de quem lhes tolera os vícios), que lhe ia pedir para vetar a (já agora, péssima) lei sobre a Eutanásia.
De facto, a actuação do antigamente chamado “Mais Alto Magistrado da Nação”, tem sido de molde a ninguém minimamente consciente das coisas e dos homens, o poder levar a sério ou a ser respeitado. E tem degradado sistematicamente a função e cargo, que ocupa.
Situação muito lamentável e preocupante.
João José Brandão Ferreira, Oficial Piloto Aviador (Ref.)
1 A batalha de Montes Claros, porém, não representou nenhum chiste; foi a batalha mais importante de toda a Guerra da Restauração. E, pela sua relevância, está ao nível de Aljubarrota.
2 Supõe-se que por invasão de forças do Sultão Mahumd de Ghazim, muitos dos habitantes da região tenham emigrado.
3 Como estudos já efectuados comprovam, de que se destacam aqueles efectuados na Alemanha (Sacro Império Romano Germânico), em 1771,1782 e 1783, sobre a língua “romani”; e aqueles, sobre ADN, publicados, em 2012, na revista “Current Biology”.
Fonte: O Adamastor
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