“A omissão da verdade é o início da corrupção dos costumes”.
Voltaire
Um último aspecto convém tratar, numa época e sociedade, onde o que falta em espiritualidade sobra em materialismo: os aspectos económicos, financeiros e sociais.
Convido a acompanharem-me numa rápida viagem no metropolitano do tempo. É dolorosa mas vale a pena.
Em 25 de Abril de 1974, a economia do país crescia, sustentadamente, há décadas tendo no ano de 1973, atingido a cifra de 6,9%. Em Angola e Moçambique era mais. O escudo era a sexta moeda mais forte do mundo e estava escorada em 850 toneladas de ouro e muitas dezenas de milhões de contos em divisas. O potencial a explorar era enorme.
As dívidas e o “deficit” eram irrelevantes e não havia dificuldade no acesso ao crédito.
A inflação mantinha-se baixa, tendo aumentado no consulado de Marcello Caetano, devido à expansão económica, e teve um pico devido à crise petrolífera em 1973, por causa da Guerra do “Yon Kippur”, mas não chegou a ser preocupante.
Havia pleno emprego embora a emigração, que era elevada e não tinha sido encaminhada para o Ultramar, pudesse vir a causar problemas.
Socialmente vivia-se em paz a qual era perturbada, pontualmente, por agitação nas universidades e alguns atentados promovidos por células de extrema-esquerda (cujos membros sobreviventes foram quase todos condecorados, com pensões e aura de filantropos), que as forças de segurança não conseguiam evitar. Pequenos focos de contestação política existiam ainda, em meios intelectuais e artísticos e nos chamados católicos progressistas – convenientemente baptizados de “peixinhos vermelhos em pia de água benta”.
Curiosamente não havia problemas entre a classe operária.
E creio que também ninguém tem dúvidas que o Estado Português não andava às ordens de ninguém, mandava nas suas fronteiras, cobrava impostos e cunhava moeda. Ou também se quer desmentir isto?
Já me esquecia, tudo se passava enquanto se mantinha os tais 230.000 homens em pé de guerra espalhados pelo mundo, com 130.000 a combater em termos vitoriosos – na melhor campanha que efectuámos desde que o “Grande” Albuquerque implantou a presença portuguesa na Índia, em três teatros de operações separados entre si e a Metrópole (que era a base logística principal), de milhares de quilómetros e sem generais ou almirantes importados e sem alianças militares com ninguém (a não ser pontualmente e nos últimos anos de guerra, com a RAS e a Rodésia).
Acabou a guerra, vieram os tais “ideais de Abril” – todos muito alindados a cravos que por acaso florescem em Maio/Junho – veio a Liberdade (dizem), veio a Democracia (dizem), passámos a ser amigos de todos e todos eram nossos amigos (acreditaram), desapareceram as ameaças (disseram), etc., etc., e o que se passou até hoje?
As divisas desapareceram; o escudo foi-se desvalorizando até acabar; o ouro foi sendo vendido (sem nunca se terem apresentado contas) e das 850 toneladas restam 382,3 que estão “cativas” do Banco Central Europeu – senão já não restava um grama - e o país passou por três pré-bancarrotas: em 1978; em 1981 e em 2008; salvo “in extremis” por injecção de capital estrangeiro e correlativa canga!
Até tivemos uma “Troika” que se passeava no Terreiro do Paço de um modo que a Duquesa de Mântua nunca se atreveu…
Bom, mas o problema é que para além de não estarmos livres de nova bancarrota, tornámo-nos “escravos” até um horizonte que não se vislumbra, pois temos uma dívida interna e externa a perder de vista, que oscila ultimamente à volta dos 130% do PIB!
E passámos a ser apelidados de “lixo”.
Não há “Ronaldos” que apaguem isto!
E tudo se passou apesar de termos entrado (de cabeça) para a CEE, depois CE, agora UE, de onde vieram fundos comunitários à razão de 10 milhões de euros/dia, o que representa uma riqueza possivelmente superior às especiarias do Oriente, ao ouro e pedras do Brasil e às riquezas de África, todas juntas, sem o trabalho e custo (em perdas humanas e materiais) que as outras implicaram.
Onde estão as contas do que se fez ao dinheiro?
Para já não falar da alienação das empresas, bancos, património, terrenos, etc., que se tem feito ao desbarato e continuadamente. Qualquer dia não haverá um metro quadrado de terreno em mãos portuguesas!
Só em instalações militares devolutas já lá vão umas 180...
E que dizer da soberania (aliás, tudo o que está para trás também é soberania), hoje o Estado Português, não manda em nada, não influencia nada, não quer sequer levantar tropas, abateu as fronteiras, e não cunha moeda, atributos milenares de soberania.
A única coisa que faz é cobrar impostos – que em breve sairão do país – delapidados em grande parte, em sustentar a classe política e sua parafernália de apoio, e vende e aliena todo o património incluindo a língua. A Justiça, ela própria, estará a caminho da exportação.
E não passa um santo dia – apesar da censura que continua a haver – sem que saiam esparramadas na comunicação social, um (ou mais) escândalo de corrupção. São tantos e tão díspares que são impossíveis de acompanhar e digerir!
Dizem que só se sabem (mas não se corrigem) porque se vive em “Democracia”. Eu penso, porém, que foram os agentes que se servem da Democracia onde foram eleitos, que são os responsáveis por esta catástrofe social e moral!
Em síntese, durante estes quase 50 anos, quase nada do que se construiu no País foi feito com a riqueza produzida em Portugal, ou feito por este Regime, mas sim pelo desbarato da “pesada herança”; pelos empréstimos contraídos sem descanso e muito descaso; pelas dívidas acumuladas e pela alienação da soberania e do património vário que era nosso. E no fim estamos falidos. Famílias, empresas, bancos, Estado, quase tudo falido! O país vendido e, de há anos a esta parte, “invadido”, por hordas de Imigrantes; migrantes, refugiados e reformados de outros países que já não querem aturar a “multicuralidade” nos seus países.
E, afinal, tanto se queria acabar com a guerra (dizem), em que defendíamos o que era Portugal para, nos últimos 35 anos, os sucessivos governos já terem destacado para cerca de 30 países, qualquer coisa como 40.000 homens (e mulheres, quiçá, outros géneros…), em operações que a nós dizem muito pouco!
E acabarmos, afinal, com as novas gerações (talvez o pior de tudo) a acabarem o ensino secundário e superior, mal sabendo falar, contar e escrever (fora o resto), mas apelidadas de “geração mais bem preparada de sempre”. Que cambada de ilusionistas…
Enfim e em súmula, vivemos da dívida; da demagogia; na corrupção, na bandalheira moral e na falta de Patriotismo. E têm a lata de chamar a toda esta calamidade um “Estado de Direito Democrático”. Coitada da Democracia, que tem as costas largas…
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“Um militar deve regular o seu procedimento pelos ditames da Virtude e da Honra, amar a Pátria (e defendê-la com todas as suas forças até ao sacrifício da própria vida), guardar e fazer guardar a Constituição Política e mais leis da República e tem por deveres especiais os seguintes (seguiam-se 55 deveres).
Preâmbulo do artigo 4º do Regulamento de Disciplina Militar (de 1977).
Muito ficou por dizer.
Um golpe de estado ou uma revolução devem ser aferidos pela justiça da “causa” e motivações dos seus principais intervenientes e, sobretudo, pelos resultados conseguidos.
O que existe hoje plasmado nos livros de História, nos programas escolares e dito maioritariamente no discurso político, académico e mediático demonstra que a análise efectuada está profundamente errada e muito mal aferida. E não se pode (deve) construir o futuro sob um monturo de mentiras.
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