Já estamos habituados, desde longa data, ao complexo de superioridade da esquerda, com maior relevo para os seus líderes, intelectuais e ativistas, que defendem os valores “de esquerda”. Esta esquerda moderna reclama a posse dos ideais republicanos da Revolução Francesa e a filosofia comunista de Marx. Uma utopia de estatização total, com obrigatória igualdade de resultados (e não de oportunidades) independentemente do mérito, de eliminação da propriedade privada convertida em propriedade coletiva, de eliminação do lucro, e de ditadura de costumes. Uma utopia totalitária, que nada tem a ver com a liberdade da “Utopia” (1516), obra do santo Thomas More, lugar idílico de liberdade e felicidade, despreendimento material e governado pela razão, aceite por todos.
Da teoria à prática vai uma certa distância mas esta utopia, explorando situações de crise em que as populações sofrem fome e miséria, deu origem a várias revoluções que tentaram abolir a propriedade privada mas condenadas ao fracasso como a União Soviética ou a desvios ideológicos como a China que deve o seu desenvolvimento ao retorno da propriedade privada, sem a abolição da elite omnipotente – que dá pelo nome de Partido Comunista Chinês.
Aos cidadãos continuam a prometer Igualdade, Liberdade e Fraternidade (da Revolução Francesa, de 1789), embora a distopia totalitária que pretendem impor a todos só seja realizável sem Igualdade porque a elite não é igual aos restantes, sem Liberdade porque a utopia só é possível em ditadura e sem Fraternidade porque a utopia exige a vida de milhões de pessoas que não concordam com ela ou que são vítimas da fome como sucedeu na Ucrânia no tempo da União Soviética, onde milhões de pessoas morreram à fome por causa da abolição da propriedade privada e da limpeza étnica – o Holodomor. Durante esse período de grande fome na Ucrânia, até se praticava o canibalismo como forma de fugir à fome.
Os humanos, em situações extremas de luta pela sobrevivência, assumem comportamentos animalescos orientados pela zona primitiva do cérebro, o cérebro reptiliano, segundo a classificação proposta por Paul MacLean (1918-2007), médico e neurocientista estadunidense que se notabilizou pela sua teoria do cérebro trino:
- O cérebro reptiliano situa-se na base do cérebro e é responsável por reflexos simples e instintivos, os únicos verificados em peixes ou répteis, como o instinto de sobrevivência ou de reprodução;
- O cérebro de mamíferos inferiores, situado acima do cérebro reptiliano e responsável pelos sentimentos como o amor, a raiva, o ódio, etc.;
- O cérebro racional, situado acima do anterior, e que diferencia o homem dos restantes animais e é responsável pelo pensamento abstracto e criativo.
Na psicologia destaca-se uma corrente chamada comportamentalismo, ou behaviorismo, onde se tenta explicar o comportamento humano e animal. Essa corrente assume que o comportamento é um simples reflexo provocado por certos estímulos presentes no ambiente ou provenientes da experiência anterior do indivíduo.
O behaviorismo teve origem em experiências fisiológicas como as do russo Ivan Pavlov (1849-1936) com animais, tendo ficado célebre a experiência levada a cabo com um cão em que, de cada vez que era alimentado, fazia-se soar uma campainha. Por último, só com o soar a campainha, o cão já salivava porque associava a campainha à comida.
Experiências feitas com mamíferos inferiores como ratos e cães podem ser extrapoladas para o Homem já que eles têm em comum o cérebro reptiliano e o de mamíferos inferiores. Na vida diária o comportamento humano é condicionado e dirigido de várias formas, dela extraindo benefício os publicitários, os meios de comunicação, os políticos, etc.
A única forma de reagirmos ao condicionamento a que estamos sujeitos no dia-a-dia será usar a parte racional do cérebro que só os humanos possuem. Para resistir ao consumismo a que nos apela a publicidade devemos pensar se realmente precisamos do que vamos comprar; só deveremos aceitar uma campanha de condicionamento do comportamento (como, por exemplo, a das alterações climáticas antropogénicas) se ela passar no crivo do nosso cérebro racional; também não devemos aceitar uma ideologia política se ela se basear numa propaganda dirigida apenas às partes reptiliana e emocional do cérebro, sem envolver a parte racional.
Ora, a nossa esquerda radical, confrontada com o esgotamento do seu ideal utópico da propriedade comum, da luta de classes e de combate à propriedade privada, vira-se para outras causas como a salvação do planeta, o aborto, a eutanásia, direitos de minorias resistentes à integração, etc. Nas suas causas favoritas estão as que envolvem o sexo: casas de banho mistas, amor livre, homossexualidade, prostituição, pedofilia e outras parafilias, estando agora a abraçar a “causa” da sexualidade, homossexualidade e transexualidade infantil.
Segundo o que eu disse anteriormente, o sexo é um instinto e como tal provém do cérebro reptiliano e encontra-se presente nos animais com reprodução sexuada. No Homem, porém, o sexo sofre o crivo do seu cérebro emocional e racional, não devendo ser reduzido ao instinto. Porém, a nossa esquerda radical recorre precisamente ao sexo por saber que ele se encontra, numa certa categoria de pessoas, principalmente ao nível do seu cérebro reptiliano, pelo que podem mais facilmente ser manipuladas para simpatizar com a sua ideologia utópica.
O canibalismo que surgiu na Ucrânia durante o Holodomor pode ser explicado por uma experiência involuntária com cães que aconteceu recentemente em Espanha e que exemplifica a sobreposição do cérebro reptiliano ao emocional em condições de extrema necessidade de sobrevivência.
Não admira pois, que a esquerda radical, por razões de sobrevivência ou para salvar o planeta, venha um dia a defender o canibalismo como algo normal, tal como hoje defende que as crianças possam processar os pais porque estes não permitem que elas sejam mutiladas nos seus órgão sexuais durante a sua infância, ainda sob forte influência do seu cérebro reptiliano ou de comportamentos condicionados por uma propaganda bem orquestrada por gente que, também ela, é desprovida dos cérebros emocional e racional mas que, paradoxalmente, se gaba de uma suposta superioridade intelectual em relação aos outros. É a esquerda reptiliana!
Henrique Sousa
Fonte: Inconveniente
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