quinta-feira, 11 de maio de 2023

A Comunicação Social (CS) e o sexo dos padres

Para os nossos jornalistas e comentadores de serviço, o problema dos abusos de menores por parte dos padres resume-se a uma palavra: sexo. E a culpa, claro, segundo estas mentes iluminadas, deve-se ao celibato eclesiástico. A chatice dos diabos, como sabemos, é que a maior parte dos abusos contra menores, como se sabe, acontece no seio das famílias, pelos próprios pais, tios, irmãos, primos, avós, etc. A pedofilia, como o dizem os especialistas, não resulta da falta de sexo, mas é uma doença, uma tara.

Apesar de tudo isto, para os comentadores e jornalistas cá do burgo, como já o foi nos outros países, o casamento dos padres, numa verdadeira e obsessiva campanha do activismo pelo fim do celibato eclesiástico, resolveria o problema dos abusos. Não resolve para aquela grande maioria dos abusadores que se encontram na sociedade civil e nas mais variadas instituições, mas resolveria na Igreja. Mas há mais. Para esta malta, que não acredita no casamento, importa é casar os padres à força. Não querem o casamento para si e o problema do sexo resolve-se com o «engate» momentâneo. Mas para os padres dizem-nos que a solução é casá-los a todos. Alguém percebe a lógica? Para quem não acredita no casamento, o problema da fornicação resolve-se com um encontro para o efeito e seja com quem for, para os padres querem convencer o comum dos mortais de que o casamento é a solução mágica.

Se o problema fosse o celibato, seguramente que não haveria mais abusos nas escolas ou nas famílias do que na Igreja. A nossa CS explora os abusos da Igreja porque procura «espectáculo» em vez de procurar justiça.

Mais de 84% dos casos de pedofilia, como vimos estes dias, acontecem em ambiente familiar. Ali não consta que haja celibato obrigatório, como na Igreja Católica.

Para estes treinadores de bancada, o problema dos abusos da Igreja trata-se com o casamento dos padres.

Agora, todos querem casar os padres.

E os padres, será que alguém os ouviu sobre o assunto? Dos que conheço, e são muitos, todos garantem que não querem outra vida se não a celibatária. Além do mais, se estão celibatários, de acordo com a regra e disciplina da Igreja, e se há algum que não concorda com a disciplina em vigor, apetece perguntar o que (ainda) faz numa instituição com cuja regra não concorda. Talvez a intenção seja clara. Afinal, após os supostos padres abusadores, teríamos padres divorciados, padres recasados, padres amantizados, padres viúvos, etc.

Padres que poderiam contar às mulheres o segredo da confissão dos paroquianos, etc.

Perante esta situação, quem confiaria nos padres?

Talvez seja esta a essência da proposta: minar, de modo definitivo, a confiança nos sacerdotes.

A propósito de tudo isto, importa perceber que, até agora, perante este flagelo, apenas a Igreja Católica se preocupou em o abordar e encontrar mecanismos para pedir perdão e evitar que os abusos continuem. No seio das famílias, nos clubes desportivos, nas escolas e tantos outros locais, onde há inúmeros casos de abusos, relatados diariamente na CS, alguém se tem preocupado com o assunto?

É de lamentar que só a Igreja, neste tema, reconheça as suas culpas, quando os estudos dizem que a maioria dos casos acontecem dentro do contexto familiar, seguindo o escolar, o associativo e, só no fim, o religioso e entre as religiões a Católica é a menos expressiva, não chegando a meio por cento. Evidentemente, que nem um caso deveria haver, como não deveria haver na família. Mas é estranho (ou talvez não) que só se faça publicidade e tanto pseudo-escândalo nos casos da Igreja.

Ainda sobre tudo isto, parece, para muitos, que importa que a praça pública substitua os tribunais, que a praça pública substitua os rigorosos processos de investigação criminal por inquéritos anónimos e as suspeitas ou denúncias, estas, passem todas a certezas e condenações.

Aqui chegados, se queremos acabar, de vez, com a pedofilia em Portugal, publiquem-se os nomes e as profissões dos 6.421 condenados por crimes sexuais contra menores, para que – finalmente! – se saiba quem é quem, e se ponha um ponto final a este clima de generalizada suspeição, nomeadamente em relação à Igreja católica e aos seus ministros.

Uma tal revelação seria injusta? Talvez os abusadores o considerem. Mas, por outro lado, parece que de modo nenhum, porque se trata de um crime público e essa divulgação é exigida pelo bem comum, como medida preventiva. Por outro lado, os condenados por este crime não têm direito a preservar um bom nome, ou fama, que não têm! Se, até à data, ninguém impediu a divulgação de nomes de padres que nem sequer foram julgados, nem condenados, com mais razão se pode revelar a identidade de criminosos já condenados. A CS, se não quiser ser cúmplice, não pode encobrir a identidade dos pedófilos condenados, até porque não procede desse modo em relação aos clérigos suspeitos e, por enquanto, inocentes.

De facto, é patente o enviesamento da CS na abordagem da pedofilia e de outros temas polémicos. A este propósito, por que razão se sabe o nome dos padres e não o dos professores, treinadores, políticos, etc., quando os primeiros são apenas suspeitos e os últimos já foram condenados? Por que razão, em relação à pedofilia, se pode dizer que o alegado agressor é sacerdote católico e divulgar o seu nome, mas não se pode identificar como cigano ou negro, o suspeito de um desacato ou de uma agressão?

Por que razão as mensagens racistas são censuradas, mas não os discursos de ódio contra a Igreja?

Divulgue-se, pois, quantos padres, professores, treinadores, políticos, etc., foram condenados por pedofilia. Se o Parlamento não autorizar, ou o Governo não o fizer, que a imprensa reconheça que são essas instituições que, de facto, são as verdadeiras encobridoras, porque não estão interessadas em acabar com os abusos de menores no nosso país. Enquanto o Estado o não fizer, não o faça a Igreja, nem a Comissão Independente, pois estaria a ser cúmplice do sistemático encobrimento de 97% dos abusos de menores. O Estado não pode exigir a verdade sobre 3% dos crimes de pedofilia e, ao mesmo tempo, encobrir os restantes 97%! São precisos católicos – leigos, padres e bispos – que não tenham medo de defender a Igreja e de exigir ao Estado a verdade a que todos, como cidadãos, temos direito. Já é tempo de a Igreja portuguesa denunciar a discriminação e a tremenda hipocrisia.

Haverá coragem?


José de Carvalho

Fonte: Inconveniente

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