Há 105 anos, a 19 de Janeiro de 1919, no Monte Pedral, no Porto, numa cerimónia presidida pelo Coronel Henrique de Paiva Couceiro, deu-se o Acto Formal de Restauração da Monarquia Portuguesa:
‘Soldados!
Essas foram sempre as cores de Portugal, desde Afonso Henriques em Ourique, na defesa da nossa terra contra os moiros até Dom Manuel II mantendo contra os rebeldes africanos os nossos domínios em Magul, Coolela, Cuamato, e tantos outros combates que ilustraram as armas portuguesas.
Quando em 1910 Portugal abandonou o Azul e Branco, Portugal abandonou a sua história! E os povos que abandonam a sua história são povos que decaem e morrem.
Soldados! O Exército é, acima de tudo, a mais alta expressão da Pátria e, por isso mesmo, tem que sustentá-la e tem que guardá-la nas circunstâncias mais difíceis, acudindo na hora própria contra os perigos, sejam eles externos ou internos, que lhe ameacem a existência.
E abandonar a sua história é erro que mata!
Contra esse erro protesta, portanto o Exército, hasteando novamente a sua antiga Bandeira Azul e Branca.
Aponta-vos Ela os caminhos do Valor, da Lealdade e da Bravura, por onde os portugueses do passado conquistaram a grandeza e a fama que ainda hoje dignifica o Exército de Portugal perante as nações do Mundo!
Juremos segui-la, soldados! E ampará-la com o nosso corpo, mesmo à custa do próprio sangue! E com a ajuda de Deus, e com a força das nossas crenças tradicionais, que o Azul e Branco simbolizam, a nossa Pátria salvaremos!
Viva El-Rei D. Manuel II!
Viva o Exército! Viva a Pátria Portuguesa!‘
Às 13 horas do dia 19 de Janeiro de 1919, o Comandante Henrique de Paiva Couceiro, à frente de um milhar de soldados e algumas peças de artilharia, entra no Porto e Restaura a Monarquia Constitucional, na pessoa d’El-Rei Dom Manuel II, depositário de 771 anos de História de Portugal! A Monarquia é restaurada primeiro no Monte Pedral, no Porto, onde estavam reunidas em parada as tropas monárquicas, contingentes de Infantaria 6 e 18, de Cavalaria 9, de Artilharia 5 e 6, do grupo de metralhadoras, da Polícia e da Guarda Republicana, e ainda um pelotão de Cavalaria 11 diante de Paiva Couceiro, uniformizado de oficial de Artilharia, e, montando a cavalo. As forças ouvem a proclamação monárquica, lida por Satúrio Pires, fiel apoiante e grande amigo do Coronel Paiva Couceiro, e, depois, o alferes Calainho de Azevedo, de Cavalaria 9, desfralda a Bandeira Azul & Branca. Depois, em desfile as tropas seguiram pelas ruas do Porto até ao quartel-general onde estava o Governo Civil, na Praça da Batalha. Era tal a maré de gente a apoiá-los nas ruas que o automóvel onde seguia Paiva Couceiro só com muita dificuldade lá chegou. Aí, às 15 horas, foi lida por Baldaque de Guimarães uma nova Proclamação, arrolando as causas e os objectivos do movimento, assim como a atribuição a Paiva Couceiro da Regência do Reino em nome D’El-Rei Dom Manuel II de Portugal, após o que a banda da Guarda voltou a tocar o Hino da Carta ouvindo-se simultaneamente 21 tiros de salva do Quartel da Serra do Pilar. No fim, foi desfraldada a Bandeira Azul & Branca. A Junta Governativa do Reino, que ficou sob o comando do Comandante Henrique Mitchell de Paiva Couceiro, tomou posse às 17 horas, na sala de reuniões da Junta Geral do Distrito, perante a presença do representante da Diocese do Porto, reverendo D. Teófilo Salomão, que receberia o juramento dos membros. A comissão da Restauração declarou em vigor a Carta Constitucional e indicou como ministros da Junta Governativa do Reino: o Conde de Azevedo, o Visconde do Banho, o Coronel Silva Ramos, Luís de Magalhães e Sollari Allegro.
Gerou-se, imediatamente, uma grande manifestação popular espontânea de apoio à Restauração da Monarquia e, por toda a cidade, as bandeiras realistas azuis e brancas foram colocadas nas janelas, varandas e principais monumentos como na Torre dos Clérigos - que para o efeito foi escalada exteriormente por um intrépido rapaz de 20 anos, António Gonçalves Dias de Azevedo, a 21 de Fevereiro de 1919 -, no Palácio da Bolsa, etc.
O entusiasmo a Norte do país foi gigantesco! Todo o Norte e algumas povoações do centro aderiram à Monarquia: o Minho e grande parte da Beira eram completamente realistas. Em Viana do Castelo a adesão foi total, e, a 25 de Janeiro, restaura a Monarquia com uma Proclamação nos Paços do Concelho.
A linha da frente monárquica ficou perto de Ovar. O Sul manteve-se, quase na sua totalidade, republicano, mas as tropas monárquicas lideradas por Ayres d’Ornellas, lugar-tenente d’El-Rei D. Manuel II, que sempre servira a Pátria e o Rei com denodo, fosse como militar ou, ulteriormente, como Ministro de Estado e da Marinha no Ministério de João Franco, estavam estacionadas, em Monsanto, ponto estratégico para bombardear e dominar a cidade de Lisboa, enquanto as republicanas se agrupavam para atacar essas posições.
A 24 de Janeiro de 1919, Ayres d’Ornellas telegrafa de Monsanto a Paiva Couceiro, informando:
‘Situação óptima. Bandeira azul e branca acaba de ser içada em todos os quartéis. Temos 30 bocas de fogo e três batalhões de infantaria, toda cavalaria, muita polícia e inúmeros civis. As adesões continuam. Viva a Monarquia! - Ayres d'Ornellas.’
Em Monsanto, a Bandeira Azul e Branca foi hasteada pelo herói João de Azevedo Coutinho, ex-governador-geral de Moçambique (1905-1906), Conselheiro de Sua Majestade Fidelíssima, 53.º Governador Civil do Distrito de Lisboa, e, por duas vezes, Ministro da Marinha e Ultramar (1909-1910) nos últimos governos da Monarquia Constitucional Portuguesa.
Mas os estudantes académicos radicais de Lisboa, futuros bacharéis pífios como os que os armavam, tinham-se reunido no dia 22 de Janeiro de 1919, no quartel das Janelas Verdes e formaram um Batalhão Académico, para participar no recontro do Monsanto, onde com os Batalhões Cívicos da Formiga-branca e grande parte da Marinha – onde foram pescados a generalidade dos primos da Carbonária para fazer a Revolução de 1910 -, atacaram as forças monárquicas.
Os confrontos, em Lisboa, prolongaram-se por 5 dias, durante os quais se defrontaram ferozmente Monárquicos e republicanos, com uma intensa batalha de artilharia, que fez muitos mortos e feridos de ambos os lados, tendo morrido ao todo 39 pessoas e ficado feridas 330. As forças monárquicas, cercadas, ficaram sem mantimentos e munições e sem possibilidade de evacuação e tratamento dos feridos. Sem munições, os monárquicos foram atacados por todos os lados, inclusive foram bombardeados pelos hidroaviões republicanos pilotados por Sacadura Cabral e Santos Moreira, e, assim, Ayres de Ornellas com algumas centenas de monárquicos do Regimento de Lanceiros 2, forças de Cavalaria 4, 7 e 9, tiveram que se refugiar no forte de Monsanto, só que com terreno pouco propício para a arma de cavalaria, acabariam por se render.
Apesar desta derrota dos monárquicos, o país encontrava-se claramente dividido e continuava a ser governado por dois governos, um republicano em Lisboa e outro monárquico no Porto. Contudo era a Norte, que a Monarquia tinha prevalecido.
Após a vitória de Lisboa, as forças republicanas dirigem-se ao Norte do país, começando por submeter toda a Beira, incluindo a sua capital Viseu e muitas outras povoações.
Seguiram depois para a Régua e Albergaria, que após violentas refregas dominaram. Muitas unidades militares do Norte ao saberem da vitória dos republicanos em Monsanto, passaram-se então para o lado republicano.
Na cidade do Porto, os radicais republicanos começaram a manifestar o seu apoio à República, reunindo-se no Monte da Virgem.
As forças republicanas dominavam toda a logística do país, por terra, mar e ar, apresentando uma grande vantagem numérica e de armamento em relação às forças monárquicas: controlavam os abastecimentos de comida e munições, a pequena força aérea de hidroaviões e essencialmente dominavam todos os portos do país. As forças monárquicas em inferioridade clara decidiram constituir companhias de reservistas como o formado pelos estudantes da Universidade do Porto, de ideologia monárquica – que na Monarquia tinham constituído a Mocidade Monárquica e a Legião Azul - e que ficou conhecido por Real Batalhão Académico do Porto. Outros eram formados por gente pobre dos campos, sem preparação e mal equipada. Não era suficiente… a Monarquia soçobrava!
Na manhã de 13 de Fevereiro, foram realizados os derradeiros actos da Monarquia do Norte: na sede do Batalhão Real do Porto foi descerrado um retrato d’El-Rei Dom Manuel II e a Junta Governativa do Reino publicou o seu 15º Diário da Junta, último acto oficial da Monarquia do Norte.
O Comandante Paiva Couceiro encontrava-se fora do Porto, a inspeccionar as tropas no Picoto e em Espinho. Aqui anunciaram-lhe que vingara uma revolta republicana após a entrada de batalhões do C.E.P. vindos do Sul. O Regente em nome do Rei ainda marchou com as tropas monárquicas para o Porto, mas no caminho, a população ia avisando os soldados da coluna monárquica, da revolta republicana, e estes começam a desertar. Nesse mesmo dia, a Guarda Real, infiltrada pela formiga-branca e por radicais republicanos, revoltou-se e, ao fim de 25 dias, restabeleceu no Porto a República, acabando de vez com a guerra civil e o sonho da Restauração da Monarquia.
Começava a “caça às bruxas” – tanto ao gosto republicano-; os ministros da Junta Governativa do Norte e muitos militares monárquicos foram presos, julgados sumariamente e condenados a penas de prisão seguidas de degredo, ou então poderiam optar por uma pena única de degredo.
Durante este período foram cometidas enormes violências contra os presos políticos: os velhos republicanos repuseram no poder a República Velha e com ela as perseguições aos monárquicos, o desgoverno, a instabilidade política, a ditadura de partido único, a anarquia, a fome, a violência e o revolverismo.
Aproveitando o fim da Monarquia do Norte, os republicanos conseguiram acabar com o sidonismo, e implantaram de novo um regime parlamentar anti-democrático e de lutas intestinas.
Portugal perdera o seu momento!
Henrique Mitchell de Paiva Couceiro, o último grande Herói português, o grande patriota, o Comandante Monárquico, exila-se em Espanha.
Honra a todos os Heróis que participaram na contra-revolução que restaurou a Monarquia Portuguesa e que ficou conhecida por Monarquia do Norte.
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