Recomendo a leitura do corajoso e brilhante artigo do padre Fernando Calado Rodrigues, no JN, deste 22-11-2023: “O que leva clérigos à maçonaria?”.
A posição oficial da Igreja Católica – dos Papas e da Congregação para a Doutrina da Fé – sempre foi clara: a pertença à maçonaria é incompatível com a condição de católico. Não se trata apenas das doutrinas opostas que a maçonaria professa – como o antidogmatismo, a gnose e o deísmo (ou o ateísmo na maçonaria dita irregular) – e o secretismo, mas também da discriminação negativa dos não membros da organização (os designados “profanos”) face aos “irmãos”, que consiste num elitismo desumano.
Para uma mais abrangente compreensão da incompatibilidade filosófica entre cristianismo e maçonaria leia-se, de Ullate Fabo, “O segredo maçónico desvendado”, 2010. Na perspectiva política contemporânea sobre a acção nefasta da maçonaria em Portugal, permito-me recordar o meu poste Do Portugal Profundo, em 9-12-2008, «A influência da Maçonaria na III República portuguesa».
Deve ser louvada a reafirmação pelo prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, cardeal Víctor Fernández, fez, em 13-11-2023, a rogo do Papa Francisco e por ele aprovada, e que transcrevo:
”Ao nível doutrinário, deve dizer-se a filiação activa de um fiel à maçonaria é proibida, devido à irreconciliabilidade entre a doutrina católica e a maçonaria (cf. a Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé de 1983 [elaborada pelo então prefeito cardeal Joseph Ratzinger, e o secretário bispo Jérôme Hamer, e aprovada pelo Papa João Paulo II] e as mesmas Directrizes publicadas pela Conferência episcopal em 2003). Portanto, aqueles que formalmente e conscientemente estão inscritos em lojas maçónicas e abraçaram os princípios maçónicos, se enquadram nas disposições da Declaração acima mencionada. Essas medidas também se aplicam a eventuais eclesiásticos inscritos na maçonaria”.
A Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé de 26-11-1983, agora reiterada, estipulava que “os fiéis que pertençam às associações maçónicas encontram-se em estado de pecado grave e não podem aceder à Santa Comunhão”.
Se a filiação na maçonaria é irreconciliável com a condição de católico, é ignominiosa a pertença de um padre a essas organizações e ainda mais aviltante a de um bispo e até de um cardeal. No caso português, como denunciei, a pertença de um bispo à maçonaria, mesmo que à sua versão regular, tal como a participação de cardeais em ágapes maçónicos ou debates em bares, denotava uma degeneração da Igreja nacional, que esta tem de reparar, nomeadamente no Patriarcado de Lisboa. Mais, a progressão da maçonaria nas elites políticas e sociais do País para além dos grandes centros, controlando as canónicas misericórdias e fora locais, tem aumentado a promiscuidade de clérigos com as fraternidades maçónicas, um problema muito grave que a Conferência Episcopal Portuguesa deveria clarificar, na sequência da posição reiterada do governo da Igreja universal.
”Se o sal se corromper, com que se há-de salgar?” (Mateus, 5:13).
António Balbino Caldeira
Director
Fonte: Inconveniente
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