As notícias internacionais veiculadas pelos meios de comunicação dominantes ocidentais vêm maioritariamente de três grandes agências de notícias globais: a Associated Press (AP) de Nova Iorque, a Thomson-Reuters de Nova Iorque/Toronto e a Agence France-Presse (AFP) de Paris.
Os jornais e televisões podem ter correspondentes em diversos países para obter notícias sobre o que acontece pelo mundo. Mas muitos não dispõem de correspondentes próprios suficientes e recorrem por isso às agências para aceder a notícias internacionais. Das cerca de cento e quarenta agências noticiosas do mundo, apenas vinte delas são totalmente independentes dos Estados. Porém, a maioria trabalha em cooperação, celebrando contratos de partilha entre si, pelo que muitas notícias internacionais nos jornais e televisões são uma “cópia-colagem” de notícias de alguma agência.
Em Portugal, a Agência Lusa tem o Estado como accionista maioritário (50,14%), seguido da Global Media Group (23,36%) e Impresa (22,35%) e outros menores como a NP – Notícias de Portugal, Público, RTP, O Primeiro de Janeiro e a Empresa do Diário do Minho. A Lusa também faz “cópia-colagem” de grande parte das notícias internacionais, limitando-se a traduzi-las para Português e passando-as depois à imprensa nacional que as divulga colocando num canto a palavra “Lusa” que é a fonte próxima da notícia. Se formos à notícia da Lusa, poderemos encontrar referência à “Reuters” ou “AFP”, etc.. Mesmo assim, o original pode ser por vezes difícil de localizar.
Pode-se daqui inferir que, quando um determinado acontecimento importante no estrangeiro não é divulgado em Portugal, foi porque as agências não quiseram ou foram impedidas de o fazer por quem as detém, e os meios de comunicação dominantes não se dão ao trabalho de pesquisar outras fontes, quanto mais não seja valendo-se das redes sociais ou de páginas alternativas na Internet.
Muitas semanas (ou meses) se passaram sem que a imprensa nacional divulgasse uma única notícia sobre os protestos dos agricultores europeus contra a política agrícola comum (PAC) da UE. Só quando os agricultores portugueses começaram também a acordar é que o assunto passou a ser tratado nas notícias porque já não era possível escondê-lo. Mesmo assim sem qualquer destaque e fazendo o público crer que era um assunto complexo e que cada país tinha uma razão específica que nada tinha a ver com a agenda climática da PAC, com as proibições e os constrangimentos que ela impõe aos agricultores, favorecendo assim os produtos mais baratos importados de países que não têm os mesmos regulamentos.
Mais recentemente, temos o caso do activista de direita Sérgio Tavares que se deslocou ao Brasil para fazer a cobertura da manifestação pela liberdade de 25-2-2024 convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. À sua chegada ao aeroporto de Guarulhos em São Paulo, Sérgio Tavares foi tratado como criminoso pela Polícia Federal Brasileira, teve o seu passaporte apreendido, foi submetido a um interrogatório político e ficou retido cerca de 4 horas no aeroporto antes de ser liberto, graças a um advogado que lhe foi enviado por Jair Bolsonaro. Quase toda a imprensa brasileira relatou o incidente mas em Portugal nem uma linha correu e nem uma imagem se mostrou nos meios de comunicação dominantes. A própria manifestação, que juntou mais de 700 mil pessoas na Avenida Paulista, foi praticamente ignorada. O mundo do silêncio abafou este acontecimento e, para grande parte das pessoas, nada de grave se passou no Brasil. Na tal manifestação estiveram, segundo as agências de notícias, apenas alguns milhares de apoiantes.
O activista Sérgio Tavares tem sido uma das poucas fontes de notícias internacionais – de que não se ouve falar em Portugal -, tal como os protestos dos agricultores europeus, notícias à margem da reunião anual do Fórum Económico Mundial (WEF), os problemas com as vacinas Covid, o mito das alterações climáticas antrópicas, a geoengenharia, a corrupção, o atropelo dos direitos humanos, etc..
De uma forma geral, o mesmo acontece com outras notícias de outras fontes que são deliberadamente mergulhadas no mundo do silêncio, em regra notícias sobre factos ou situações que desmontam as narrativas oficiais predominantes sobre a política, sobre a ideologia de género, sobre clima, imigração, etc.. Somos levados a concluir que existe uma mão invisível que simplesmente corta com o lápis azul aquilo que não convém que chegue às “massas ignaras”. Estas narrativas oficiais estão tão difundidas que passaram a estar integradas nos algoritmos de redes sociais, motores de busca e também na IA, constituindo uma barreira quase impossível de derrubar, uma censura a nível global.
Falando de lápis azul, o próprio Sérgio Tavares está ciente que a situação por ele vivida no Brasil foi abafada pela imprensa portuguesa, apressando-se a CCPJ (Comissão da Carteira Profissional de Jornalista) a esclarecer que ele não é jornalista (como é tratado na imprensa brasileira) e, talvez por isso, não tenha estatuto que mereça referência no jornalismo português, apesar da importância da denúncia que faz sobre o estado da democracia no Brasil! O esclarecimento da CCPJ terá sido motivado pelo facto de hoje a Internet permitir (ainda) divulgar informação que as agências e os meios de comunicação controlados e sustentados pelo Estado gostariam de esconder do grande público.
Henrique Sousa
* Título de um livro do explorador oceanográfico Jacques-Yves Cousteau que também deu origem a um filme com o mesmo nome.
Fonte: Inconveniente
Sem comentários:
Enviar um comentário