Pintura 'A Batalha de Alcácer-Quibir', por Mestre José Manuel Soares (1932 – 2017), Circa 1989, Museu José Manuel Soares, Pinhel
Dom Sebastião nasceu em 20 de Janeiro de 1554, e pelo facto, de ser o herdeiro tão esperado para dar continuidade à Dinastia de Avis, Dom Sebastião, foi cognominado d’O Desejado; mas é também recordado como O Encoberto, devido à lenda messiânica que prevê o seu regresso numa manhã de nevoeiro, para salvar a Nação Portuguesa dos males que a assolam.
Neto do Rei D. João III, D. Sebastião torna-se herdeiro do trono depois da morte de D. João de Portugal, seu pai, apenas duas semanas antes do seu nascimento. Era pois, filho do Príncipe D. João e de D. Joana de Áustria. D. Sebastião herdou o trono de seu avô, o Rei D. João III, porque, apesar de este ter tido vários filhos, todos eles acabaram por falecer precocemente. Em 1557, com a morte do avô, ascende ao trono - Rei com apenas três anos – tornando-se o Décimo sexto rei de Portugal (1557-1578). Na menoridade de Dom Sebastião a regência é assegurada pela avó D. Catarina da Áustria e depois pelo tio-avô Cardeal D. Henrique.
Aos 14 anos Dom Sebastião I de Portugal é Coroado, Aclamado e Alevantado Rei de Portugal e assume os destinos e governação do Reino.
O facto mais importante do Reinado de D. Sebastião foi a batalha de 'Alcacer quibir', que traduzido significa algo como "grande fortaleza", e que foi travada no norte de Marrocos, perto da cidade de Alcácer-Quibir, entre Tânger e Fez, em 4 de Agosto de 1578. El-Rei sonhava com o engrandecimento pelas armas tal como os seus antepassados se haviam ilustrado, efabulação que a leitura dos Lusíadas por Camões ao Rei viria apenas acirrar. O motivo encontrou-o D. Sebastião, quando Mulei (sultão) Mohammed Mutavaquil solicita a sua ajuda para recuperar o trono que seu tio, Mulei Moluco, havia usurpado.
D. Sebastião manda abrir alguns sarcófagos reais, pedindo de empréstimo as armas de seus antecessores, como amuletos de sorte, para a empresa do Norte de África.
D. Sebastião planeja então uma 'cruzada' e a nata dos portugueses, liderados pelo próprio rei, aliados ao exército do sultão Abu Abedalá Mohammed Mutavaquil Saadi II, da dinastia Saadiana, partem para combater um grande exército saadiano liderado pelo sultão Abu Maruane Abedal Maleque I Saadi, o Mulei Moluco, que gozava do apoio dos alidados otomanos.
O Rei de Portugal ia combater em Pessoa, não mandava os soldados sozinhos, era o Comandante-em-Chefe e o primeiro a avançar. Adiantava-se mesmo, não ficava no conforto dos salões, assarapantado em hesitações. De resto como quase todos os Reis foi assim, para sempre servir os interesses supremos da Nação. Por isso não se pense que guerrear era um impulso básico, mas uma forma de manter a paz: si vis pacem, para bellum (lat) - se queres a paz, prepara a guerra. Gnoma ainda, hoje, seguido pelas nações, que procuram fortalecer-se a fim de evitar uma eventual agressão.
Mens sana in corpore sano (lat) - mente sã em corpo são -, frase de Juvenal, utilizada para demonstrar a necessidade de um corpo sadio para serviços de ideais elevados. Os nossos Reis conciliavam a capacidade e a capacitação inerentes a um soldado apto para comandar um teatro de guerra, sem descurar as faculdades intelectuais – a educação de Dom Sebastião fora entregue aos Jesuítas -, até porque o melhor dos generais é o mais inteligente dos homens. Nisso seguiam os exemplos clássicos de Alexandre e de César, os mais brilhantes generais e os mais ilustrados das respectivas épocas.
Muitas vezes, e não poucos, atribuem ao corajoso Rei Dom Sebastião I de Portugal a imaturidade na sua resolução na empresa de Alcácer-Quibir, ora que injustiça chamar irreflectido ao Rei-menino que com tão exemplar acto de bravura procurou manter o Império que herdara e que sofria as investidas das hordas mouriscas. A Coroa sempre serviu o Império português fosse em que parte fosse da sua dilatada extensão e que estivesse disso necessitada.
No Reinado de D. Sebastião os ataques dos piratas e corsários eram constantes na rota para o Brasil e a Índia, e os Almorávidas ameaçavam as possessões em Marrocos, pelo que investiu muito na protecção militar dos territórios construindo ou restaurando fortes e fortalezas ao longo do litoral, para proteger a marinha mercante.
Porventura, ficou o Desejado, na penumbra de uma tenda de comando jogando xadrez com as suas peças de cavalaria ou com os seus peões?! Não, não ficou, avançou temerário!
A batalha resultou na derrota portuguesa, com o desaparecimento em combate do rei D. Sebastião e o aprisionamento ou morte da nata da nobreza portuguesa - cerca de 7.000 nobres e homens de armas perderam a vida na batalha. Além do rei português, morreram na batalha os dois sultões rivais, dando origem ao nome "Batalha dos Três Reis" - como ficou conhecida entre os marroquinos.
A morte de D. Sebastião sem herdeiros diretos levou a uma crise dinástica em Portugal, a crise de Sucessão de 1580, pois com o fim da Dinastia de Avis, Portugal enfrentou a disputa pelo trono entre os pretendentes da Dinastia de Habsburgo (Filipe II da Espanha) e os partidários do Prior do Crato (D. António, neto de D. Manuel I), que o Áustria (Habsburgo de Espanha) venceria e que resultaria na perda da independência com uma monarquia dual e em 60 anos de domínio filipino.
Portugal teve ainda de pagar resgates para recuperar os cativos aprisionados pelos saadianos. Isso afetou a economia e as finanças do reino.
A Batalha de Alcácer-Quibir marcou o fim do período de expansão marítima portuguesa iniciado com a vitória na Batalha de Aljubarrota, não conseguindo Portugal manter sua posição como uma potência global.
Mas não se conte apenas o resultado desastroso da batalha que sucedeu em seguida lançando o nome Sebastião no auto dos arrebatados, mas sim como o resultado de uma maquinação estrangeira para anexar o Portugal que havia perdido e cobiçava desde os tempos em que aquele Dom Afonso I Henriques, Rei de Portugal, ilustre descendente dos Reais Capetos de França e dos Imperadores da Hispânia, formou a mais Augusta e Antiga Dinastia Peninsular, pois caso único no Mundo é um facto que a Monarquia Portuguesa conheceu quatro Dinastias, mas todas elas pertencentes à mesma Família.
A espada de D. Afonso Henriques perdeu-se na batalha, e a que regressou a Portugal, tendo sido indevidamente encerrada no túmulo de D. Afonso I, provavelmente terá pertencido a D. Afonso V. Por isso, a espada retirada do túmulo do 1º Rei de Portugal, na Igreja de Santa Cruz de Coimbra, em 1834, e tradicionalmente classificada como tendo pertencido a D. Afonso Henriques, é, pela sua tipologia, uma arma da 2ª metade do Séc. XV, ou seja, a espada do rei D. Afonso V.
Mas, não foi no Reinado de Dom Sebastião que se avançou pela África e foi fundada a cidade de Luanda, e não foi, também, no Seu Reinado que se consolidou o domínio da costa brasileira?! E se adquiriu Macau?! E a vitória dos Sarracenos em Alcácer Quibir foi uma vitória de Pirro, pois perderam grande número de guerreiros o que permitiria a vitória cristã em Lepanto.
A História diz qu’El-Rei Dom Sebastião I desapareceu em combate, há 446 anos, no momento decisivo da Batalha, juntamente com o escol da Nobreza portuguesa, no dia 04 de Agosto de 1578, em Alcácer Quibir. No entanto, alguns historiadores defendem que sobreveio, mas que foi convenientemente empurrado para o oblívio pelo usurpador castelhano e o seu partido de adesivos. A derrota na batalha alimentou o mito do "Sebastianismo": muitos acreditavam que D. Sebastião retornaria um dia para salvar Portugal, o que influenciou a cultura e a literatura portuguesas.
A Lenda diz ainda que voltará numa manhã de nevoeiro emergindo das nuvens do Tempo… Há quem prefira a História do vencedor castelhano, a história escrita pelo vencedor é sempre vae victis. Há, ainda, quem não esqueça a Lenda dentro da História.
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