domingo, 23 de janeiro de 2011

A Monarquia é também o mais poético dos regimes

Nos tempos de submissão á tirania do vil metal - quintessência do culto economicista que somos obrigados a praticar - dir-se-á que não há lugar para os poetas e seus devaneios.

A verdade, porém, é que é nos picos das carências e na angústia das incertezas que mais necessária ou mesmo imperiosa se torna a dulcificação pelo sonho.

Vive-se com menos pão e pior roupa, havendo fartura de sol e de luar.

Os amanhãs cantantes da promessa bolchevista viraram relâmpagos incendiários.

As faixas que haviam de substituir as coroas e as tiaras deram em tarjas de sepulcro.

Os nossos republicanos cujo plano de acção se concretizava - eles o disseram - bebendo o sangue do ultimo rei pela caveira do ultimo bispo ou enforcando o ultimo rei nas tripas do ultimo papa, geraram décadas de sanguinolenta balbúrdia.

Em Ourique, o nosso primeiro monarca desbaratou, semeando a morte nos seus arraiais, o terrível Almoleimar e os quinze emires, seus vassalos ou aliados, que o acompanhavam.

E todavia, Ourique, porque obra de um rei, tornou-se numa inesgotável fonte do mais puro lirismo.

Centenas de poetas tem glosado o tema, apesar disso sempre virgem, e alguns dos nossos melhores sonetos - género em que batemos o pai Petrarca - terminam evocando-o.

Nova manhã de Ourique se anuncia...

Vai despontar outra manhã de Ourique.

A matéria poética revela-se superabundante no longo historial das dinastias e precedendo mesmo a nacionalidade.

QUANDO NASCEU AO PÉ DO VERDE PINO
AINDA PORTUGAL, SE NÃO ME ILUDO,
ERA UM CONDADO INCERTO E PEQUENINO
SEM QUINAS NEM CASTELOS SOBRE O ESCUDO

Depois, tornou-se império

TEM DA AFRICA OS MARITIMOS ASSENTOS
E NA ASIA MAIS QUE TODOS SOBERANO
NA QUARTA PARTE NOVA OS CAMPOS ARA
E SE MAIS MUNDOS HOUVERA LÁ CHEGARA,

MAS

BARAO PORTUGALES DA RECONQUISTA
HOMEM RUDE DO SENHOR INFANTE
O MESMO SONHO A VIDA NOS EMBALA
QUALQUER QUE SEJA A ALMA EM QUE SE ASSISTA
GUERREIRO, TROVADOR OU MAREANTE
FOI SEMPRE A POESIA A NOSSA FALA,

E é efectivamente a um soneto aliás do autor destes dois tercetos e em formoso ditirambo a Almacave que vamos buscar a inspiração para o nosso tema de hoje.

Começaremos por transcreve-lo na íntegra, incarnando um daqueles circunstantes à embora mítica assembleia

ELES O AFIRMAM COM ASPECTO GRAVE
ELES O AFIRMAM COM PROFUNDA VOZ
E UM CORO IMENSO REBOOU NA NAVE
O REI É LIVRE E LIVRES SOMOS NÓS

O REI É LIVRE - E O GRITO DE ALMACAVE
NÃO FOI SOMENTE O GRITO DOS AVÓS
POR MAIS QUE O TEMPO EM NOSSAS VEIAS CAVE
NUNCA DESATA ESTES ANTIGOS NÓS

O REI É LIVRE. E COM SEU ELMO ERGUIDO
É PORTUGAL TORNADO CORPO E ALMA
NA SUCESSÃO DO TEMPO INDEFINIDO.

O SANGUE O DIZ E O SANGUE NÃO ENGANA
QUE VER O REI NA SUA FORÇA CALMA
É VER A PATRIA COM FIGURA HUMANA

Nesta simbiose entre o rei de elmo erguido e o corpo e alma da Pátria é que se consubstanciam a força e a poesia da instituição monárquica.

Manuel Leal Freire (monárquico e ilustre advogado da cidade do Porto, que interpreta, em prosa e verso, como ninguém a cultura portuguesa.)

Fonte:
PPM Braga

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