quarta-feira, 4 de julho de 2012

Rainha Santa Isabel


Isabel de Aragão, nasceu em Barcelona (Espanha) entre os anos de 1269 e 1270. É filha de D. Pedro III de Aragão e de D. Constança de Navarra, neta de Manfredo, rei de Nápoles e da Sicília, e de Jaime I, o conquistador.
O casamento entre Isabel de Aragão e o rei D. Dinis iniciou-se em 1281, com a vinda a Portugal dos procuradores de Isabel, nas pessoas de Conrado Lança e Bertand Villa Franca, e com a ida em 1288 a Barcelona dos procuradores do rei D. Dinis, nas pessoas de João Velho, João Martins e Vasco Pires. A entrada em Portugal na senda de materializar matrimónio inicia-se em Bragança e a cerimónia nupcial ocorre em dia de S. João (24 de Junho) de 1288, na vila de Trancoso.
A vida de Isabel de Aragão, enquanto rainha, regente e viúva, decorreu sempre em ambiente de piedade e humildade, lealdade e delicadeza, pedagogia e luta, uma constante aferida nas obras de carácter religioso ou profano que fundou ou patrocinou, de que são exemplos maiores os mosteiros e as igrejas, os hospitais e hospícios, as casas de recolhimento e os asilos.
Uma outra nota forte na vida da rainha foi a maneira como conduziu a vida de primeira dama, quer no cuidar dos filhos bastardos do rei, educação dos seus filhos, moralização da vida da corte e, acima de tudo, na abertura ao exterior do Paço e no auxílio dos pobres, doentes e desprotegidos da vida. A piedade de Isabel de Aragão ficou eternamente marcada com o milagre das rosas.
A sua obra material e espiritual é tamanha que desde então até ao presente mereceu admiração, carinho, veneração e honra do povo de Coimbra ao tomá-la e venerá-la como sua padroeira, ao povo de Alvor que a designou como padroeira da sua Misericórdia, ao papa Leão X que a beatificou em 1516 e ao papa Urbano VIII que a canonizou em 1625. Daí ser objecto de veneração permanente junto dos seus restos mortais no mosteiro de Santa Clara-a-Nova, em Coimbra, e aquando do aniversário da sua morte a cidade de Coimbra e a vila de Alvor cultuarem com pompa e circunstância festas em louvor e honra da Rainha Santa Isabel.
Morte em Estremoz
A 4 de Julho de 1336 (quinta-feira), após assistir à missa, comungar e cear com a nora D. Beatriz e os netos D. Pedro e a infanta D. Leonor, numa das salas do Castelo de Estremoz, finou-se Isabel de Aragão no maior dos silêncios e sublimidade a Deus.
Antes de morrer, Isabel de Aragão realizara a segunda peregrinação da sua vida a Santiago de Compostela. Ao regressar a Portugal, tomou conhecimento que o filho, o rei D. Afonso, se envolvera em guerra com o rei de Castela, seu neto. Na tentativa de conciliar os desavindos, empreendeu viagem até Estremoz, contra os conselhos da abadessa de Santa Clara e dos médicos assistentes. Estava cansada, doente e corria perigo de vida. Não aceitou os conselhos e realizou a viagem, conseguiu superar as desavenças, mas não evitou a morte.
Isabel de Aragão desde há muito vinha cuidando da sua morte, o que é notório em declarações de um primeiro testamento lavrado em 1314, onde declara querer ser sepultada em Alcobaça ou Mosteiro de Odivelas, junto do rei D. Dinis. Porém, a 2 de Janeiro de 1325, um segundo testamento revoga o primeiro. Nele afirma querer ser sepultada amortalhada no mosteiro de Santa Clara (a Velha) em Coimbra e que o corpo ficasse à guarda da abadessa do Mosteiro. Para o efeito mandou lavrar aos melhores santeiros da região um túmulo em pedra de Ançã.
Acontece que quer Isabel de Aragão, o rei e os conselheiros, quer o Mosteiro e a abadessa foram surpreendidos por uma morte rápida e distante de Coimbra. Por outro lado, o tempo era de intenso calor e a distância de Estremoz a Coimbra era longa.
A transferência do cadáver para Coimbra era problemática e o rei admitiu dar-lhe sepultura na Igreja de S. Francisco em Estremoz ou na Sé de Évora. Mas, a ser assim, não se cumpriria o desejo da rainha e isso era importante para o Reino. Os dados foram tratados convenientemente e a opção por Coimbra foi assumida, iniciando-se a preparação do cadáver para a trasladação.
Trasladação para Coimbra
O corpo da rainha foi convenientemente tratado com ervas aromáticas, vestido com o hábito de Santa Clara, embrulhado em lençol de linho muito fino e sobre este uma colcha bem grossa. Esta é finalmente envolta em pano de linho muito groso, cozido com uma agulha, e depois em algodão, de modo a que todo o volume ficasse bem fechado.
Sobre este volume colocou-se uma colcha de algodão branca e grossa e o corpo foi metido num caixão rectangular de madeira hermeticamente fechado e envolvido em pele de boi, com o pelo voltado para fora. Por fim, foi coberto com um pano de púrpura cuidadosamente repregado.
A 5 de Julho (sexta-feira) inicia-se a viagem para Coimbra, sob um calor abrasador, sendo o cortejo fúnebre acompanhado por muitos cavalheiros, damas da Corte e prelados, entre os quais se contava o bispo de Lamego, D. Frei Salvador.
Apesar das medidas preventivas, a interrupção da viagem foi admitida devido à vacilação do cadáver provocada pelos movimentos dos transportadores, já que durante o primeiro dia de viagem algumas das tábuas do ataúde despregaram-se e pelas fendas começou a escorrer líquido. O desespero apossou-se da caravana, o corpo entrava em decomposição e em breve se iria produzir um cheiro intolerante.
Mas a verdade é que o ataúde exalava cheiro agradável, uma situação devida às essências aromáticas usadas na preparação do corpo ou então devida a um fenómeno natural, o que levou os acompanhantes a proclamarem grande milagre.
A 11 de Julho, ao princípio da tarde e após sete dias de viagem, o cortejo fúnebre chega a Coimbra e entra na igreja do Mosteiro de Santa Clara, ao som das harmonias plangentes das freiras clarissas, gritos e lágrimas do povo do burgo de Santa Clara.
Exéquias e sepultura
As manifestações extremas de dor das gentes de Coimbra perante o corpo da rainha fez surgir no bispo e em personalidades da Corte o receio de que o povo violasse o ataúde para venerar a rainha e apoderar-se de alguma relíquia. O líquido continuava a sair pelas fendas do caixão, o que não aconselhava a que permanecesse mais tempo na igreja. Deste modo, deliberaram dar-lhe sepultura clandestina durante a noite. O que, porém, não aconteceu.
O corpo permaneceu durante a noite na igreja, velado pelas monjas clarissas. No dia seguinte (12 de Julho), pela manhã, iniciaram-se as exéquias com pompa e solenidade e muitos foram os sacerdotes regulares e seculares que rezaram missa nos altares da igreja do Mosteiro.
Após as exéquias, convidaram-se as principais pessoas da cidade de Coimbra a conduzir o caixão da igreja para a Capela Superior, o local onde a rainha mandara colocar o túmulo. Aquando da passagem do cortejo, acorreram às portas e janelas, em choros e lamentações, as senhoras do burgo, enquanto do ataúde escorria bastante líquido, a ponto de manchar as mãos e roupas dos transportadores do caixão. Entretanto, algumas pessoas aproximaram-se do caixão e rasgaram o pano de púrpura, visando guardar os pedaços.
Ao chegarem junto do sepulcro, aberto na véspera, introduziu-se o caixão fechado, tal como veio de Estremoz, encimado pelas insígnias de romeira de Santiago - bordão, conchas e bolsa de esmolas. Por fim, encerrou-se o sepulcro com a tampa.
Mudança em 1677
O túmulo de Isabel de Aragão deve ter sido construído entre os anos de 1329 e 1330. Aquando da sagração da Igreja do Mosteiro (8 de Julho de 1330), o túmulo estava feito e colocado no local escolhido.
Os restos mortais da rainha encontram-se actualmente na igreja do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, depois da trasladação (a segunda) em 29 de Outubro de 1677.
Durante a permanência em Santa Clara-a-Velha, o túmulo teve por identificação e companhia uma lápide, entretanto desaparecida, incrustada na parede da cabeceira em pedra azulada escura e caracteres góticos esculpidos e dourados, com o seguinte epitáfio:
Aos 4 de Julho de 1336 na cidade de Estremoz morreu a generosa Isabel, Rainha de Portugal e foi sepultada aos 12 do mesmo mês neste mosteiro de Santa Clara, que a mesma Rainha tinha mandado construir e dotado com um benefício [meios de sustentação]. Foi esposa do famosíssimo Dom Dinis, rei de Portugal e filha do rei Dom Pedro de Aragão e da rainha Dona Constança; era mãe de Dom Pedro Afonso, rei muito valoroso de Portugal e de Constança que se tornou rainha de Castela; foi avó estimada de Afonso de Castela e da rainha Maria, sua esposa.
Para com todos foi benevolente. A todos honrou e beneficiou. Que descanse em paz.

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