segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Roubado

Percorrer os sites de "informação", media, os blogges, ou redes sociais é um perigo para quem, como eu, sofra com a expressão "roubar"! Todos, ou quase todos, afirmam que estão a ser roubados, pelos outros. Subvalorizando a ira, eu diria que todos se sentem roubados por todos os que não são família ou amigos muito chegados; assim, eu serei um dos ladrões para a maioria. O alvo principal desta espuma são (por esta ordem) os políticos, gestores, presidentes (do que for), empresários, artistas, actores, funcionários públicos, agentes de autoridade, e congéneres, e todo e qualquer humano com sucesso. Todos roubam. Dito de outra maneira, todos roubam e é por isso que as "víctimas", que resmungam, não têm a quantidade de dinheiro que merecem! Esta ladainha já não é uma canção é uma fé. A obcecação pelo dinheiro alheio é um dos problemas da independência moral dos portugueses se abrirmos a página da ascensão e visibilidade social que a maioria almeja. Uma coisa é diagnosticar uma acção outra é contabilizar a acção. Eu penso que muita da lisura com que se trata a corrupção se deve à arquitectura da República e que esta tem na sua espinha os piores vícios para os cidadãos. Para mim, sem dúvida, a forma como a sociedade se organizou após o golpe terrorista de 1910 e a "revolução" de 1974 foi a mesma e com o fito de apropriação do bem comum, vulgo, o Estado (que devia ser uma entidade independente de políticas, gestão pública e governo parlamentar). Os portugueses gostam de ser roubados, parece, nem que seja para manterem o hábito de se sentirem roubados, e não só, para se refugiarem da própria inércia e da falta de coragem para arriscar.
Se esta crise servisse para os portugueses aprenderem com ela eu diria que é bem vinda. Mas não. Poucos irão perceber que a gestão do estado, nos últimos 30 anos, foi a principal razão do descalabro financeiro que está e irá afectar todos, sem excepção, poucos perceberão que também são responsáveis pelo "roubo" de que se sentem atingidos, poucos notarão que não têm a liberdade para escolher o regime em que vivem, poucos sentirão que a palavra "roubo" que exaltam devia ser substituída por "egoísmo", muito poucos terão vontade de mudar o que for porque mudar, transformar, limpar, construir com o nosso risco, exigir de nós tanto quanto exigimos aos outros é um roubo, um assalto, e não há nada mais grave neste mundo do que roubarem as "nossas" conquistas e direitos.

João Amorim
 

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