É bem certo tratar-se de uma efeméride ingrata a este regime que procurou ignorá-la. A magnífica vitória portuguesa - povo e exército - sobre a França napoleónica, consiste num daqueles temas incómodos para quem insiste em ver na invasão, a semente de um porvir prenhe de "modernidades" de recorte estrangeiro. São sempre os mesmos, precisamente aqueles que também ignoraram o espolinhar de deputações aos pés do Corso, a extinção por decreto da soberania nacional, o arriar da bandeira das quinas, a terra queimada, os roubos, violações, abusos de toda a ordem e a própria partilha do território português. As fidelidades mantêm-se tão arreigadas como naquela época e pior ainda, hoje estamos numa situação em que já não há Corte num Brasil que nos valha. Em suma, o regime ignorou aquela vitória que garantiu a independência nacional por mais algumas gerações. Há cento e dois anos, a Monarquia soube comemorar condignamente a libertação de 1810. O Rei D. Manuel II esteve no Buçaco, acompanhado pelo sucessor do Duque de Wellington e pelo nosso exército em entusiasmos que uma semana depois foram esquecidos no escuro cobarde das casernas onde se refugiou num demasiadamente habitual abstencionismo.Tal como hoje, um exército demasiadamente "quebra-espadas" e agarrado à defesa de interesses tão corporativos como qualquer bastoneirada de dentistas, engenheiros de amarga cepa ou contabilistas de caixa emperrada. A Biblioteca Nacional prepara uma exposição comemorativa da presença da Legião Portuguesa na campanha da Rússia. A Legião combateu no lado errado da história e embora os seus elementos pudessem ter sido muito mais úteis na defesa do solo nacional, bateu-se bem às ordens do nosso inimigo. Nestes tempos difíceis, valham-nos as recordações de um tempo e de uma gente bem diferente. Aqui vos deixamos a magnífica obra de Tchaikovsky, exaltando a epopeia da resistência do Império da Rússia à horda invasora. No final, os sinos, o Deus Salve o Czar e o nutrido canhoneio, dizem muito acerca da têmpera de um povo.
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