terça-feira, 14 de agosto de 2012

Batalha de Aljubarrota / Batalha Real

Aljubarrota 14 de Agosto de 1385

 "O exército português muda assim a sua posição uns 2Km para Sul, de forma a encarar o inimigo de frente, tal como um forcado quando enfrenta o touro. A "vanguarda" passa assim pela "rectaguarda", e quando estas duas se encontram, distribuem-se abraços entre os portugueses, muitos deles são conhecidos e familiares, desejos de "Boa Sorte" e "São Jorge", já uma clara influência da presença dos arqueiros ingleses na hoste.

Também Nuno Álvares e Dom João I se encontram, trocam rápidas impressões, e despedem-se, com a certeza de que se voltariam a encontrar mais tarde, se Deus assim permitisse.

Por volta do 12h30, os portugueses ocupam a nova posição, perante um forte sol de meio-dia que se levanta, e sempre atentos, ao longe, à movimentação do inimigo.

Agora, sob a orientação de Nuno Álvares Pereira, Antão Vasques de Almada, Mem Rodrigues de Vasconcelos e alguns ingleses dava-se inicío às escavações e construção de obstáculos, tarefa em que participaram todos os portugueses que estavam nas linhas da frente e alas. Abrem-se covas de lobo, fossas, amontoam-se troncos de árvores, disfarça-se os buracos com ramagens.
Eram 15:00 quando o quadrado se formou finalmente.
Na vanguarda estava Nuno Álvares Pereira com a sua Bandeira, na ala esquerda, chamada a Ala dos Namorados comandada por Mem Rodrigues de Vasconcelos estava uma enorme bandeira verde.
Na ala direita, a Ala da Madre-Silva, era comandada por Antão Vasques de Almada, pairava a bandeira de São Jorge.
A cerca de 200 metros atrás estava El-Rey Dom João I, na rectaguarda, com o seu estandarte real e as bandeiras de Avis.
Percorrendo a galope a vanguarda de um lado ao outro viu na cara dos seus homens, a sua própria sede, e decidido, foi até à ala direita, incumbindo Antão Vasques de Almada que fosse procurar àgua para os seus homens.

E assim foi.

Entretanto, no arraial castelhano, lá ao longe, discutia-se como se iria esmagar os portugueses. Continuavam a chegar mais tropas, cada vez mais, num turbilhão de lanças, espadas, cavalos, peões,
Parecia que toda a Espanha viera até ali, trazendo nos seus estandartes, a morte estampada.

Eis então que chega Antão Vasques de Almada a toda a brida.
Vai ter com o Condestável.
Nada.
Nem uma gota de água.
Os únicos riachos que encontrou estavam completamente secos, devido às altas temperaturas que assolavam esta época.

Quando isto ouviu, Nuno Álvares baixou tristemente a cabeça.
Anuiu a Antão Vasques para que se retirasse, e desmontando do seu cavalo, voltou para o pé da sua vanguarda, retirando o pesado elmo que levava sobre a sua cabeça.
Aos que mais sofriam com o calor e sede, Nuno Álvares confortou, abraçando-os, transmitindo palavras de esperança, ajudando-os a levantar, e compondo as suas vestes. Já apeado, andava pelo meio dos seus homens, que o olhavam com um misto de admiração e surpresa, por ver tão famoso e insigne capitão, partilhando a sua dor.

Também já Dom João I estava apeado, e tal como o seu amigo, ia percorrendo as fileiras, onde a todos distríbuía sorrisos e palavras de incentivo. Valoroso Rei aquele, a quem haveriam de chamar O de Boa Memória.

E era de notar, que também nas alas, os Ingleses permaneciam aí, partilhando laços de camaradagem cada vez mais fortes com os seus companheiros portugueses, laços esses que só são verdadeiramente "fortificados" em situações de sofrimento ou de guerra.

Estava-se a aproximar as 18:00, e grande era a azáfama e movimento de cavalos e homens entre o arraial castelhano. Era a momento em que se iria decidir o destino de Portugal.

É então que, verdade ou lenda, um rapaz aparece de repente vindo das florestas que rodeavam o campo e dirige-se até ao quadrado português.
Aí aguarda, observa, e é então que consegue ver o célebre estandarte do Condestável na frente do quadrado.
Dirige-se até aí e vai ter com Nuno Álvares Pereira. Entrega-lhe uma bilha cheia de água, para poder saciar a sua sede.
Só pode ter sido um sinal de Deus!
Um sinal de São Jorge!
Nuno Álvares apenas bebe um golo, entregando a bilha aos seus companheiros para que partilhassem a água por aqueles que mais precisassem.

Sentindo-se um pouco melhor, Nuno Álvares Pereira monta no seu cavalo.
Apenas ele.
Percorre a vanguarda a galope, gritando palavras de incentivo, com a sua espada na mão, tal como no monumento da Batalha.
"Portugueses, lutai por vossa terra!"
"Ânimo!"
"Se sóis vós descendentes do grande Henriques, então provai-lo agora, que Deus e São Jorge estão de olho em vôs!"
As palavras de Nuno Álvares, tão cheias de patriotismo e ardor, incendeiam no coração dos Portugueses a vontade e a força, fazendo chorar até os mais fortes.
Não querendo nenhum deles passar por cobarde, cerram fileiras, espetam as lanças no chão e aguardam a vinda da morte.
Nuno Álvares, desce do cavalo, ajoelha-se no chão, pede protecção para si e para os seus homens, beija a terra e levanta-se, colocando o elmo com a viseira aberta.

Vira-se para trás, de sorriso no rosto, olha para os seus homens e diz:
"Amigos, que ninguém duvide de mim"

Todos sabem o que se seguiu.
Após a vitória, Dom Nuno Álvares Pereira mandou edificar naquele mesmo sitío onde lhe apareceu o rapaz com a bilha de água e onde tinha permanecido o seu estandarte, uma ermida a São Jorge.
 

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