quinta-feira, 20 de junho de 2013

Dia de Portugal e os vícios do Sistema





Passou mais um 10 de Junho, dia de Portugal, uma vez mais com duas comemorações, uma de Portugueses em Lisboa e outra dos republicanos, em Elvas, com todos os tiques rituais, mais as vaias populares à chegada do chefe do Estado e do Primeiro-Ministro.


Se as destinadas ao chefe do Executivo são normais, no contexto de tecnocrática insensibilidade com que temos vindo a ser governados, embora decorrente das obrigações a que fomos condenados pelo recurso à "troika", já as que foram dirigidas ao chefe de Estado são uma vergonha nacional, que só se justifica por se tratar de um ex-Primeiro-Ministro, configurando um dos piores vícios do sistema que temos.


Ainda por cima, trata-se do que foi o principal coveiro do sector primário em Portugal, aceitando trocar toda a nossa agricultura e pescas por um prato de lentilhas, aquando da nossa adesão à CEE, proclamando, para quem se não recorde, o homem novo português, da classe média e afecto a serviços e turismo, aqueles que o actual governo mais estrangula fiscalmente e que foi um dos muitos responsáveis pelo gigantismo incomportável a que chegou a função pública, hoje igualmente ameaçada com perda de empregos, de regalias e passagens compulsivas à reforma.


Mas o cúmulo do paroxismo destes festejos foi o discurso em que o dito-cujo, durante dois terços do tempo, exibindo estatísticas actuais, procurou inocentar-se do crime cometido há muitos anos como Primeiro-Ministro, não hesitando sequer em afirmar que modernizou e aumentou a produtividade agrícola nacional, o que de facto ocorreu já após o seu consulado e apesar dele. Se tivesse a noção do cargo que ora desempenha, um pouco de decoro institucional e uma réstia de vergonha na cara, ter-se-ia abstido de abordar assunto tão delicado quanto antigo.


Culpados, na verdade, são todos os Portugueses que, na ilusão de que a sua opinião é respeitada, vão votando, acrítica e ciclicamente, em ex-chefes de partidos para um cargo de representação nacional, para o preenchimento do qual, com evidentes vantagens, a Instituição Real, com séculos de glorioso serviço ao País e muito menos despesas para o orçamento, muito melhor serviria.


Dom Vasco Teles da Gama


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