quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

D. CATARINA DE BRAGANÇA E O CHÁ DAS CINCO



Em 1661, a Rainha regente D. Luísa de Gusmão, digníssima viúva d’El Rei Dom João IV, o Restaurador, declarou em cortes o contrato nupcial, aprovado pelo Conselho de Estado, do casamento da Infanta Dona Catarina Henriqueta de Portugal com o Rei Carlos II de Inglaterra. Seguiu-se um contrato de paz, com artigos muito curiosos, publicado no Gabinete histórico, de Frei Cláudio da Conceição, onde vem a descrição do real consórcio: «0 nosso augusto Soberano Lorde Carlos II, pela Graça de Deus, rei da Grã-Bretanha, França e Irlanda, Defensor da Fé e a Ilustríssima Princesa D. Catarina, Infanta de Portugal, filha do falecido D. João IV, e irmã de D. Afonso, presente rei de Portugal, foram casados em Portsmouth na quinta-feira, vigésimo segundo dia de Maio, do ano do N. Sr. de 1662, 14.º do reinado de SM, pelo R. R. F. in G. Gilbert, Bispo Lorde de Londres, Deão da Real Capela de Sua Majestade na presença de grande parte da nobreza dos domínios de Sua Majestade e da de Portugal.» Dona Catarina não foi uma rainha popular em Inglaterra por não ter descendência e por ser católica - o que a impediu de ser coroada -, mas é da sua responsabilidade a introdução do chá em Inglaterra.

Natural da China, o chá foi introduzido na Europa pelos portugueses no século XVI.
Assim, Dona Catarina de Bragança deixou pelo menos a Inglaterra o hábito de beber chá que se tornou um dos hábitos tipicamente britânicos, mas que não foi o único: deixou o costume do consumo da geleia de laranja, para além de lá ter introduzido o uso dos talheres – pois antes disso os ingleses comiam com as mãos, mesmo a aristocracia mais fina que levava os alimentos à boca com três dedos (polegar, indicador e médio) da mão direita e do tabaco, legando dessa forma uma importante herança cultural.

O hábito de beber chá já existiria, num período em que a Companhia das Índias Orientais o estava a vender abaixo do preço comercializado pelos Holandeses e o anunciava como uma panaceia para a apoplexia, epilepsia, catarro, cólica, tuberculose, tonturas, pedra, letargia, enxaquecas e vertigem – um verdadeiro cura tudo e mais alguma coisa -, mas foi Dona Catarina de Bragança que o transformou na "instituição" que os ingleses hoje conhecem por “Chá das Cinco”, o tão famoso quanto imprescindível "five o'clock tea". Bravo, Dona Catarina, pela herança que deixou!

Acresce que, o consumo deste produto era apanágio das esferas mais altas da sociedade. Em consequência, também, surgiu a expressão: “Ter falta de chá!”, dirigida a alguém que não tem educação ou que não tem maneiras, uma vez que o chá era originariamente consumido por famílias nobres, presumidamente mais sofisticadas. Hoje, claro que numa sociedade burguesa e plutocrata, em que o dinheiro é o mote, não está garantido que haja na alta roda muito chá, até porque podem-no não ter tomado em pequeno e uns são ricos, mas outros têm apenas dinheiro!

Com este artigo iniciamos uma rubrica de interesses históricos sobre factos e figuras que muitas vezes são ignorados pela ciência histórica mainstream, com a certeza de continuaremos com os artigos de fundo mais sérios e doutrinários!

Miguel Villas-Boas

Fonte: Plataforma de Cidadania Monárquica

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