Completam-se hoje (8 de Abril) 98 anos sobre a Batalha de La Lys. Os bravos soldados portugueses foram empurrados pela República Velha, então em fase embrionária e carecida de afirmação, para morrerem nesta Guerra que, pelo menos na Europa, não era a sua.
O Corpo Expedicionário Português (CEP) é o nome do contingente militar de 105.542 homens enviado pela 1.ª República Portuguesa para combater ao lado dos aliados durante a Iª Grande Guerra como forças expedicionárias para Europa e ilhas atlânticas. Para além disso para África seguiram ainda quase 85 mil homens para defender as colónias portuguesas.
Ao contrário da Divisão do Exército que em África defendia as colónias contra os avanços alemães, a expedição para a Frente Ocidental europeia foi uma opção política isolada do governo republicano do Partido Democrático de Afonso Costa – consecutivamente à implantação da república, Afonso Costa nomeado Ministro da justiça do governo provisório (sem eleições) de 5 de Outubro de 1910 a 4 de Setembro de 1911, anuncia novo programa político do partido republicano em 29 de Agosto de 1911, considerado como o partido único da República -, contra quase todo o resto da sociedade portuguesa dividida entre ‘guerristas’ e ‘antiguerristas’ – a maioria -, com propósitos de afirmação e legitimação do novel regímen republicano. Também, em território nacional, a guerra, provocara um agravamento das condições de vida, com aumento galopante dos preços dos bens essenciais, gerando uma escalada de violência que se traduziu em ataques bombistas, greves e motins quase diários, e como tal para evitar um derrube do regime houve a necessidade de meter o País na Grande Guerra para desta forma afastar os possíveis ‘golpistas’.
Para o Teatro de Operações da Europa seguiram logo 55.165 militares portugueses para combater um inimigo técnica e tacticamente superior.
Desde 1814 que Portugal não actuava operacionalmente naquele território europeu nem num ambiente de guerra intensa. Mas em Março de 1916 a República portuguesa, deliberadamente, requisitou os navios alemães detidos no Tejo, criando o ‘casus belli’ com o qual o Império Alemão declarou guerra a Portugal entrando assim o País na Guerra de duvidosas causas, mas como veremos de perniciosos efeitos.
Assim começou a preparação das forças do Exército Português que combateram em França. Foram instruídas, equipadas e armadas pelos britânicos, porém, o comando do CEP foi português, embora submetido ao caixilho britânico durante a instrução militar, o transporte em navios britânicos e o seu gradual ingresso em sector e, uma vez, instalado na frente, subordinado hierarquicamente ao comando do I Exército Britânico.
A guerra das trincheiras era uma novidade para os militares portugueses habituados que estavam à táctica do quadrado que já vinha desde a de boa-memória Batalha de Aljubarrota. Assim, em La Lys, no dia 9 de Abril, os alemães elegeram propositadamente o sector português sabendo que este seria o ponto mais frágil. Os alemães atacaram justamente no dia em que o contingente português se preparava para ser rendido. Na batalha, embora, existissem extraordinários actos de bravura – como o de Milhões – o saldo de mortandade foi enorme com cerca de seis centenas de mortos e bem mais de seis mil prisioneiros. Ao meio dia, os últimos esforços de resistência terminavam e com eles a Divisão Portuguesa deixava de contar como unidade militar. Os que não tinham sido mortos ou feitos prisioneiros retiravam desorganizadamente para a retaguarda.
Depois disso, o Comando Britânico dispensou da operacionalidade o contingente português remanescente, remetendo-o para trabalhos de organização do terreno, transformando os heróicos militares portugueses em ‘batalhões de trabalhadores’.
A 11 de Novembro de 1918 foi assinado o Armistício entre os Aliados e a Alemanha pondo um terminus àquela que fora até à altura a mais mortífera guerra da humanidade. Depois do Desfile da Vitória, entre Abril e Junho de 1919, o contingente português regressou à Pátria.
200 mil Portugueses foram mobilizados e combateram na Europa e em África, só 55.000 bravos do contingente do Corpo Expedicionário Português na Flandres. 7.500 soldados portugueses perderam a sua vida e 14.062 foram de alguma forma vítimas da Iª Guerra Mundial, seja como mortos, feridos, prisioneiros e mesmo incapacitados por stress pós-traumático. Além destas baixas foram imensuráveis os custos sociais e económicos que tiveram consequências superlativas para a capacidade nacional, e, os objectivos que levaram os responsáveis políticos da 1ª República a empurrar os jovens para a guerra saíram gorados em toda a linha. Ao invés da unidade nacional pretendida pelo novel regime saído do golpe revolucionário do 5 de Outubro gerou-se ainda mais instabilidade política que levaria primeiro ao golpe sidonista e, em 1926, à queda da República Velha.
Como escreveria Fernando Pessoa, em 1919:
“Anda o povo a passar fome
E quem o mandou para França
Não tem barriga para o que come
Nem mãos para o que alcança”
É pois fácil tirar as devidas conclusões, mas não se pode olvidar a HEROICIDADE ESTÓICA DOS JOVENS PORTUGUESES ATIRADOS PELA REPÚBLICA VELHA PARA UMA GUERRA QUE NÃO ERA A SUA, NEM TÃO POUCO DA NAÇÃO.
Miguel Villas-Boas
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