sábado, 17 de novembro de 2018

O Dia do Juízo: os responsáveis pelo extermínio dos luso-khmeres

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Foram ontem condenados a prisão perpétua os últimos dois grandes hierarcas do Angkar (a "organização"), aliás Partido Comunista do Camboja - vulgo Khmeres Vermelhos. O que nos espanta nestes homens é a ascendência social. Todos, sem excepção, são homens de formação superior, oriundos de famílias abastadas e muito beneficiadas, quer durante o protectorado francês (1863-1954), quer durante a monarquia. Não se trata de canalha desclassificada e embrutecida, de analfabetos e gente que sofreu fome e marginalização. Olhando para eles, podemos sem dificuldade afirmar tratar-se de senhores. O pormenor que se vai agigantando na análise do percurso de todos e cada um passa pela Universidade: Pol Pot foi bolseiro em Paris, Khieu Samphan também o foi e Nuon Chea foi bolseiro na prestigiada Universidade Thammassat em Bangkok.

Estes homens mataram em nome de uma ideia (a revolução) e de uma ideologia (o comunismo), cevaram a vida a dois milhões de compatriotas, vandalizaram e quase levaram à extinção a cultura, decretaram o fim do ensino, declararam guerra à medicina, mataram 90% do clero budista e aniquilaram as minorias religiosas e as minorias étnicas. Fizeram-no deliberadamente, com método e entusiasmo e continuariam a executar o seu plano se, entretanto, não tivessem sido afastados da governação. Reuniram-se nas cercanias de Angkor, a glória do seu povo e decretaram a morte de tudo o que lembrasse o passado. Durante três anos e meio lançaram uma tela negra sobre os campos, chacinaram sem piedade e nunca exibiram a menor vacilação. Entre as suas vítimas, os luso-khmeres, a minoria católica surgida no século XVI e que por muitos séculos ocupou relevantes funções palativas e na alta administração do Estado. Foram quase todos exterminados. Hoje, fez-se justiça e lembramos aqueles nossos irmãos executados pela matilha de Pol Pot.

MCB

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