A Vida de Nun'Álvares é um bocado de História com movimento, com todas as emoções que Oliveira Martins sabe dar à sua escrita e aos seus personagens. O Condestável, de início um simples escudeiro, viúvo aos 26 anos, dono de metade de Portugal, acabou repartindo a sua riqueza pelos antigos companheiros de armas e enveredar pela ascese no seu mosteiro do Carmo.
«Confiança, a confiança que há na consciência da força, não existia. Mas havia a fé: a esperança num milagre como aquele que o ano passado salara Lisboa, semeando a peste nos arraiais inimigos. Qual seria o milagre salvador de agora? Ninguém podia dizê-lo; mas confiavam todos, que um milagre viria; porque D. João I parecia predestinado, e o seu condestável figurava-se às imaginações atónitas como um anjo vindo dos céus, S. Miguel, ou S. Tiago, armado pela mão de Deus para o combate com energias invencíveis».
É o que se lê logo na primeira página do capítulo dedicado a Aljubarrota. Onde, quase juraria, ouvimos ainda agora o entrechoque das armas, as invectivas dos capitães, o relinchar dos cavalos espetados nos piques. O milagre, afinal, foi o excesso de confiança dos castelhanos, a sua soberba, e o génio e a coragem, a força de Nun'Álvares.
Recentemente canonizado. Confesso, esse não é para mim o mais importante do que foi o grande Homem. Canonizado estava ele, há muito, na sua estátua na Batalha. Porque ali não se retrata um combatente, antes uma chefia, um carácter forte, toda a tranquilidade de quem sabe defender uma causa justa.
João-Afonso Machado
Fonte: Corta-fitas
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