Convém sair da monomania das escravaturas e contrariar os berrantes, oferecendo como antídoto a pavorosa história da África pré-colonial. Hoje, para localizar um autor que escrevera sobre a Ilha de São Lourenço, ou seja, Madagáscar - de que há basta informação na documentação e crónicas portuguesas dos séculos XVI e XVII - consultei a edição actualizada da Cambridge History of Africa, volume V (1790-c.1870), dirigido pelo insuspeito John E. Flint. O capítulo dedicado a Madagáscar é simplesmente aterrador. No reinado de Ranavalona I, aquela ilha maior do que a França transformou-se num imenso cemitério, tamanhas as atrocidades cometidas pelas guerras, fomes artificiais, trabalhos forçados, perseguições religiosas, massacres e execuções públicas ali praticados. Entre 1840 e 1880, a população declinou de seis milhões para 2.5 milhões. Para contrariar a inapelável quebra demográfica, o Reino de Merina transformou-se no maior comprador mundial de escravos, calculando-se entre 1 e 1.5 milhões os escravos importados do continente negro.
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