“As nações europeias são ovos cozidos. Não se podem fazer omeletas com ovos cozidos.”
Charles de Gaulle, sobre a União Europeia.
O Presidente da República (PR) deu uma entrevista que foi publicada no jornal “Público” do pretérito dia 31 de Março. Sobre a União Europeia (UE).
O conteúdo merece algum comentário, desde já pelo facto de ter sido dada a uma jornalista conhecida pelo seu europeísmo e federalismo.
É importante começar por dizer isto para situar a coisa.
Por outro lado, dado o estilo de Marcelo Rebelo de Sousa (MRS), como PR e pessoa, nós não sabemos ao certo, em que condição é que ele deu a entrevista, pois às tantas é difícil distinguir se é o Presidente das “selfies” que se diverte; o “piegas” dos sem – abrigo; o porreiraço do “está tudo bem e nós somos os maiores”; o comentador, que opina sobre tudo e todos; o repentista dos telefonemas em directo para a televisão, ou se está a falar de cátedra.
Ou seja, saber se o devemos levar a sério ou não.
Optemos, na circunstância, por o levar a sério.
Comecemos pelas frases primeiras e, provavelmente, não precisaremos de sair delas.
A jornalista começa a dizer-nos que para MRS a “Europa não dispõe hoje de um centro político ou de uma liderança suficientemente forte para enfrentar os desafios internos e externos, que tem pela frente. Angela Merkel está enfraquecida. Passada a crise do euro, durante a qual França e Alemanha dominaram, o eixo Paris-Berlim não se renovou com a entrada em cena de Emmanuel Macron.”
Pergunta-se: é suposto a Europa, melhor dizendo, a União Europeia (UE) – constituída, lembro, por 28 países – ter uma liderança (individual)?
A UE não é uma entidade supranacional (apesar de jurídica e politicamente mal definida), constituída por um conjunto de países que decidiram cooperar e juntar sinergias, fazer coisas em comum com regras iguais ou idênticas?
É suposto ter uma liderança? E havendo uma liderança ela tem que ser personificada em alguém? Esse, “alguém”, foi votado em eleições? É-o por direito divino? Foi eleito/designado, pelos seus pares? Onde se enquadram as lideranças rotativas por países?
Ou estará à espera que apareça, sei lá, um Carlos Magno que pela sua verve, sabedoria ou energia cinética do murro, arraste a ele, Marcelo, e os seus pares atrás de uma cruzada qualquer? (esta da “cruzada” tem graça pela ironia…).
E porque havia de ser a senhora Merkel – que por acaso se chama Kastner, ou Mácron (curiosamente de nome próprio Emmanuel, que quer dizer “Deus connosco”), uma espécie de “enteado” dos Rothschild? E porque será que tem que haver um eixo Paris-Berlim, ou outro qualquer? Será que somos todos iguais como dizem, ou há uns mais iguais que outros?
Ou será, que nunca deixou de haver a hierarquia das Nações, como todos sabem, mas escamoteiam?
Porque é que ele, Marcelo, descendente (por herança histórica) de “Gamas e Albuquerques”, não arranja um “eixo” qualquer e se candidata a líder da tão famigerada Europa que, nos dias que correm, quase não passa de uma realidade geográfica para onde os nativos de outros continentes desaguam como rios sôfregos de encontrar um mar?
E se o decidisse teria ele, MRS, ou o Estado Português como tal, meios para o fazer? Claro que não tem. Por isso se contenta em clamar para “outrem” aquilo que eventualmente gostaria de ver feito – o que não deixa também de ser uma forma de desculpa…
Será que a “liderança” do dia-a-dia não deve caber ao Comissário Europeu que responde actualmente ao chamamento pelo nome de Juncker, um ser curioso, dada a sua aparente dificuldade em caminhar em linha recta entre dois pontos?
E isto segundo os tratados e leis existentes e as orientações dos lideres dos diferentes países, quando estes deliberam (Conselho Europeu)?
Abre-se aqui um parêntesis para referir o Parlamento Europeu que ninguém sabe muito bem para que serve, tirando o facto de ser uma espécie de prateleira dourada de políticos dos diferentes países que os seus “patrões” nacionais pretendem enxotar por incómodos, ou premiar por “serviços” prestados e que, por norma, passam o tempo a viajar para os respectivos países sexta-feira, cedo e a regressar segunda-feira, tarde, enquanto coleccionam bens e regalias materiais através de empresas maioritariamente sediadas no Luxemburgo.
Voltando às palavras, certamente afectuosas e de crítica fraternal – não fosse ele um assumido católico (progressista?) – do nosso PR, em criticar a liderança europeia, quererá ele insinuar que ficaremos contentes com qualquer liderança que desponte na Europa? E poderá ser húngara ou polaca? Ou tem que ser alemã ou francesa?
Esta eventual liderança deve sobrepor-se ao Parlamento Europeu? À Comissão Europeia? Enfim, às Instituições Europeias?
Mas diga-me senhor Presidente, como é que se pode liderar cerca de 4,5 milhões de Km2, habitados por 500 milhões de almas (melhor dizendo “corpos” pois a alma foi-se perdendo há muito…) apostados em suicidarem-se colectivamente, por causa da demografia negativa (deixaram de querer ter filhos!) importam migrantes em quantidade e qualidade impossíveis de integrar; desistiram ou renegaram a sua matriz cultural e religiosa; têm vergonha da sua História; não se querem defender; assumiram a cultura da morte e o relativismo moral; estão todos politicamente divididos em ideologias divergentes e antagónicas, etc.?
Ou seja, são visceralmente diferentes uns dos outros; divididos pela História, pelo Clima, pela Geografia, pela idiossincrasia própria, os hábitos, a gastronomia, etc., que durante 2000 anos viveram em guerra e agora vão-se unir, em décadas, porque uns castiços imbuídos de ideias nem todas elas confessáveis, entendem que o deviam fazer? E o senhor Presidente lastima-se porque não há uma Liderança? Mas como? Quer arranjar uma polícia europeia para impor uma ditadura?
Ainda não reparou que aquilo que constituía o alicerce ancestral dos países europeus, ou seja o Cristianismo, sobretudo desde S. Bento, a Razão Grega e o Direito Romano, se começaram a esfarelar desde a Reforma e a Revolução Francesa e estão hoje uma sombra do que já foram?
O Senhor pensa que isto tem conserto e queixa-se que não há liderança neste caos controlado, que foi sendo criado pelas próprias lideranças ao longo dos tempos?
Será que ainda não percebeu porque é que a maioria dos britânicos (mais velhos ou não) votou pelo "Brexit"?
Ainda não deu conta que a única coisa que Bruxelas sabe fazer, perante qualquer problema que surja, é atirar dinheiro para cima dele? E que o dinheiro agora é controlado pelo Banco Central Europeu, que por acaso está dominado por accionistas privados? Ou seja o dinheiro não pertence aos Estados nacionais, logo não pertence aos contribuintes?
O cerne da UE é e será sempre, um problema geopolítico.
Há dois factores fundamentais na Geopolítica: a Geografia e o Carácter do povo. Ora a Geografia não muda e o carácter do povo muda muito devagarinho, quando muda…
Não há nada de novo debaixo do Sol.
E por mais voltas que se dê, o General De Gaulle tinha razão (e isto de haver um francês com razão em algo é, já de si, extraordinário): os ovos estão cozidos, não servem para omeletas.
Bem nos parecia que não sairíamos da análise das primeiras frases.
E, bem vistas as coisas, nem sequer é preciso.
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)