terça-feira, 2 de julho de 2019

Deixem os nossos grandes em paz!

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas em pé, árvore, céu e ar livre

Duas notícias que só não aparecem ligadas na cabeça de quem não quer abrir os olhos: em Lisboa, no Campo das Cebolas, confirma-se o aparecimento de um "memorial" e "centro interpretativo" da escravatura; em Santarém, o monumento a Pedro Álvares Cabral, localizado junto da igreja onde repousa o capitão, vandalizado com um texteco infame e absurdo: "Colonialismo é fascismo".

O que está a acontecer? Assistimos - sejamos francos, pouco fazendo para parar a marcha dos vândalos - não somente à manipulação da História, mas até à sua inversão: a História transforma-se em anti-História; a sua celebração, ritual essencial à construção dessa cidadania activa, positiva e comprometida que é o patriotismo, é ostensivamente proibida e diabolizada; os heróis de ontem são deitados por terra, cumulados de injúrias patéticas, os seus bustos partidos, os seus monumentos rabiscados, a sua defesa reduzida a "fascismo", a "colonialismo", a "supremacismo". Ao mesmo tempo, essa anti-História recém-surgida é-o na plenitude do termo: não tem método, não é ciência, não busca a verdade, despreza patentemente a ferramenta essencial do labor historiográfico sério (a compreensão do contexto, do momento, do tempo) e converte o passado em mera arma para os combates políticos do presente. O "memorial à escravatura" que se pretende fazer em Lisboa não tem que ver com memória ou com escravatura. Se é sobre a escravatura, como aqui há tempos lembrava o Professor Luís Filipe Thomaz, por que o fazem em Lisboa, uma cidade cujo controlo directo sobre o tráfico negreiro foi sempre, na melhor dos casos, precário? Se o "centro interpretativo" é um projecto histórico e pedagógico em lugar de um bizarro totem de lamentações artificiais, "interpretará" o papel essencial, central, primeiro, insubstituível das monarquias negras da costa africana na criação do tráfico negreiro para as Américas? Recordarão que as sociedades que os portugueses encontraram na costa de África eram todas elas esclavagistas, e que todas elas escravizavam mulheres e homens negros? Se o centro for coisa interessada na verdade da escravização de africanos, lembrará que não foram os portugueses ou qualquer outro povo europeu, mas a civilização árabe-islâmica, os primeiros implementadores da escravatura em larga escala de povos negros? Evidentemente, nem "memorial", nem "centro" são projectos de boa-fé. São projectos políticos e animados por um ódio irracional à História, à tal memória que é seiva da cidadania e à própria ideia de cidadania (de fidelidade a uma comunidade política enraizada no passado, em instituições próprias e numa ideia de si mesma). Trata-se, portanto, de uma guerra a Portugal, e assim tem de ser entendida.

O ataque ao monumento a Álvares Cabral é um insulto a Portugal e ao Brasil, sim, mas é antes de mais uma ofensiva contra o bom senso. Álvares Cabral não era fascista (o fascismo é um fenómeno do século XX); não era racista ou supremacista (o racialismo data do século XIX); não era colonialista, pois Portugal não teve, no sentido que hoje atribuímos ao termo, "colónias" antes do século de Oitocentos. Degenerando esta onda de histeria - universitária de início, hoje de rua - em violência concertada contra o património, exige-se das autoridades mão dura, dos cidadãos vigilância e das instituições trabalho - quer de denúncia, quer de esclarecimento. Para isso tem e continuará a Nova Portugalidade a servir, percebendo-se mais claramente a cada semana e mês que passam que ela apareceu no momento certo, e que cada vez mais é necessária.

RPB

Sem comentários: