sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Dos revolucionários de 1834 e de 1910

 

Em Portugal somos hoje um povo medonhamente deseducado pela inepta pedagogia que nos intoxica desde o princípio do século XIX até os nossos dias.

O Marquês de Pombal teve a previsão desta crise quando por ocasião da expulsão dos Jesuítas ele procurou explicar que o aniquilamento da Companhia de Jesus não decapitaria a educação nacional porque os eruditos padres da Congregação do Oratório vantajosamente substituiriam como educadores os Jesuítas expulsos. (...)

Vieram, porém, mais tarde os revolucionários liberais de 34, os quais condenaram, espoliaram e baniram os padres da Congregação do Oratório, como Pombal espoliara e banira os padres da Companhia de Jesus.

A obra liberal de 1834 – convém nunca o perder de vista – foi inteiramente semelhante à obra republicana de 1910. Nos homens dessas duas invasões é idêntico o espírito de violência, de anarquismo e de extorsão. Dá-se, todavia, entre uns e outros uma considerável diferença de capacidade.

Os de 34, de que faziam parte Herculano, Garrett e Castilho, eram espíritos oriundos da Academia da História, da livraria das Necessidades e do colégio de S. Roque. (...)

Os novos revolucionários de 1910, com excepção honrosa dos que não sabem ler, não tiveram por decuriões senão os seus predecessores revolucionários liberais de 34. E daí para trás – o que quer dizer daí para cima – nunca abriram um livro com medo da infecção clerical, porque todos eles acreditam com fetichístico ardor que o clericalismo é o inimigo, segundo a fórmula célebre com que o príncipe de Bismarck conseguiu sugestionar Gambetta para a irremediável desmembração moral da França.

Ramalho Ortigão in «Últimas Farpas», 1916

Fonte: Veritatis

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