sábado, 12 de setembro de 2020

Heróis pobres e não accionistas

 A imagem pode conter: texto que diz "Estado português da Índia Portuguese India Inde portugaise Portugiesisch-Indien Surate (Surat) 1540 Diu 1535 Hughli (Hooghly, Hugli) und Bandeh Damão (Daman) Dadra Baçaim (Bassein) Nagar-Aveli (Nagar Haveli) 1534-1739 Bahia (Bombay) Insel Salsete (Salsette, Sashti) 1534-1661 534-1737 Chaul (Tschoul Chittagong Goa 1509-1961 Mangalore (Mangaluru) (Masulipatnam, Machilipatnam) 1598 Laquedivas Laksadweep) Paliacate (Pulicat) Cannanore (Kannur) Tomé de Meliapore (Mylapore) 523-1749 Kalikut (Calicut, Kozhikode) Cranganore (Kodungallur) Thoothukudi (Tuticorin) Cochin 1502 1502-1663 Coulao (Quilon, Kollam) Malediven (5n) 658"

Em meados de 1691, o aventureiro alemão Egelbert Kaempfer, autor de uma Histoire naturelle, civile, et ecclesiastique du Japon, passou por Ayutthaya, então capital do Sião, tendo vivido por algumas semanas no bandel dos Portugueses. Foi convidado por um sacerdote português para se instalar na cabana onde este vivia. O sacerdote dormia numa esteira, tinha uma gamela, um copo, uma garrafa e o mobiliário de tão pobre choupana limitava-se a uma arca onde se guardavam livros e paramentos. Pelas paredes e no tecto, lagartos insectívoros, únicos companheiros do missionário, deslocavam-se pachorreiramente comendo moscas e mosquitos. Era assim que viviam aqueles pobres do mundo, líderes das cristandades espalhadas pelo espaço de missionação do Oriente. Quanto a São Francisco Xavier, o Apóstolo das Índia, morreu em Sanchoão aos 46 anos de idade, minado pela exaustão e pela doença. Na choça que lhe servia de abrigo, tinha como únicos bens uma esteira de vime, um manual e uma bíblia.


Para quantos estão familiarizados com a leitura das chamadas Cartas ânuas (anuais) que os missionários jesuítas na Ásia enviavam aos seus superiores na Europa, a pobreza, as privações e perigos por que passavam esses homens não deixa de nos encher de espanto.


Esta foi a marca que Portugal deixou no Oriente. Ao invés, outros europeus que por lá passaram em busca de riqueza, não deixaram sulco. Por mais que percorramos o que subsiste da acção e presença de holandeses naquela parte do mundo, ali quase não ficaram vestígios materiais, culturais e humanos. É essa a grande diferença que muitos teimam em não assumir.


MCB


Fonte: Nova Portugalidade

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