Em meados de 1691, o aventureiro alemão Egelbert Kaempfer, autor de uma Histoire naturelle, civile, et ecclesiastique du Japon, passou por Ayutthaya, então capital do Sião, tendo vivido por algumas semanas no bandel dos Portugueses. Foi convidado por um sacerdote português para se instalar na cabana onde este vivia. O sacerdote dormia numa esteira, tinha uma gamela, um copo, uma garrafa e o mobiliário de tão pobre choupana limitava-se a uma arca onde se guardavam livros e paramentos. Pelas paredes e no tecto, lagartos insectívoros, únicos companheiros do missionário, deslocavam-se pachorreiramente comendo moscas e mosquitos. Era assim que viviam aqueles pobres do mundo, líderes das cristandades espalhadas pelo espaço de missionação do Oriente. Quanto a São Francisco Xavier, o Apóstolo das Índia, morreu em Sanchoão aos 46 anos de idade, minado pela exaustão e pela doença. Na choça que lhe servia de abrigo, tinha como únicos bens uma esteira de vime, um manual e uma bíblia.
Para quantos estão familiarizados com a leitura das chamadas Cartas ânuas (anuais) que os missionários jesuítas na Ásia enviavam aos seus superiores na Europa, a pobreza, as privações e perigos por que passavam esses homens não deixa de nos encher de espanto.
Esta foi a marca que Portugal deixou no Oriente. Ao invés, outros europeus que por lá passaram em busca de riqueza, não deixaram sulco. Por mais que percorramos o que subsiste da acção e presença de holandeses naquela parte do mundo, ali quase não ficaram vestígios materiais, culturais e humanos. É essa a grande diferença que muitos teimam em não assumir.
MCB
Fonte: Nova Portugalidade
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