segunda-feira, 29 de março de 2021

A luso-khmer que fez frente aos Khmeres Vermelhos

 


Na Cathédrale de la Rizière, do Padre François Ponchaud, missionário francês que primeiro denunciou as atrocidades do regime do Kampuchea Democrático de Pol Pot, os testemunhos do metódico encarniçamento com que os verdugos perseguiram e exterminaram metade da população luso-khmer católica do Camboja entre 1975 e 1979. Acusados de serem seguidores da "religião dos vietnamitas" a que no Vietname se chama "religião Hoalang dos portugueses" (i.e. o catolicismo), para além de espiões da CIA, agentes do imperialismo e aliados do "feudalismo" (i.e. da monarquia), os luso-khmeres foram todos confinados em campos de concentração, submetidos à fome e a trabalhos forçados, ou simplesmente mortos.

Lídia era uma jovem religiosa cambojana de ascendência portuguesa. Enviada para um campo da morte, no leste do país, foi submetida a duros interrogatórios de que subsistem os registos meticulosamente anotados pelos instrutores do processo. Sabendo que estava antecipadamente condenada a morrer, perdeu o medo e fez frente aos interrogadores que a atormentavam.


- «Onde escondeste o teu Deus?
- "Não tenho qualquer imagem Dele. Escondi-O no meu coração".
- "Então, és uma espia vietnamita".
- "Não, sou cristã desde os meus pais, desde os meus avós, desde os meus bisavós e desde sempre, pois não conhecemos outra religião.»


Perplexos perante a coragem da prisioneira, os torcionários, reconduziram-na à sua cela, adiando o veredito. Felizmente, o regime de Pol Pot cairia pouco depois e Lídia salvou-se.


MCB


Fonte: Nova Portugalidade

oportunidades-mrec

Sem comentários: