terça-feira, 16 de março de 2021

A Verdadeira Cor de Marcelino da Mata

 


Juramento de Bandeira em 1976 – Marcelino da Mata no centro da imagem.

A raiz da nossa rubrica, depois de resguardada do frio das ponderações, volta a medrar com o sol da primavera patriótica. Desta feita, não abriremos as janelas da contemplação para as romarias dos nossos costumes e tampouco levantaremos as pedras misteriosas que reservam as lendas do antigamente.

O Tenente-Coronel Marcelino da Mata foi levado para a glória no dia 11 de Fevereiro de 2021 e a abertura do contraste retórico antecipou-se ao cerrar do seu túmulo emérito. Uma minoria de pulgas amnésicas, porventura pequeninas para a dimensão de um livro de história, metralhou o nome do militar mais condecorado de Portugal com as suas cuspidelas jacobinas e demenciais. Permitam-me o arrojo linguístico: mais do que condecorações, as vestes de Marcelino da Mata eram um céu de constelações militares. As almas lusitanas de Viriato, Nuno Álvares Pereira ou Conde de Nassau estendem uma passadeira condigna à entrada de Marcelino da Mata no nosso panteão militar. A espada de cada um destes heróis respirou da bainha por motivações que a história ditou como distintas, mas o mesmo fervor patriótico, alheio aos séculos e à negritude do tempo, abraçou o desígnio comum de defender a terra. Quem luta pela pátria expõe o pescoço da vida ao frio sepulcral de uma possível lâmina mortal. No longínquo século XV, os olhos dos navegadores portugueses (nomeadamente de Nuno Tristão) vislumbraram a Guiné-Bissau e foram esses olhares que acrescentaram, como se fossem um pincel sensorial, aqueles contornos africanos à nossa cartografia de conquistas. Os pés sulistas do nosso Algarve pisavam sobre o solo guineense. A Guiné-Bissau era tão portuguesa como a Beira ou o Minho, fazendo continência perante a mesma bandeira. Essa união, quebrada pela perfídia do homem mas eterna na portugalidade, só conheceu o fim no ano de 1974. A independência da Guiné-Bissau é uma adolescente cronológica ao lado de um sábio e simpático avô de pertença secular. Para o assunto aqui discutido, o entendimento acerca das aspirações independentistas das colónias é irrelevante.

Nascido no ano de 1940, Marcelino da Mata nunca traiu a Guiné-Bissau. Marcelino da Mata nasceu entregue ao solo da pátria portuguesa, integrado no Estado Português e filhos de pais portugueses. Acaso um polícia viseense e que detém um furtador de Viseu poderá ser réu de traição? Tal como Viseu, a Guiné-Bissau integrava o território unitário de Portugal, o eco palpável de uma glória imensa. As palavras de Marcelo Caetano, unindo o Minho ao Timor, não eram simples quimeras lusitanas, mas palavras ajustadas à factualidade. Os verdadeiros racistas são aqueles que impõem a pele à bandeira. Marcelino era negro e era português. Na verdade, como todos os portugueses, a sua cor era a cor da bandeira nacional. Os críticos de Marcelino da Mata, os racistas de um patético carnaval tolerante, esventram o coração do militar e impõem, como ditadores do espírito, a sua própria origem: “Não, tu és guineense! Um traidor que combateu contra os teus semelhantes e contra a tua terra.” É esta fabricação injuriosa que adultera os sentimentos de um homem ostracizado e perseguido, um fantoche de palavras revisionistas, vítima de um grupo de pescadores mentirosos que atira pão manipulado a um cardume de ignorantes. Os dedinhos miseráveis que apontam o dedo a Marcelino da Mata com acusações de crimes de guerra, pertencem às mesmas mãos que aplaudem sinistros ditadores ensopados de sangue.

O sismo africano abalava uma soberania portuguesa construída com o ferro dos séculos. Jesus Cristo, na coroa verbal da Sua autoridade, afirmou divinamente nos Evangelhos: “Portanto, quem ouve estas palavras e as pratica, é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram cotnra aquela casa, e ela não caiu, por tinha os seus alicerces na rocha.”– Mateus 7:24-25. Destarte, qualquer casa confina-se a tijolo embelezado sem a protecção dos seus habitantes. O verdadeiro arquitecto das casas é o sentimento de pertença. A casa nacional de Marcelino da Mata, o nosso Portugal, encontrava-se ameaçada por um prenúncio de tempestade sulista que bramia lá das Áfricas. Marcelino não se acobardou. Defendeu a casa no seu todo, esquivo de chorosas contemplações sobre a sua divisão berçária. Ainda assim, foi acusado de traição, quando a acusação é a régua que mede a expectativa do nosso ódio.

Hoje Viriato seria um genocida de romanos e Nuno Álvares Pereira um castelhanofóbico, mas a história é um juiz incorruptível, que afasta as mãos dos subornos da inversão. O Tenente-Coronel Marcelino da Mata será eternamente absolvido.

Francisco Paixão
Escritor, Historiador, Apologeta

Fonte: Notícias Viriato


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