quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Vida interrompida

Quem, de entre nós, não estará farto até aos ossos de ver tudo girar à volta do vírus chinês? Proveniente de um pangolim, de um morcego, de uma qualquer fuga laboratorial, de um ensaio de guerra biológica, quem sabe… Quem não detesta, execra, essa coisa monstruosa que ceifa vidas, interrompe o curso natural das coisas, deixando-nos cada vez mais perplexos, impotentes, zangados, incrédulos?

Expressões como “o novo normal” ou “vai ficar tudo bem”, nauseiam por falsas, mentirosas. Ninguém sabe quando, ou se, voltaremos a estar bem e, quanto a “novo normal”, normais eram as vidas que tínhamos antes desta praga. Nenhuma nova versão de vida poderá chamar-se normal. A verdade é que a praga, quando não retira a vida literalmente, retira aos mais velhos os escassos prazeres dos preciosos anos que lhes restam e, aos mais novos, os exuberantes prazeres de que poderiam desfrutar, que lhes são devidos.

It’s ok to grieve for the small losses of a lost year“, lia-se em parangonas no New York Times, em 15-3-2021. Quanto tempo de sofrimento mais nos espera? Explica-se que passou a haver uma sucessão de perdas aparentemente pequenas, mas que, somadas, merecem que se faça luto pela liberdade e despreocupação que perdemos.

Os adolescentes vão-no fazendo, talvez inconscientemente e noticia-se que para consultas de psicologia no serviço nacional de saúde para essa faixa etária há já listas de espera de seis meses. A farsa que constituem as aulas on-line, por mais que os professores lhes tentem dar sentido, é percepcionada apenas por quem está atento a tal irracionalidade. Com efeito, nunca a desigualdade de oportunidades foi tão acentuada, quer quanto aos meios informáticos disponíveis, quer quanto à ajuda, desleal, de familiares mais eruditos, se comparada à solitária aprendizagem dos filhos de iletrados.

Depois há os velhos (detesto e não utilizo a palavra “idoso”!), que inicialmente foram deixados à sua sorte, com enorme mortandade, e que agora se vêem, nos que muitas vezes são os últimos anos ou meses de vida, a braços com a indizível frieza da privação do convívio e de manifestações de afectos familiares. Por vezes, em lares (cruel eufemismo!), aprisionados e vendo a família através de vidros. Outras vezes, em suas casas, mas sem visitas, para que sejam “poupados” ao contágio.

Pelo meio, zangados sem saberem com quem, ou com o quê, os adultos tendem a exibir uma agressividade inusitada, desproporcionada. Os casais em teletrabalho ou reformados, cuja conjugalidade sobreviva ao convívio prolongado vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, ficarão certamente juntos até que a morte os separe…

Neste contexto, as vacinas surgem como salvíficas e os cidadãos acorrem em massa aos postos de vacinação. Mas, se ninguém nos consegue esclarecer com credibilidade sobre a origem do vírus, o mesmo se passa com o “remédio milagroso” destinado a libertar-nos, mas cada vez mais controverso. Se Israel, farol dessa suposta libertação, teve de voltar não à estaca zero mas quase, se os efeitos adversos da vacina, incluindo a morte, são envoltos na maior opacidade, o pobre cidadão acaba por sentir-se entre o fogo e a frigideira.

Como uma desgraça nunca vem só, tudo isto acontece quando temos um Governo tão sobredimensionado quanto ineficaz e imerecedor de confiança. Um Governo crescentemente opaco, nepotista, marcado por interesses escusos. Um Governo com cada vez mais tiques ditatoriais, lembrando regimes sul-americanos ou africanos, cada vez mais dissonante numa Europa civilizada.

Cresce a desconfiança e a população vai sendo tribalizada e alienada. Legisla-se para censurar o que talvez seja o último reduto da livre expressão, o digital, as redes sociais. Enquanto nesses meios surgem neologismos de carácter insultuoso como “covideiro” ou “negacionista” e os insultos e bloqueios crescem exponencialmente.

Como cereja em cima do bolo surge a totalmente irracional, ditatorial, exigência de certificados ou testes Covid para tudo o que seria normal em tempo de férias: a frequência de estabelecimentos hoteleiros e afins e, ainda, restaurantes. O desgraçado cidadão, completamente indefeso por falta de comparência de uma oposição eficaz, vê-se assim perante a impossibilidade de ter umas férias tranquilas, sem se sujeitar a uma vacinação que, nunca será demais acentuá-lo, não é obrigatória, ou em alternativa ver o nariz invadido de cada vez que vá a um restaurante.

De notar que estas leis iníquas, por vezes inconstitucionais, vão passando quase incólumes por uma Assembleia quase unanimista, um Presidente da República benevolente (estou a ser moderada…) e a cumplicidade do maior partido da oposição. A tempestade perfeita, em suma.


Isabel Pecegueiro


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