quarta-feira, 8 de junho de 2022

A 5 de Junho morria, há 579 anos, D. Fernando, o Infante Santo

 


D. Fernando de Portugal, conhecido como Fernando, o Infante Santo, nasceu em Santarém a 29 de setembro de 1402, filho do Rei D. João I e de sua esposa a Rainha D. Filipa de Lencastre, sendo o mais novo dos membros daquela que Camões viria a chamar de “Ínclita Geração”.
Fernando mostrar-se-ia desde muito novo um católico extremamente devoto, tendo sido nomeado Administrador da Ordem de Avis em 1434, pelo seu irmão e novo Rei D. Duarte.
O Papá Eugénio IV ter-lhe-á oferecido, no mesmo ano, o título de Cardeal, mas o Infante viria a recusar, estando mais interessado na luta da cruzada no Norte de África que numa vida religiosa.
Em 1437, Fernando participaria na expedição militar portuguesa ao Norte de África, comandada pelo Infante D. Henrique, que tinha como principal objetivo tomar Tânger. Os portugueses poriam cerco à praça em meados de setembro, mas seriam atacados e derrotados por um vasto exército marroquino liderado pelo vizir Abu Zacarias Iáia Aluatassi, de Fez, que viera em socorro dos seus aliados magrebinos.
Para evitar a total chacina das tropas portuguesas, seria negociada uma rendição pela qual as forças lideras pelo Infante D. Henrique poderiam retornar a Portugal em segurança, desde que a Coroa portuguesa devolvesse Ceuta, tomada em 1415. Como garantia da devolução desta cidade, os portugueses deveriam deixar em Tânger o Infante D. Fernando.
Fernando seria assim feito refém de Salah ibn Salah, Governador de Tânger e Arzila, tendo sido inicialmente levado para esta praça, onde seria bem instalado e lhe seria permitido assistir a missas católicas diariamente.
Em Portugal, no entanto, a Corte encontrava-se dividida entre os que apoiavam a entrega imediata de Ceuta em troca do Infante e os que consideravam que se deveria manter a cidade, por vias diplomáticas ou, se necessário, bélicas, mesmo que isso significasse a morte do Infante.
Em junho de 1438, seria tomada a decisão de manter Ceuta, tendo o Infante D. Henrique proposto outras estratégias para libertar D. Fernando, como pagar um resgate ou persuadir Castela e Aragão a libertar prisioneiros muçulmanos como moeda de troca.
As autoridades marroquinas ficariam extremamente irritadas com a decisão portuguesa, tendo transferido D. Fernando e a pequena comitiva que o acompanhava dos seus aposentos confortáveis em Arzila para uma prisão em Fez, em maio de 1438, onde seriam submetidos a uma dieta rigorosa de pão e água e forçados a realizar trabalhos manuais considerados humilhantes, como tratar dos jardins do palácio ou limpar os estábulos dos cavalos.
Com a morte de D. Duarte e a regência de D. Pedro que se seguiria, as negociações por D. Fernando conheceriam uma série de avanços e recuos que enfureceriam as autoridades marroquinas.
Quando não estava a realizar trabalhos manuais, o Infante passava os dias na sua cela a orar a escrever novas orações, tendo vindo a adoecer em 1443 e acabando por falecer a 5 de junho desse ano, há 579 anos.
Após a sua morte, as autoridades de Fez embalsamariam o cadáver de D. Fernando com sal, murta e folhas de louro e pendurá-lo-iam de cabeça para baixo nas ameias das muralhas da cidade, para exibição pública.
O sacrifício de D. Fernando pelos interesses portugueses valer-lhe-ia o epíteto de “Infante Santo”, tendo os seus restos mortais, por via de um tratado realizado por D. Afonso V, sido devolvidos a Portugal no início da década de 1470, sendo transladados para o Mosteiro da Batalha, onde ainda repousam.
O culto religioso a D. Fernando seria aprovado em 1470 e o Infante é considerado um dos Beatos portugueses da Igreja Católica.
A figura de D. Fernando encontra-se representada no Lado Poente do Padrão dos Descobrimentos.

Miguel Louro

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