sábado, 15 de outubro de 2022

Perigos da “Educação Integral em Sexualidade” na Escola

 Começa um novo ano lectivo e aumentam as preocupações daqueles pais que ainda não abriram mão de serem os principais educadores dos seus filhos, que sabem que a Escola estatal foi transformada numa linha de montagem de futuros revolucionários.

À escola, no início de cada ano lectivo, chegam crianças com experiências de vida muito difíceis e traumáticas, como, por exemplo, abuso sexual (muitas vezes, cometido pelos próprios pais, padrastos, familiares ou vizinhos), exposição à pornografia, ausência do pai, da mãe ou até de ambos, bullying, sentimentos de inferioridade, exclusão social desde o infantário, entre outras. Algumas dessas crianças encontram-se numa luta interior, sem saberem quem são, numa fase tão importante, que vai dos 2 aos 7 anos, onde se constrói psicologicamente a própria identidade, esse descobrir quem se é e o aceitar-se.

Conhecer-se e aceitar-se – não transformar-se no que se quiser – é o caminho psicológico normal de qualquer pessoa. E, nessas crianças fragilizadas, o ensino da ideologia de género – a que alguns, errada e deturpadamente, têm dado o nome pomposo de “Educação integral em sexualidade” – pode desencadear um transtorno quanto à própria identidade, que as leva a questionar quem são ou a fugir da sua difícil realidade. Não é que um menino queira ser uma menina, mas, se um menino é abusado sexualmente (uma das causas mais comuns para o desenvolvimento da atracção por pessoas do mesmo sexo), pode pensar que, se se transformar numa menina, o abuso pára. Na sua mente, ele pensa: se eu for uma menina, ele não vai querer abusar de mim.  Isto é terrível e requer um cuidado muito especial por parte dos docentes e da sociedade em geral.

Assim, quando uma criança começa a insistir que é do outro sexo, em vez de se coagir tudo e todos a concordar com a criança e a afirmá-la do outro sexo, não deveria haver todo um cuidado em perceber as razões para ela agir assim? E se, ao dizer que quer ser uma menina, o menino estiver apenas a gritar que está a ser abusado em casa?

Muitas associações, que foram consideradas de “utilidade pública” durante a pandemia, e que sabem que há crianças extremamente carentes de aceitação, enviam os seus militantes para as escolas. Ali, usufruindo de uma suposta superioridade académica sobre os alunos, os activistas usam todos os mecanismos de retórica para cooptar crianças, adolescentes e jovens vulneráveis e torná-los súbditos das suas bandeiras.

Porque é que alguns adultos fazem tanta questão de incutir a ideologia de género na mente de crianças de 5 anos? Porque é que os transexuais querem tanto ir às creches e aos infantários contar histórias aos mais pequeninos? Porque é que não vão contar as suas histórias apenas a adolescentes de 14/16 anos? Não será porque aqueles que estão por detrás deles sabem que o cérebro de uma criança de 5 anos é totalmente maleável e que se pode adaptar a qualquer coisa e que a grande maioria dos adolescentes de 14/16 anos vai rejeitar, naturalmente, o ensino do transexual?

Os activistas lgbtetc exigem entrar nos infantários e nas escolas o mais cedo possível, porque sabem que o cérebro das crianças, especialmente dos 2 aos 7 anos, é uma esponja. Já aos jovens de 12, 13 anos é preciso colocá-los sob muita pressão através das redes sociais, dos cantores e actores favoritos, filmes, séries, etc. Não se deixe enganar: na falta de um exemplo a imitar dentro de casa, os seus filhos vão imitar os ídolos que seguem. Quem são os ídolos dos seus filhos? O que promovem? Quem são os youtubers que eles seguem religiosamente? Conhece-os? Já os ouviu? Já os comentou com os seus filhos?

A escola é o motor de toda a engenharia social: nós, adultos, ao contrário do que a ideologia de género propaga, não mudamos radicalmente. Não é fácil convencerem-nos com facilidade de que um homem pode ser uma mulher, de que uma mulher pode ser um homem e de que ambos podem não ser nem um nem outro. Mas, para as mentes virgens submetidas a relações de poder e a ideologias que nem sequer são capazes de entender, as repercussões a longo prazo são terríveis. A imposição da ideologia do género a mentes tão tenrinhas é de uma violência imensurável.

Mas imagino o leitor a questionar: o que é que todo este palavreado tem que ver com o título do artigo?

Tudo. Tem tudo que ver com o título, pois, com esta introdução e as razões listadas abaixo, pretendo provar-lhe quão perigosos são para a sociedade conteúdos como a EIS, Educação Integral em Sexualidade Afectiva e de Género:

  1. O verdadeiro motivo para a aplicação da EIS é a revolução cultural em curso e não a prevenção de doenças ou infecções sexualmente transmissíveis. Ao assumir a ideologia de género como factos científicos, a maior parte da formação em educação sexual no meio escolar é abertamente anti-natural, pois ensina como verdades mentiras como a “identidade de género” (mais de 100) e o conceito de “orientação sexual”. A EIS não oferece educação sexual, mas sim um kamasutra de práticas genitais.
  2. A implementação deste programa não previne doenças nem infecções sexualmente transmissíveis, bem pelo contrário; o número de adolescentes que apanha infecções sexualmente transmissíveis tem vindo a aumentar. A EIS apresenta o sexo como algo casual, um direito que deve ser exercido sem nenhum tipo de limitações, responsabilidade, projecto de vida ou compromisso.
  3. A sexualidade desregrada leva à decadência cultural, à ruptura da família, menos sucesso académico, generalização de transtornos psicológicos, propagação de doenças sexualmente transmissíveis e ao assassinato de milhões de bebés, por meio do aborto. A sexualidade desenfreada é um alarme que assinala que a sociedade está em queda livre.  A EIS apresenta como “direitos humanos” actos sexuais anti-naturais e depravados e, assim, sob o lema da “liberdade sexual”, naturaliza toda a sorte de perversões sexuais.
  4. A libertinagem sexual entre os mais novos destrói, na mente deles, o conceito de família, como o melhor lugar para viver e aprender; e o casamento monogâmico, unido, que gera e protege a prole. Há inúmeros estudos científicos que confirmam algo que todos sabem, ou deviam saber: as crianças crescem melhor numa família estável, com os seus pais biológicos, no seio de um casamento alicerçado no compromisso, no amor, no cuidado, sacrifício e respeito mútuos. É na segurança de um lar estável que se formam pessoas que confiam em si mesmas, têm auto-estima q.b. e são independentes. Pelo contrário, os filhos do divórcio arrastam consigo muitas feridas e são presas fáceis dos predadores. Isso é senso comum. Por isso, não devemos permitir que o Estado – que não consegue controlar a sociedade, o aumento da violência e a desobediências às autoridades – tome a seu cargo a educação dos nossos filhos.
  5. A hipersexualização priva as crianças da sua infância. O desaparecimento da inocência própria da infância pode ver-se em três aspectos: pior educação, pior alfabetização e falta do sentido de pudor. Isto é muito grave, porque nenhuma sociedade sobrevive ao descontrole dos seus impulsos, particularmente dos impulsos agressivos e de gratificação imediata. O perigo de sermos perseguidos pela barbárie, invadidos pela violência, pela promiscuidade, pelos instintos e pelo egoísmo é real. O pudor é o mecanismo que mantém a barbárie afastada da uma civilização e a EIS destrói o pudor nas crianças.
  6. A sexualizacão das crianças destrói a autoridade da família, a autoridade paterna. Actualmente, quando muitas associações falam dos “direitos das crianças” referem-se, na realidade, a dissolver a autoridade paterna e familiar. Querem acabar com a patria potestad para que seja o Estado a decidir o que fazer com os nossos filhos. As crianças hipersexualizadas fogem do abraço dos seus pais e ameaçam, não só as boas relações entre pais e filhos, mas também uma vida familiar satisfatória. O propósito da EIS, então, é destruir as estruturas familiares para que o Estado se encarregue da educação dos nossos filhos.
  7. Hipersexualizar as crianças impede o desenvolvimento hormonal natural. A maturidade sexual física é um processo longo e paulatino. A maturidade psicológica e sexual é um processo ainda mais longo. Mas, sem dúvida, com a educação integral em sexualidade nas escolas, desde a mais tenra infância, viola-se esse ritmo natural, criando nas crianças desejos e inquietações que não correspondem à sua idade e ao seu desenvolvimento psico-biológico.
  8. A masturbação está ligada a um maior risco de sexualidade narcisista. Nas aulas de ESI, como se tem vindo a provar em todos os países onde foi imposta, incentivam-se as crianças a masturbar-se, sem ter em conta que este hábito pode tornar-se um vício incontrolável, que conduz ao consumo e dependência de pornografia, com todos os problemas que acarreta.
  9. A incerteza acerca do próprio sexo pode levar a graves transtornos de personalidade. Isso já ocorre em todos os países onde a ideologia de género foi introduzida no sistema de ensino, e, claro, este cantinho à beira-mar plantado não é excepção. Os consultórios de psiquiatras e psicólogos recebem cada vez mais crianças confusas quanto à própria identidade. Dizer aos meninos e às meninas que sentirem-se rapazes e meninas tem que ver com estereótipos opressores e que podem ser o que quiserem, independentemente do sexo com que nasceram, que qualquer um dos seus amigos pode ser de outro género, é semear nas suas mentes grande incerteza quanto à sua sexualidade e isso gera identidades débeis e titubeantes. Chamar “educação para a diversidade” a uma mera construção ideológica do género não diminui os seus perigos. Já há quem acuse crianças de 6 anos de serem transfóbicas.
  10. Pedir a crianças pré-puberes que “saiam do armário” acaba com o seu desenvolvimento natural. Não faltam estudos a demonstrar que 95% das crianças, que em algum momento sentiram ser do sexo oposto, se identificaram com o seu sexo biológico depois da adolescência. Na adolescência, a fase mais traumática a seguir ao nascimento, há grandes flutuações de sentimentos e nenhuma crianças/adolescente devia ser pressionada a escolher um género (construído pelos ideólogos do género) ou a “sair do armário”. Porquê? Porque essa pressão – de militantes lgbtetc e dos pares já convertidos à ideologia – traz grandes perigos para o seu desenvolvimento emocional, psicológico e sexual.
  11. Falar de homossexualidade com menores, sem explicar os seus riscos, expõem-nos ao perigo. A conduta homossexual está ligada a maiores taxas de depressão, trantornos, ansiedade, adicções, risco de suicídio e doenças sexualmente transmissíveis. Os activistas apontam para a pressão social anti-lgbtetc como desculpa para a elevada percentagem de suicídios entre essas pessoas, mas isso jamais se pôde demonstrar. Se se dão informações sobre homossexualismo aos jovens, também se lhes devem fornecer dados científicos acerca dos seus riscos.
  12. Ensinar que as famílias destruídas pelo divórcio são normais torna mais difícil às crianças, filhas de pais separados, superar as suas feridas. Quando os pais se separam, a criança fica ferida. Para superar essa ferida, primeiro, há que reconhecer que há uma ferida. Se os adultos, na escola, repetem que essa ferida não existe, porque o divórcio é normal e ninguém deve ficar ferido por causa disso, só agravam o sofrimento e banalizam as feridas causadas pelo divórcio. Está demonstrado que filhos de pais separados têm mais tendência para se separar.
  13. A destruição da família conduz, inevitavelmente, ao controle estatal sobre as crianças. Há coisas que se aprendem muito facilmente, na família, desde pequeninos, mas são muito mais difíceis de aprender mais tarde, em instituições do Estado, nas prisões, com terapeutas, conselheiros e/ou psicólogos. O que não se aprende na família, muito dificilmente se aprenderá fora dela (efeito de modelação). A confiança, o compromisso, os valores morais, a vontade de aprender, a produtividade, a responsabilidade, a confiança em si mesmo, o sacrifício pelo outro – todas estas coisas se aprendem na família. Na verdade, os adolescentes violentos e conflituosos raramente provêm de famílias estáveis, amorosas e disciplinadoras, e raramente têm a figura paterna presente. Quanto mais deixarmos que o Estado actue sobre a família, mais ele se apropriará das crianças e as educará para serem futuros servos.
  14. A ESI promove a pedofilia, uma vez que torna as crianças mais vulneráveis. Supostamente, a ESI educa para prevenir o abuso sexual, mas nunca oferece soluções para a exploração sexual.  Esta é a chave: afirma-se que a maior parte dos abusos acontece no meio familiar. OK! Mas, se o que se pretende é proteger a criança, isso não se consegue por meio da educação sexual, ensinando-lhe como é que se é violado, mas sim retirando-o da situação de exploração de que está a ser vítima. Urge informar e formar os docentes para reconhecerem as situações de abuso sem encher as cabecinhas das crianças de sexo. Assim, pode dizer-se que a ESI potencia a exploração sexual, pois não ensina as crianças sobre o que é o amor verdadeiro e a exploração sexual, e a única coisa que é incutida na mente das crianças é o seu direito ao prazer sexual. Logo, se a criança sentir prazer com o “amor” de adultos, qual é o problema? Afinal, se a identidade de género de uma pessoa é o seu sentimento interno, profundamente sentido, um pedófilo não sente, interna e profundamente, atracção sexual por crianças, não grita que as ama? Não consegue convencer uma criança de que isso é o tal amor que se aprende na escola?
  15. A crise demográfica é o resultado de separar sexualidade de fertilidade. No Ocidente, há cada vez menos jovens, que se casam cada vez mais tarde e têm um filho. O resultado é uma população envelhecida, difícil de sustentar, que caminha para um colapso demográfico. Considerando este desfecho, porque é que o governo está tão empenhado em educar crianças e jovens para se tornarem experts em anticoncepção e despertá-las para o aborto e para toda uma panóplia de relacionamentos sexuais não-heterossexuais? 

Por tudo isto, devíamos instar os responsáveis pela introdução da ESI nas escolas a apresentar dados científicos que mostrem que a sexualidade precoce, sem compromisso, promíscua, faz com que as pessoas tenham mais saúde, sejam mais competentes, respeitem os seus compromissos, construam um lar estável para a sua prole e transmitam a vida, porque ela vale muito a pena ou não fossem as crianças, como escreveu Fernando Pessoa, o melhor do mundo.


Maria Helena Costa

Fonte: Inconveniente

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