sábado, 14 de janeiro de 2023

A Máfia de Saint Gall, o livro

 


Tradução Deus-Pátria-Rei

Lê-se como um romance policial, um thriller apaixonante, em que o autor, relembrando a lição daquela mestra incomparável que foi Agatha Christie Mallowan, oferece, antes de chegar ao esclarecimento final do mistério, uma análise precisa de todos os personagens.

Estamos falando de "La Mafia di San Gallo". Um grupo reformista secreto dentro da Igreja”, de Julia Meloni, publicado recentemente na Itália pela editora Fede e Cultura.

O termo "máfia" para esse grupo de bispos e cardeais que se reuniram no crepúsculo do pontificado de São João Paulo II na pequena cidade de St. Gall, na Suíça, não foi cunhado por um inimigo; esta é a definição que um de seus principais integrantes, o polémico – por questões de ocultação de pedofilia, registrada por uma vítima – o cardeal Danneels deu em entrevista à televisão, com muita seriedade.

Julia Meloni, com um impressionante bloco de anotações, que por si só atesta a profundidade e perspicácia com que realizou seu trabalho, descreve em paralelo os temas fundamentais que a Máfia considerava importantes, bem como a vida e o desenvolvimento dos personagens. Especialmente o cardeal Martini, que era uma espécie de ideólogo do grupo, e depois todos os outros: o cardeal Kasper, o cardeal Silvestrini, o cardeal Murphy O'Connor e assim por diante.

O tema central, a tese da obra são claros desde o início: demonstrar como esse grupo, inicialmente hostil a João Paulo II, depois a Bento XVI, apoiou a candidatura ao trono pontifício do arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, abertamente durante o conclave de 2005, e de forma mais eficaz, mas de forma oculta, já que oficialmente o grupo teria deixado de operar (pelo menos é o que eles queriam que acreditássemos) por volta de 2006. Obtendo sucesso, acabou sendo eleito para o trono de Pedro em 2013, conseguindo assim que o pontífice prossiga com a sua estratégia de “renovação” (ou, segundo alguns, autodestruição) da Igreja Católica. Julia Meloni identifica com extrema precisão a génese ideológica e/ou teológica da maioria dos gestos de Francisco, atribuindo-os ora a um, ora a outro de seus co-inspiradores e conspiradores. Em particular, como relatamos, Martini e Kasper.

O livro não é longo, 172 páginas de texto; mas oferece um fresco dramático e perturbador do período desde a morte de São João Paulo II até a renúncia de Bento XVI. O que permanece, mais uma vez, um grande ponto de interrogação. Para todos, e de forma muito pessoal, para o autor destas linhas. Nesse sentido, a obra de Meloni oferece algumas pistas – o papel do Cardeal Martini, a relação em certos aspectos misteriosos que o ligavam a Ratzinger [ver… cf. A máfia de St. Gall, um plano para subverter a Igreja], uma alusão às dificuldades talvez mais psicológicas do que físicas de Ratzinger/Bento XVI ao perceber que já não governava a Igreja. E a esse respeito, teríamos gostado – mas talvez este seja o assunto de um livro futuro? – que o autor destaque algumas das pessoas mais próximas de Bento XVI: em particular seu secretário, o bispo Gänswein, e sobretudo seu secretário de Estado, o cardeal Tarcisio Bertone, que Bento XVI, infelizmente, defendeu mais de uma vez, inclusive quando as pessoas que o amavam o aconselharam, com razão, a se livrar dele, e que o agradeceram no conclave pedindo a seus homens que fizessem propaganda para Bergoglio. Sim, porque, segundo o livro, adivinhamos que Bento XVI esperava que, em seu lugar, fosse eleito o cardeal Scola para realizar o trabalho de reforma da Cúria e da Igreja. Se isso fosse verdade, seria um sinal de grande ingenuidade e má intuição por parte do papa emérito [SE fosse verdade, de facto!]; Scola era apreciado, mas acima de tudo temido pelos colegas.

Mas o grande enigma da resignação dada ao cansaço e à idade permanece sem solução.

Posto isto, só podemos recomendar a leitura de um livro que certamente continuará a ser uma referência para quem quiser estudar a história daqueles anos conturbados no futuro.

Marco Tosatti

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