quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

O LINGUAJAR POLÍTICO MODERNO

 “Às vezes é melhor ficar calado e deixar que as pessoas pensem que você é um imbecil, do que falar e acabar de vez com a dúvida”.

Abraham Lincoln


É vê-los esplendorosos!

Hoje proponho-me analisar algum do linguajar – é disso que se trata e não de fala – da maioria dos políticos e postulantes a tal (e não devemos ficar só por eles pois outros lhes seguem os passos). Que, por norma, seguem sempre a máxima de Bismark, “Nunca se mente tanto como depois de uma caçada, durante uma guerra ou antes de umas eleições” (atenção pessoal do “PAN”, esta das caçadas é convosco…).

A frase mais utilizada passou a ser “não sabia”. É curioso, nasci a aprender que o desconhecimento – sobretudo em funcionários públicos; responsáveis a vários títulos e então dos militares nem se fala, era considerado não uma desculpa, mas sim uma agravante.

Mas agora os responsáveis políticos (e pelos vistos muitos banqueiros, financeiros ou seus reguladores – estes usam até prioritariamente, o “não me lembro”) que dispõem mais do que quaisquer outros, acesso privilegiado á informação, passaram a desconhecer o que se passa na sua área de trabalho, não de outras, mas daquelas pelas quais são directamente responsáveis!

As alterações climáticas!

Outra frase recorrente soa a “é preciso investigar tudo” e “vai proceder-se a um rigoroso inquérito”; bom, já ninguém acredita nisto, as pessoas simplesmente sorriem. Não só pela repetição da coisa, como por, depois, raramente se saber do resultado das “investigações” (se é que alguma) como por as entidades que supostamente vão investigar se queixem, por sistema, da falta de meios para o fazerem (pudera, com tantos casos). Além disso a memória é curta…

Segue-se o “agora é o tempo da justiça actuar” e “como sabe eu não me pronuncio sobre casos que estão a ser investigados”.1 Chama-se a isto chutar para canto. E não é por acaso que a justiça é lenta e está cheia de “formalismos” e alçapões. Sem embargo a justiça não faz as leis, pondera-as e aplica-as. Quem as faz são a Assembleia da República e o Governo, a que o PR apõe a sua chancela às vezes, com a ajuda do Tribunal Constitucional, um tribunal político. E escusado.

De algum tempo a esta parte, parece que são os escritórios de advogados (pagos a folha de ouro) que elaboram as leis, o que é transversal aos Partidos Políticos que, por sua vez, “infiltram” o Magistério Público, a Magistratura, “and so on”. Ou seja, a independência de poderes sonhada por Montesquieu, é apenas uma quimera.

Para já não falar das “infiltrações” maçónicas, que são transversais a tudo o que cheirar a poder e negócios.

E as alterações climáticas…

O que está relacionado com a frase, “eu confio na justiça”, aldrabice pasmosa já que no que confiam é no tempo que tudo demora; nas habilidades processuais; nas eventuais moscambilhas no “sorteio” dos processos; e na prescrição dos prazos por recursos sucessivos, ou outras variadas razões!

Aliás, no estado em que está o edifício judicial e legislativo, ninguém pode confiar que se faça justiça. É um totoloto com sorteio em data incerta, e sei-o até, por experiência própria.

Naturalmente que, as alterações climáticas!

“Tudo são “fait divers”, nós estamos focados na resolução dos interesses do país e dos portugueses”; será nalguns casos, mas o argumento é recorrente entre políticos de diferentes colorações e funções. Utilizam-no conforme as conveniências. Soa a falso.

E quanto ao”interesse nacional” (que nunca é definido) o “País” e os “portugueses”, em coisa alguma se vislumbra, que estejam interessados neles.

Ora, as alterações climáticas…

A “Ética Republicana” representa uma frase ininteligível (o mesmo se pode dizer da “disciplina democrática”). Ora a Ética é a ciência do Bem, não é republicana, nem monárquica, nem outra coisa qualquer. Insistir nisto, é apenas uma idiotice semântica, nem se entende o intuito ou alcance, com que o afirmam (com ar sério).

Melhor fariam em obrigar-se e obrigarem à Ética (e à Deontologia, já agora), em vez de a relativizarem, que é o que na prática fazem, bem como à Moral.

O que vemos diariamente é apenas uma desgraça cívica. Mas, enfim, temos de fazer face às alterações climáticas que, aliás estão na origem dos incêndios, das cheias, das secas, da subida das temperaturas e da descida das mesmas, mais os males todos que nos afectam. E até da mudança da polaridade da terra, mas dessa quase ninguém fala…

“É a Democracia a funcionar”, esta frase então, é uma delícia. Parece que absolve tudo, que tudo justifica e explica, como se de uma evidência se tratasse.

Por vezes, ainda é complementada com os “custos da Democracia”, assim a modos como comparar os gastos da Presidência da República que bate aos pontos a Casa Real Espanhola (por ex.). Venha, pois, a Monarquia…

O PIB desceu? É a Democracia a funcionar! Cerca de metade dos funcionários públicos e das empresas estatizadas estão permanentemente em greve e, ou, de baixa? É a Democracia a funcionar! (ou como dizem os populares “estão no seu direito”- ao mesmo tempo que se queixam dos “incómodos” causados…).

Os deputados ofendem-se no Parlamento ao nível dos baixos instintos? É a Democracia a funcionar! Jornalistas manipulam notícias, favorecem ideologias ou correntes políticas, opinam durante entrevistas, censuram informação? É a Democracia a funcionar.

A gente entra num café e diz bom dia e ouve o silêncio como resposta? É a Democracia a funcionar!

Não passa um dia sem que apareça nos jornais um ou mais casos de corrupção (antigamente também havia, mas não se sabia, dizem os mentirosos)? É a Democracia a funcionar. Parece pois, que a Democracia é corrupta e corrompe…

A lista pode prolongar-se “ad eternum”…

As alterações climáticas é que vão já muito avançadas (como se pode constatar pelo que, invariavelmente, diz o “povo” quando entrevistado após um fenómeno climático mais agressivo: “nunca na minha vida vi uma coisa assim…”)

Finalmente os “Direitos”. Todos os filhos d’algo falam, invocam, prometem, direitos. Mas nunca em deveres. Ora os direitos devem decorrer dos deveres cumpridos e aqui é que a porca torce o rabo. O único dever que passou a haver é o de pagar impostos – o que corre paredes meias com o “direito” da fuga ao fisco…

Ora isto distorce completamente a realidade da vida. Já repararam que começa na concepção e no nascimento? Alguém pediu para nascer? Isso constitui algum direito seu? Cada um de nós nasce por um desígnio divino (para os crentes) ou por um acaso biológico (para os não crentes) mas nunca, que se saiba, por vontade própria. Não se nasce com direito nenhum a não ser os que lhe forem outorgados e garantidos, mas apenas com o dever de sobreviver, crescer e desenvolver-se; senão morre logo ali.

Vai ser uma luta constante. Mas para a maioria desta gente que nos governa, imbuídos de princípios jacobinos, positivistas e ateístas, só existem “Direitos” e nenhuns “Deveres”.

Corre mal.

Tal como as alterações climáticas.

Por outro lado, todos os momentos, hoje são “históricos”; qualquer eleição é “decisiva”; o novo ano é a nossa “última oportunidade”; cada nova tranche de fundos europeus (a nossa última desgraça, pois sem eles já teríamos que ter começado a trabalhar há décadas…) levanta vozes de “agora é que é”, etc.

E tudo aquilo que funcionava minimamente tem sido destruído e ficado a apodrecer…

Mas ao mesmo tempo que a cacofonia política abusa de frases atrás apontadas – onde tudo tem de ser “anti-racista”, “inclusivo”, em “igualdade” (ah, ah, ah), “não xenófobo”, “tolerante”; com “igualdade de género” e “ismos” variados, numa verdadeira tentativa de lavagem ao cérebro - existem outras palavras que foram erradicadas do léxico político e até do “main stream” mediático, e sabe-se quando o silêncio ou as omissões falam mais alto do que a algaraviada aliás muito democrática e pluralista (como se sabe), que nos frita os miolos diariamente.

Refiro-me, por exemplo, às palavras “Pátria” – conceito aparentemente ausente, nesta gente; “Nação”, definição ultrapassada, quiçá, fascizante; “hierarquia”, cruz credo; “autoridade” sem se aperceberem (ou sabendo muito bem) que nada se pode realizar sem ela; “trabalho” e o seu valor e importância, algo impensável no campo das promessas; “mérito” e “rigor”, então não é melhor ser tudo igual? “Honestidade” e “integridade”, pois fujam disso que é uma obrigação diária; “Portugal” que é preterido na fórmula “este país”, nem ao menos o “nosso país”.

Para já não falar nas frases redondas e nas mentiras descaradas que nos pregam quase todos os santos dias. O pessoal aparentemente gosta…

Vivemos no signo do maligno.

E não se vislumbram responsáveis, com um mínimo de carácter, onde se reúnam em simultâneo, aquilo que pensam, aquilo que dizem e aquilo que fazem.2 E mesmo sendo a “Democracia a funcionar” não se pode continuar a votar em marginais e pô-los a responsáveis pela Polis.

Esperemos melhores dias pois tudo tem um fim à excepção da salsicha que tem dois. O pior mesmo, são as alterações climáticas.


João José Brandão FerreiraOficial Piloto Aviador (Ref.)


1 Mais propriamente “ à Justiça o que é da Justiça” e à Política o que é da Política”. Para já não falar daquela piada que reza assim, “como sabe eu quando estou no estrangeiro não me pronuncio sobre assuntos nacionais”…

2 E nem surgirão, a não ser por bambúrrio, pois os “políticos” provêm das alfurjas dos Partidos Políticos, onde não existem Princípios decentes a que se obriguem; qualquer tipo de selecção, formação e escrutínio e cujo funcionamento está baseado na de agências de emprego, onde as credenciais profissionais são substituídas pelo apoio ao “chefe”, negociatas e guerrilha permanente, entre “delfins”, “tendências”, “grupos”, etc. Reformar esta miséria de alto a baixo, não tem passado, infelizmente, pela cabeça de ninguém.


Fonte: O Adamastor

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