terça-feira, 15 de agosto de 2023

Assunção de Nossa Senhora aos Céus

 


Nosso Senhor quis subir aos Céus contemplado pelos homens. Mas quis também que a Assunção de Nossa Senhora ao Céu, depois da d'Ele, se desse diante do olhar humano. Por quê?

Era preciso que a Ascensão fosse vista por homens que pudessem dar testemunho desse facto histórico duplo: não só de que Nosso Senhor ressuscitou, mas de que tendo ressuscitado Ele subiu aos Céus.

Subindo ao Céu, Ele abriu o caminho para as incontáveis almas que estavam no Limbo, à espera da Ascensão para poderem subir ao Padre Eterno. Antes de Nosso Senhor Jesus Cristo ninguém podia entrar no Céu. Apenas Anjos estavam lá. Como Redentor, Nosso Senhor abriu a porta dos Céus aos homens. Também era preciso que Ele, que sofreu todas as humilhações, tivesse todas as glorificações.

E glória maior e mais evidente não pode haver do que o subir aos Céus, porque significa ser elevado por cima de todas as coisas da Terra e unir-se com Deus Pai transcendendo este Mundo onde nós estamos para se unir eternamente com Deus no Céu Empíreo.

Jesus Cristo quis que Nossa Senhora tivesse a mesma forma de glória.

Assim como Ela tinha participado como ninguém do mistério da Cruz, que Ela participasse também da glorificação d'Ele. A glorificação d'Ela deu-se sendo levada aos céus. 

Foi uma Assunção e não uma ascensão. A ascensão foi a de Nosso Senhor ao Céu por Sua própria força e poder. A Assunção não é igual. Nossa Senhora não subiu ao Céu por um poder próprio, mas pelo ministério Aos anjos. Ela foi levada aos Céus pelos Anjos. Foi a grande glorificação d'Ela nesta Terra, prelúdio da glorificação d'Ela no Céu.

No momento em que entrou ao Céu, foi coroada como Filha dilecta do Pai Eterno, como Mãe admirável do Verbo Encarnado e como Esposa fidelíssima do Divino Espírito Santo.

A Assunção é um fenómeno gloriosíssimo!

Quando se quer glorificar alguém, põem-se nos seus melhores trajes; em casa exibem-se os melhores objectos, ornamenta-se com flores, tudo aquilo que há de mais nobre é exibido para glorificar a pessoa a quem se quer homenagear. 

Esta regra da ordem natural das coisas é seguida também no Céu. Então é claro que o maior brilho da natureza angélica, o fulgor mais estupendo da glória de Deus deve ter aparecido no momento em que Nossa Senhora subiu ao Céu. 

Muitas vezes na História, a presença dos Anjos faz-se sentir de um modo imponderável, embora não seja uma revelação deles. Mas nesta ocasião, deveriam estar rutilantíssimos, num esplendor invulgar. 

É natural também que o Sol tenha brilhado de um modo magnífico, que o Céu tenha ficado com cores variadas reflectindo a glória de Deus como numa verdadeira sinfonia. 

É natural que as almas das pessoas que estavam na Terra tenham sentido essa glória de um modo extraordinário, a verdadeira manifestação do esplendor de Deus em Nossa Senhora. 

Nenhum dos esplendores da natureza podia comparar-se com o esplendor pessoal de Nossa Senhora que subia ao Céu. À medida que Ela ia subindo, como num verdadeiro monte Tabor, a glória interior d'Ela ia transparecendo aos olhos dos homens. 

O Antigo Testamento diz: Omnis glória eius filia regis ab intus (Ps 44, 10) – Toda a glória da filha do Rei lhe vem de dentro. 

Com certeza essa glória interna manifestou-se do modo mais estupendo quando, já no alto da sua trajetória celeste, Ela olhou uma última vez para os homens, antes de deixar definitivamente este vale de lágrimas e ingressar na glória de Deus.

Foi o acontecimento mais esplendorosamente glorioso da História depois da Ascensão de Nosso Senhor. Comparável apenas com o dia do Juízo Final em que Nosso Senhor Jesus Cristo virá em grande pompa e majestade para julgar os vivos e os mortos. Junto com Ele, toda reluzente da glória d'Ele, aparecerá também Nossa Senhora. 

Devemos considerar a impressão que tiveram os apóstolos e os discípulos quando A viram subir ao Céu. Os Evangelhos narram que o apóstolo São Tomé duvidou da Ressurreição. Por isso foi convidado por Nosso Senhor a meter a mão na chaga sagrada do flanco d'Ele. Ele recebeu a Pentecostes e ficou confirmado em graça e um grande santo. 

Mas conta uma tradição venerável que, porque ele duvidou da Ascensão, na hora da morte e da Assunção de Nossa Senhora ele não estava presente. Quando ele chegou Nossa Senhora já estava a certa distância da Terra. Foi um castigo pungente e merecido por uma culpa tão reparada. Então, conta-se que Ela sorrindo, concedeu uma graça a ele que não concedeu a nenhum outro: 

Ela desatou o seu cinto e de lá de cima fez cair o cinto sobre ele, que ele recebeu – não como um perdão, porque ele já estava perdoado – mas como uma suprema graça, que era uma relíquia caída do alto dos Céus.

Assim faz Nossa Senhora quando tem algo a perdoar a algum filho muito dilecto. As vezes em que pune fá-lo com um sorriso tão bondoso, de um perdão tão completo e de uma graça tão grande que São Tomé poderia mostrar esse presente e dizer: “O felix culpa - Ó culpa feliz! Eu tive a desgraça de duvidar do meu Salvador, mas em compensação tive a felicidade de receber esta relíquia directa e celeste de minha Mãe Santíssima.”

Isto deve-nos encorajar. Não há nenhum de nós que não tenha falhas, não tenha algum perdão a pedir. Nós devemos pedir a Nossa Senhora na festa da Assunção que Ela olhe para nossas falhas, e nos dê um presente.

Se nós chegarmos atrasados, que Ela nos dê o favor especial, particularmente rico e suave, de maneira tal que quando surgirem os acontecimentos anunciados por Nossa Senhora em Fátima nós estejamos prontos. Em Fátima durante no Milagre do Sol, este manifestou-se de um modo esplêndido, num espectáculo de terribilidade.

Na Assunção de Nossa Senhora podemo-nos ir preparando para os grandes momentos previstos em Fátima com a certeza de que Ela nos sorrirá com a maternidade com que tratou São Tomé.

Plinio Corrêa de Oliveira, excertos de palestra de 10.VIII.1968


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