terça-feira, 16 de janeiro de 2024

UM ESPÍRITO CONTRA-REVOLUCIONÁRIO

Cumpre-se a 7 de Janeiro, o 194º aniversário da morte da Rainha D. Carlota Joaquina.

Defensora inquebrantável do Legitimismo, resistiu até ao final da sua vida, ao exílio e às ameaças de prisão da corja liberal, ao recusar-se a subscrever a famigerada carta constitucional, imposta a um Rei debilitado que perante a burla liberal, estava crente de que se tratava da compilação das sábias Leis do Reino.

É a António Sardinha que cabe o mérito da defesa da Rainha mais insultada, vilipendiada e vítima segura de mais uma ‘lenda negra’ da nossa história, no seu livro ‘Ao princípio era o verbo’,

D. Carlota Joaquina, cuja encarnação do “espírito instintivo da Contra -Revolução “, lhe valeu o exílio ao recusar assinar a miserável Carta Constitucional de 1822, no fundo uma rendição de Portugal às ideias revolucionárias defendidas pela maçonaria e consequentemente pelos liberais.

O motivo de tão grande ódio tem a ver com algo inusitado, sobre alguém que conseguiu ser Rainha de Portugal e ao mesmo tempo, representante de D Fernando VII nos Reinos da América do Sul, quando este e seus filhos se encontravam presos à mercê dos invasores de uma França sanguinária e revolucionária.
Após a prisão de D. Fernando VII e demais membros masculinos da família por Napoleão, D. Carlota Joaquina tudo faz para que as Cortes espanholas a reconhecessem como regente de Espanha, o que não foi aceite, pois tal apontava para o perigo de um domínio português em toda a América do Sul.
“(…) Manifesta-se o génio político de D. Carlota Joaquina, aquecido pelo fogo da sua ambição. Era um temperamento excepcional de mulher, a quem a intriga e o insucesso não deixaram nunca vencer. D. Carlota Joaquina, soberana no Rio da Prata e D. João VI no Rio de Janeiro, seriam de futuro, na pessoa dos seus descendentes, um formidável império Sul-americano, constituído solidamente. As dilações da corte do Rio, com muito entrave britânico à mistura, não permitiram que o instante oportuno se aproveitasse (…)”.

É impossível também esquecer o momento em que disponibiliza as suas jóias pessoais ao marquês de Casa-Irujo, embaixador de Espanha no Rio de Janeiro, para auxiliar a fidelidade de Montevideu à legitimidade da Coroa de Espanha e à Tradição Católica.

Pediam 80 a 100 mil pesos para organizar a defesa contra “los progresos de Los alborotadores de Buenos Aires” e o embaixador na impossibilidade de os arranjar, nem por empréstimo, recorre a D. Carlota Joaquina que lhe apresenta todas as suas jóias dizendo, ‘esta no te la puedo dar, porque és el retrato de mi marido, pêro todas las demás que aqui vés y creo valen 7 o 8 veces más de la soma que necesitas, estan a tu disposicion, vendelas, empenalas, hace lo que queiras, com tal que se socorra inmediatamente Montevideu”.

Uma Rainha ímpar, fiel a Portugal e capaz de, nas palavras do marquês Casa-Irujo, “Un rasgo de magnanimidad y generosidad tan repentina como sublime, digna de aquella Isabel, glória de las reynas de Espana, (…) “

É ela quem contraria os “partidos e camarilhas que se agitavam em torno de D João VI dominado pelo favorito Lobato, pelo Conde de Linhares e pelo embaixador Inglês” e que marca o “começo do seu descrédito como mulher”.

Infanta de uma educação esmerada, com uma cultura acima da média e de uma profunda religiosidade, enquanto Rainha “encarnou a mais profunda das nossas aspirações nacionais”, quando recusou a ruína que uma revolução de origens maçónicas, cujo objectivo visava, secretamente, uma unificação com Espanha e perante a qual o Rei, profundamente influenciado, primeiro pela horda de Fernandes Tomás e depois, pela camarilha dos Palmelas e Pamplonas, se prostrou como um “pobre manequim coroado”, o que, a partir daí, se tornou a afirmação estatutária de todos os Reis constitucionais e, aparentemente, dos seus actuais pretendentes.

É nessa altura que sai em sua defesa, José Acurcio das Neves, sem temor às mais vis ameaças e aos apupos da aleivosia liberal.

D. Miguel tenta ainda libertar D. João VI da teia que o mantinha imóvel, perante a já visível destruição de Portugal, mas os ‘préstimos’ de uma maçonaria que via em D. Miguel e D. Carlota Joaquina um perigo para a sua revolução, passaram por espiar as suas vidas, conversas e correspondência daquele que consideramos o nosso último Rei Legitimo tenazmente perseguido, depois deste, ainda príncipe, ter mandado prender a 30 de Maio de 1824 os ministros que mantinham relações com os refugiados em Inglaterra, valendo-lhe então um apertado desterro em Viena de Áustria e à Rainha, no Convento da Estrela, a que recolhera.

“Nas hesitações da sucessão, D. Miguel regressa ao reino, e, assumindo a regência, as cortes gerais de 28 acalmaram-no como Rei, em virtude das leis do país e da escolha da nação.

Doente e velha, D. Carlota Joaquina teve, nos dias derradeiros, a consolação de ver no trono o seu filho mais querido”.

Que o exemplo de D. Carlota Joaquina, José Acúrcio das Neves, D. Miguel e de todos aqueles que recusaram silenciar-se, para preservar qualquer parco estatuto, ou bolsa de moedas, nos ilumine nestes exigentes momentos, em que nos deixamos dominar pelo medo e pela preguiça.

Por Deus, Pátria e Rei legitimo!

Valentim Rodrigues

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