sábado, 19 de junho de 2010

FÁTIMA, FUTEBOL E FADO nas celebrações da "REPÚBLICA DE BANDIDOS"

As celebrações em curso do centenário da República Portuguesa que nos desgoverna, mas na qual alguns se governam muito bem, impõem a todos os cidadãos o dever de a elas não ficar indiferentes e de, pelo contrário, delas participar com a expressão livre daquilo que lhes vai na alma, porque esta é, supostamente, a República da democracia.

Para começar, tenho que dizer que não sou nem republicano, nem monárquico. Sou simplesmente um cidadão que cumpre todos os seus deveres cívicos e que espera ser governado de forma competente e honesta pelo regime que tiver conquistado o privilégio de, em nome da Nação, zelar pelo bem comum. Todavia, se, por um lado, a minha já longa experiência de vida não inclui ter vivido num regime monárquico, por outro, a república, esta República que, não tendo sabido impor-se à Nação pelo valor das suas ideias, se nos impôs pela força das suas armas assassinas, já me provou à saciedade não ser honesta ao criar a “partidocracia” que se assenhoreou do poder – só governa quem for membro de partido político. De igual forma, ao estabelecer na sua Constituição que “A soberania, una e indivisível, reside no povo…” e, simultaneamente, impedir que o povo possa propor a referendo nacional a alteração da Constituição que permita, por exemplo, a reinstituição da Monarquia, provou também ser uma república antidemocrática.

Nestes termos, impõe-se perguntar o que é que há para celebrar? E, num contexto social de profunda crise económico-financeira, que utilização vai ser feita dos dez milhões de euros que os contribuintes pagam para realizar as celebrações? Como cidadão que paga todos os seus impostos, exijo que o Estado, no final do corrente ano, faça uma prestação de contas detalhada e específica das celebrações, para que a Nação fique a saber quem recebeu quanto e a troco de que.
Todos os regimes políticos montam o seu circo para distrair o povo dos (maus) actos da governação. Os exemplos são inúmeros, mas talvez o mais emblemático tenha sido Fidel de Castro que, durante décadas, berrou aos microfones da Rádio Havana os méritos do assalto ao Quartel Moncada, em Santiago de Cuba, em 1953, da acção de guerrilha na Sierra Maestra até à queda do Presidente Fulgêncio Baptista em 1959 e da luta – que ainda continua, mas cada vez mais ridícula - contra o imperialismo norte-americano, ao mesmo tempo que cerceava ao povo
todos os direitos e conduzia o país para a mais estrutural miséria ainda hoje bem visível na frota automóvel que circula em Havana (praticamente toda feita de carros americanos dos anos 1950 e anteriores) e, também, nos edifícios de bela arquitectura colonial, todos em ruínas.

Em Portugal e durante a 1ª República, o regime foi tão criminosamente imbecil que nem o circo montou: empenhou-se apenas em destruir aquilo que de bom a Monarquia tinha deixado, até levar o País à falência. Não sou saudosista de regime político nenhum nem, neste caso, de Salazar, mas, por muito que isso doa aos republicanos, socialistas e laicos, a ele se fica a dever a inversão do caos em que estes mergulharam a Nação e, para tal, não lhe foi necessário montar o circo. Bastou a sua inatacável rectidão de carácter, a sua honestidade na governação rumo à reconstrução nacional, a divisa que soube transmitir ao povo e que este, pelo exemplo do seu incontestado líder e pela obra por ele apresentada - de uma nova rede escolar e campanhas de alfabetização; novas estradas; bairros sociais para os mais desfavorecidos; incentivos ao desenvolvimento industrial e agrícola e tantas mais - soube e quis também por em prática: “Tudo pela Nação, nada contra a Nação”. Ao mesmo tempo que, na escola e na sociedade, reinstituiu a cultura dos valores fundamentais da vida em comunidade: “Deus. Pátria e Família”, que a República actual se esforça por destruir, nisso apoiando também uma juventude que, profundamente equivocada e órfão de liderança em casa e na escola, vê na contestação a esses e a outros valores essenciais um sinal da sua superior modernidade.

Nem por isso os republicanos deixaram de tentar atacar o inatacável, deitando mão a tudo o que pudesse denegrir o regime que, durante anos, acusaram de usar “Fátima, o Futebol e o Fado” para “anestesiar” o povo e de ser uma feroz ditadura. Nada mais falho de sentido de realidade. Fátima aconteceu e se algum efeito teve de imediato foi simplesmente o de congregar a Nação à volta de um acontecimento da maior importância, cujo efeito era então – e continua a ser – o de juntar pessoas que, unidas pela fé, nada mais pretendem que exercer a sua humildade perante o
sobrenatural e, em sociedade, ser solidárias. Isso em nada atenta, nem nunca atentou, contra os interesses dos não crentes.
Do futebol dessa época pode dizer-se, tal como do hockey em patins (então, mais do que hoje, modalidade de grande projecção interna e internacional) que eram modalidades do mais puro desporto, sem máfias envolvidas, onde os atletas iniciavam pobres as suas carreiras e como pobres as terminavam. A construção do complexo do Estádio Nacional do Jamor, em 1944, pela iniciativa de Duarte Pacheco, a que mais tarde se associou por afinidade o INEF - Instituto Nacional de Educação Física (hoje Faculdade de Motricidade Humana), teve um efeito multiplicador da prática de actividades físicas e desportivas, progressivamente introduzidas no ensino nacional como actividades curriculares, na óptica de desenvolvimento generalizado de “alma sã, em corpo são”.
Finalmente, o Fado é uma tradição, uma herança cultural se se quiser, porque não foi a República – e muito menos o Estado Novo - que o inventou.

Esta 3ª República, miserável produto do 25 de Abril de 1974, ela, sim, tem usado e abusado do circo para entreter os cidadãos, enquanto os desmandos da sua governação gradual e inevitavelmente nos atiraram para um caos económico-financeiro de gigantescas proporções e consequências gravíssimas que ainda estão por avaliar na sua total extensão. Ainda a procissão vai no adro! Ela, que tanto vilipendia a Ditadura de Salazar, tem apenas a face renovada, é apenas “mais do mesmo”, de sempre.

Ela, sim, montou o circo, com muitos palhaços, porque o desmando é enorme. Tem-se servido de Fátima, do Futebol e do Fado em proporções inimagináveis. Em Fátima já se viu de tudo, desde os tradicionais cadetes da Academia Militar a levar o andor de Nossa Senhora, até essa sinistra figura de Vasco Gonçalves armado em segurança do Papa Paulo VI.
O revolucionário Vasco Gonçalves de má memória (o segundo a contar da direita) protege o Papa Paulo VI em Fátima. Quem diria!...
O Estado Português, socialista e laico, deve parar com a palhaçada de querer mostrar aquilo que não é e a Igreja Católica deve rever também a situação e, simplesmente, deixar que a imagem de Nossa Senhora de Fátima seja levada aos ombros pelo povo genuinamente crente.
Tem-se também servido do Futebol, com o qual criou uma relação de profunda promiscuidade, como foi o caso do Euro 2004, em que, incluindo os 50 milhões de contos (250 milhões de euros) de ajuda directa para construção de estádios (a maior parte dos quais estão hoje às moscas) e a fazer fé na imprensa, o Estado despendeu então um total de 200 milhões de contos (1.000 milhões de euros), porque pagou também as acessibilidades a esses estádios. Quanto desse dinheiro terá aterrado nos cofres dos partidos políticos é uma interrogação que muitos portugueses (eu incluído) fazem. Isto num País com dois milhões de pobres a viver no limiar da
miséria, sem dinheiro para coisas fundamentais e a que constitucionalmente tem direito, como sejam matar a fome e comprar medicamentos.

Portugal está completamente futebolizado, alienado dos valores pátrios, imbecilizado. A República tem favorecido esse estado de espírito ao permitir que canais de televisão e rádio, pagos pelos contribuintes e que supostamente deveriam prestar um serviço público de difusão do conhecimento, transmitam horas de futebol (relatos, mesas redondas, comentários e tudo o mais), mas não tenham tempo de programação para, por exemplo, falar da língua, da História e da cultura portuguesas, da União Europeia e dos tratados em que se baseia, dos Órgãos que a
dirigem e como a dirigem, dos Estados membros e das suas histórias e culturas específicas, entre muitas outras coisas que poderiam ser citadas. Depois, quando há que aprovar um tratado, como recentemente aconteceu, despudoradamente insistem em que seja aprovado no Parlamento, porque o povo não sabe decidir. O povo não é burro, meus senhores, a República é que é desonesta. E assim se vem criando uma União Europeia, com base em considerandos de natureza estritamente económica e política, mas sem a participação dos cidadãos que, liderada pela Alemanha, progressivamente se assemelha cada vez mais à ex-URSS - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas que, liderada pela Rússia, se constituiu num enorme desastre para a humanidade e deixou tão má memória! A malévola protecção ao futebol pretende fazer passar a mensagem de que o prestígio do nosso País se joga nos estádios, mormente nos internacionais, com os Figos e os Ronaldos, profissionais dignos que disso não têm culpa, como se as agências
internacionais atribuíssem à República Portuguesa um rating que fizesse baixar os juros da nossa dívida pública, em função dos resultados da Selecção Nacional.
(Diário de Notícias, 15 Jun 2010 e 14 Jun 2010). O Primeiro-Ministro de Portugal não recebe a Selecção: vai despedir-se da Selecção. “Porreiro, pá!” Popularidade, a quanto obrigas!

Tem também a República usado o Fado de forma cada vez mais descarada, querendo agora impingi-lo ao Mundo como um património da Humanidade e há já quem proponha que seja estudado nas escolas portuguesas como matéria curricular, provavelmente, digo eu, associado ao consumo local de vinho tinto de qualidade rasca e a uns charros de droga de espécies várias, tudo acabando numas aulas práticas de sexo usando os preservativos já distribuídos gratuitamente nas escolas. A República, esta República, está profundamente doente!

Se fosse apenas circo para exercitar os palhaços e entreter os mais distraídos, eu diria…paciência! O problema é o que subjaz de desgoverno e que compromete o futuro da Nação que, talvez também por essa razão, tende demograficamente a desaparecer e agora ainda mais, quando esta República, socialista e laica, legaliza o dito “casamento” entre homossexuais. Não sou homofóbico, nesta matéria apenas me incomoda profundamente que o Estado tenha emporcalhado a noção de casamento heterossexual e, no meu caso, católico. Pelo andar da carruagem, só falta que a República socialista venha a decretar que a homossexualidade passa a
ser obrigatória.

E o desgoverno é tão grave que nem o circo e todos os palhaços juntos o conseguem camuflar: a gestão ruinosa dos recursos de produção nacional; a gestão ruinosa e muitas vezes fraudulenta dos Fundos Comunitários, valores gigantescos para a dimensão do País, que foram tantas vezes desbaratados em programas deliberadamente inconsequentes; a destruição do que restava de produção agrícola nacional; a destruição das frotas pesqueiras e comerciais, colocando-nos na
dependência exterior e sobretudo de Espanha (basta uma greve nacional dos camionistas espanhóis, com alguma duração, que impeça, como vem acontecendo, a circulação dos camiões TIR portugueses, para que as reservas do pão que comemos todos os dias comecem ficar em risco de se esgotar; a destruição do ensino profissionalizante que atirou para as universidades, a coberto de um facilitismo escandaloso, dezenas de milhares de alunos que saem licenciados em
matérias que não interessam a ninguém e para as quais não há mercado de trabalho, muitos dos quais não sabem a tabuada e não sabem escrever português e que, num momento que deveria ser dos mais marcantes da suas vidas, nas celebrações dos seus finais de curso, se revêem em Quim Barreiros e no seu abjecto “Quero cheirar o teu bacalhau” e na afirmação pessoal consumada numa bebedeira que os leve ao estado de coma; acresce ao anterior, a criação de “Novas oportunidades” que praticamente oferecem diplomas, a bem da melhoria das estatísticas, para inglês ver; a gravíssima destruição do sistema de justiça e tantas, tantas outras coisas, em que o abuso do poder e a corrupção generalizada não são de deixar passar em silêncio.

Humberto Delgado, esse carismático General sem Medo, a referência, o mais idolatrado símbolo da democracia em Portugal, sepultado no Panteão Nacional com os “pais da Pátria”, foi - enquanto na pureza dos ideais da sua juventude, não afectados ainda por expectativas pessoais que criou e que o Estado Novo lhe não concretizou - o mais destacado defensor da Ditadura do regime salazarista e, a título pessoal, do próprio Salazar. E, por isso mesmo, o mais anti-reviralhista. Em 1933, com os seus 27 anos, dedicou a esta República um livro, cuja capa adiante se oferece, do qual nenhuma comunicação social tem a coragem de falar, que intitulou
– e explicou porque – “Da Pulhice do “Homo Sapiens” (Da Monarquia de vigaristas, pela República de bandidos – à Ditadura de papa”).



“A República de bandidos”! Celebrar? O quê? Desde então, em matéria de atitude, nada mudou. Antes pelo contrário. E as custas são sempre pagas pelo povo.

Não há nada para celebrar. Infelizmente!

Lisboa, 19 de Junho de 2010

Fernando Paula Vicente – MGeneral da Força Aérea Portuguesa (Reformado).

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