Por Rui Gomes Araújo
“Existem duas formas de passar pela vida sem problemas: acreditar em tudo ou duvidar de tudo. De ambos os modos se evita pensar.” De facto, estou aqui para problematizar um assunto tido como pacífico e que alguns insistem arrumado no Passado e resolvido por uma quase darwiniana teoria da evolução. Para pensar um outro caminho. Pelo regresso do Rei. Por Portugal.
Tinha apenas 14 anos quando fui convidado a participar no protocolo do Baptizado Real do Infante Dom Dinis, realizado aqui na cidade do Porto em Fevereiro de 2000. Na época pouco sabia acerca da Monarquia enquanto realidade alternativa mas porque a nossa História se cruza, indubitavelmente, com oito séculos de Reis e Rainhas, cedo entendi que tomar parte daquele momento fazia sentido; desde logo senti que ser-se português também é, de um certo modo, ser-se um pouco monárquico.
Aquele acontecimento despertou em mim um interesse de saber mais: de descobrir o porquê daquele menino não ser príncipe, dos portugueses não darem os “vivas ao Rei” e de, afinal, viver na República Portuguesa e não em Portugal. Porque, ao contrário daquilo que passivamente aceitamos como verdadeiro, existe uma alternativa real, actual, preparada e consciente do seu papel. Tive ali a minha experiência fundadora e, uma vez chegado à Monarquia pelo lado mais emotivo, talvez por defeito de vocação matemática também cedo procurei racionalmente justificar o interesse desta Causa; no fundo, ultrapassar aquela minha indiferença política. Um passo que, dada a história da nossa Instituição Real e o protagonismo das monarquias contemporâneas, foi fácil de dar. Mas necessário.
Hoje defino-me como um democrata monárquico, um português para quem o Parlamento é a sede por excelência da Democracia e que vê na Chefia de Estado não um contra-poder mas uma base sólida de representação nacional; um estudante do segundo ano de economia seguro dos riscos de defender um Rei num país de republicanos por inevitabilidade e de alguns antimonárquicos por ignorância; alguém firme nas convicções mas com a humildade de quem ainda tem muito para viver e aprender. Um monárquico pelo Sentimento mas também pela Razão.
Monárquico porque preocupado com os novos enquadramentos geopolíticos de Portugal na Europa e no Mundo, porque atento às mudanças numa economia cada vez mais global e consciente da necessidade de criação de mecanismos de governação sustentáveis. Monárquico porque defensor de uma ética da responsabilidade, alertando para a necessidade da não negação do Passado, propondo a sua necessária integração e defendendo o efectivo respeito pela Cultura e História de Portugal.
Pelo Rei dado que contra uma politica da luta e do interesse pouco público; visto que rejeito o minar e consequente enfraquecimento de uma instituição para mim vital ao sistema político através da inevitável partidarização da função e da permanente procura estratégica de novos nomes presidenciáveis; e, claro, porque pouco identificado com um país que, uma vez afastado da Pátria, grita por Portugal na filosofia do adepto. Como se apenas fossemos um partido ou uma selecção!
Por tudo isto sou advogado de uma Monarquia. De uma Chefia de Estado agregadora porque sem cor política, justa porque independente, estável porque assente na continuidade. De um método alternativo ao republicano, priviligiador da preparação e do serviço ao país; capaz de devolver a este órgão de soberania a ligação afectiva e patriótica que hoje a bandeira parece querer recuperar.
Defendo uma Monarquia sem medos de responsavelmente acompanhar a mudança social e de com isso correr os riscos de quem percorre a História naturalmente enraizada num Espaço e num Tempo. Um sistema mais capaz para enfrentar os novos desafios do século XXI, olhando a crescente globalização sociocultural como um desafio à manutenção e consolidação do património comum de um mundo português e respondendo ao processo de construção europeia com optimismo, não negando esta vocação universalista e o cariz europeu de Portugal mas assegurando incessantemente a preservação de uma identidade inegável e de uma independência inegociável.
Vejo o Rei como um denominador comum: símbolo unificador e elemento agregador por essência no quadro institucional. O representante natural, elo da Hoje difícil mas fundamental união entre a Política e o Povo, concretizando com este uma ligação também ela real, verdadeira e genuinamente recíproca; não teórica, ensaiada ou teatral. O único “Presidente” de todos os Portugueses. Da direita e da esquerda, porque acima das querelas partidárias. Alguém que “reina mas não governa”; uma referência credível cujo prestígio e dignidade constituem uma mais-valia para o país. E na actualidade, dadas as novas exigências e circunstancialismos, mais um “Rei dos Portugueses” do que um Rei de Portugal.
A beleza e importância de um Símbolo, o conforto e segurança de uma Referência são, pois, pedras basilares deste pensamento monárquico moderno em que acredito, preconizador de uma alternativa a um sistema político descredibilizado, movido por interesses de circunstância, de visões curto prazo, de muitas ideias e poucos ideais; afinal, desta política “fast-food” confortavelmente divorciada dos portugueses em que a figura do monarca se apresenta como um garante dos próprios valores democráticos.
Assim sendo, politicamente não sento a Monarquia no banco da Oposição mas sim do lado da Alternativa. Socialmente, não vejo os monárquicos como elementos do contra mas como portugueses que, para além das suas convicções políticas inseridas nos mais diversos quadrantes partidários, acreditam que o Rei defende melhor a respublica do que um Presidente. Tão simples e tão importante quanto isto.
Por tudo isto e muito mais, sou talvez hoje mais monárquico do que eventualmente o seria há uns séculos, acreditando que a Restauração da Monarquia em Portugal não constitui um qualquer regresso ao passado ou um retrocesso político. O que procuro apresentar não é a “receita da avó” na sua versão política nem tão pouco a solução para todos os nossos problemas, mas os ingredientes que a Causa Monárquica acrescentará e que acredito protagonizarem uma resposta mais eficaz a algumas das questões cuja relevância o Mundo parece cada vez mais decidido em demonstrar; um ponto de partida para que, como universitários e pessoas de acção, usemos a informação para sobre esta problemática ter opinião e posição fundamentada.
Porque me parece eminentemente essencial. Porque considero o regresso do Rei um contributo positivo para a desejada afirmação e projecção no Futuro. Um passo em frente no caminho da Modernidade.
Porto, Dezembro de 2004
Fonte: Real Associação do Porto
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