Completam-se no passado dia 28 de Maio de 2010 precisamente 84 anos quando um grupo de militares liderados pelo General Gomes da Costa desencadeou um Golpe de Estado que deu origem à implantação de um regime político que ficou conhecido para a História como o Regime do Estado Novo.
Os motivos corporativos , dentro de exército,que sustentaram o 25 de Abril já haviam feito carreira na década de 20 com os militares da Flandres a serem incluídos nos quadros de chefia.
Esse golpe teve lugar porque: primeiro a 1ª República deixara desde o primeiro momento o País mergulhado num caos político, económico e social; segundo porque as próprias elites politicas que se substituíam ao Rei e monárquicos, fiéis ao monarca, não se lhes equiparavam em qualidade e experiência.
As contas públicas de Portugal completamente desequilibradas desde o governo de Afonso Costa, os Governos que caiam uns atrás dos outros, a politização do exército e forças policiais, a par da perda de prestigio externo serviam de ingredientes para 16 anos de queda livre em direcção à pior noite da História de Portugal. A 1ª República ficou conhecida como um período em que se moveram perseguições sem quartel aos direitos cívicos, às liberdades politicas (o partido único teria o seu nascimento com o PRP em 1910) e à liberdade económica com uma moeda que desvalorizava de forma sustentada , empurrando milhares para um destino incerto fora do país, apenas para sobreviver.
Foi pois para pôr cobro ao deboche político, económico e social em que o País se encontrava mergulhado que um grupo de militares levou a cabo um Golpe de Estado no dia 28 de Maio de 1926, pelo menos assim se pensou até há pouco tempo. A óbvia grande adesão da população ao Golpe de Estado disfarçava o descontentamento e a falta de racionalidade que os milhões de estomagos vazios não permitiam antever, sobretudo entre os meios urbanos.
Contrariamente ao avanço monárquico sobre Lisboa de 1919, o povo agora aderia na mais pura das apatias , não com qualquer perspectiva de um futuro melhor, que o desnorte dos governos saídos do golpe depressa evidenciaram, mas porque a fome e a miséria não deixavam pensar.
Paiva Couceiro , sem o apoio do Rei, apresentava-se como instrumento de um plano maior, a falta de programa ou alternativa ao parlamentarismo facilmente anulava-se pela total abnegação a fim último de um golpe: a obtenção de Poder.Paiva Couceiro não o pretendia pois ao Rei caberia a palavra final, esta estória aprendeu bem o Franco (o de Espanha) a estabilidade que o Rei podia oferecer podia compensar largamente o risco de eleger um bando de assaltantes aos destinos da nação, lição que a Republica havia oferecido.
A falta de preparação e experiência que levou os militares do golpe de 26 a entregar um país inteiro às mãos de um professor universitário que à data apenas havia publicado um escrito e não mostrava o mínimo interesse em ocupar o cargo evidenciava a última paragem possível a um País que de Estado pouco já tinha, a clara evidência de um regime autoritário era agora um mal menor.Á falta de Rei substituia-se uma figura paternal.
Se o Regime do Estado Novo trouxe coisas positivas para o País cabe à História decidir e a cada geração auferir, mas que em nenhum momento houve Democracia é um facto.
Mas a esperança numa transição democrática, findo e estabilizado o ambiente social era uma ambição que rapidamente se esfumou. Apoiado entusiasticamente por monárquicos, e sendo ele próprio monárquico, depressa Oliveira Salazar desiludiu os monárquicos, quando ele próprio, depois de autorizar o regresso a Portugal da Família Real, que se encontrava exilada na Suíça, não teve a lucidez e o discernimento de optar pela transição democrática e trocar os militares de carreira que vinham ocupando o Palácio de Belém por um Rei, Dom Duarte de Bragança, sucedendo assim a Salazar no comando dos destinos de Portugal. Ao invés, Salazar permitiu que a República continuasse o seu fatídico percurso, já experimentado na década de 20 em direcção ao colapso, tendo a ousadia, o desplante e o despudor de nacionalizar e confiscar os bens da Casa de Bragança impossibilitando assim à Família Real os recursos necessários para possibilitar um avanço no percurso democrático no País.
Salazar num último acto de total incapacidade de análise capacitaria o pais para se tornar aquilo que durante toda a vida lutou, uma ditadura de Esquerda.
O resultado desse tremendo erro de Oliveira Salazar está bem à vista. O Regime do Estado Novo não sobrevive ao paternalismo do seu criador e cai de podre na madrugada de 25 de Abril de 1974 com um remake do 26 de maio de 1926. Depois da Revolução dos Cravos, veio a descolonização dita de exemplar (se foi um exemplo, foi-o pela negativa), o PREC, a reforma agrária, as nacionalizações. Portugal transformou-se num autêntico manicómio em auto gestão que só se salva com a entrada para a Comunidade Europeia (CEE) em 1986.
As opções entre os dois estadistas (Franco e Salazar) reflectiam a formação académica e o calibre intelectual que os dividia. A Franco faltava a certeza que Salazar tinha por certa e o ambiente politico não era semelhante em Portugal e Espanha.
A maior duração e coerência do Estado Novo desproviam o País de elites politicas e económicas capazes de entenderem os novos tempos e evitar o avanço das mesmas forças populares que sustentaram a implantação da República.Entre anarquistas bombistas e reaccionários ao País apenas restava uma administração central inócua entre os contestatários que alinhavam em qualquer partido que fosse anti-governo e a população em geral.
Que Salazar pela idade avançada já não pudesse distinguir o panorama politico europeu e mundial era um facto, mas torna-se estranho apresentar um país com se fosse governado por um homem só.
Se Salazar tivesse tido a argucia e a visão de Francisco Franco, que chamou a si a formação de Juan Carlos de Bourbon, e o preparou e educou para chefiar os destinos de Espanha após a sua morte (para o que contribuiu a renúncia à Coroa do Conde de Barcelona, filho do último Rei de Espanha, Afonso XIII e pai de Juan Carlos, sendo que o Conde de Barcelona era opositor político do regime de Francisco Franco), certamente que Portugal não teria passado pelo perigo real de se ter tornado um satélite da ex-URSS com óbvias implicações a nível internacional e graves responsabilidades por parte doa aliados da NATO que deixariam o flanco aberto ao contestarem a politica portuguesa em África.
Ao invés, Portugal teria de passar pelo risco maior de se eclipsar sob um conflito maior, só porque aos dirigentes e empresários faltaria a capacidade de ver a longo prazo o caminho que trilhavam.Se Salazar deixou o País na mão de burocratas e livre para se tornar uma republica socialista, só por pudor a um complexo à Monarquia também aos monárquicos lusos faltaria clarividência para observar que o Mundo mudara muito desde a carta Constitucional. Se hoje os monárquicos portugueses criticam Salazar é por miopia que também não olham para o próprio apoio que o actual Rei de Espanha teve daqueles que se diziam monárquicos fiéis ao Rei, apoio que faltou demasiadas vezes e durante demasiado tempo , sendo quase ausente após a revolução de 1974, a SAR D. Duarte Nuno, pese embora o maior labor dos poucos (escassos) que se mantiveram fiéis a SAR D. Duarte Nuno.
Embora a Espanha actualmente esteja a braços com uma grave crise económica, que se Francisco Franco não tem restaurado a Monarquia, a Espanha hoje já não existia enquanto País ( ter-se-ia desmembrado como se desmembrou a Jugoslávia ou a Checoslováquia) é um facto conhecido, tal como é o pior cenário para Portugal.
Resta saber se aqueles que ,hoje,se dizem fiéis ao Rei ou à República (ou por denominador comum à democracia) repetirão os erros da década de 70 deixando a frágil flor da Democracia desesperar ao esperando que alguém arrisque com um golpe militar , constitucional ou económico aquilo que a maioria diz querer, sem fazer.
As elites substituem-se, o Rei não e esse é um luxo que ainda vamos tendo como povo que ainda tem futuro.
Fonte: Somos Portugueses
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