sexta-feira, 8 de junho de 2012

O doente não se cura mudando-o de cama

Li em tempos, da pena de um místico italiano já falecido, que o doente não se cura mudando-o de cama. O que o cura é o boa prescrição que o médico lhe receita. Porém, antes da medicação, há que saber fazer o diagnóstico correcto. Assistindo aos últimos tumultos da paupérrima vida política portuguesa - que perdeu o rumo e desbaratou as últimas três semanas num risível folhetim - surge de manifesto que o mal de que padece Portugal e o regime não pode ser corrigido sem o diagnóstico correcto. Que cada um tire as ilações e reflicta sobre isto.
O problema, meus caros, foi diagnosticado há quase 20 anos por Richard von Weizsäcker, para não referir outras autoridades menos consensuais. Para Weizsäcker, que na altura levantou imenso coro de protestos, a democracia foi pervertida e substituída pela partidocracia. Os partidos políticos transformaram-se num quinto poder e destruíram lentamente a autonomia dos restantes quatro poderes: ocupam o legislativo, o executivo, o judicial e até os poderes moderadores. O problema é que esta forma corrupta de democracia se transformou numa nomenclatura fechada, incapaz de discernir a medida justa, o bem-comum e os interesses gerais da sociedade. Sendo os partidos um elemento fundamental da democracia, não são a democracia.
É esta, fundamentalmente, uma das razões pelas quais sou monárquico. O reforço do poder moderador - que por ser aquele que maior consenso reune - pode permitir que o Estado e a sua maquinaria se libertem do clientelismo dos partidos; que os juízes que velam pela imparcialidade não sejam cooptados entre gente de partidos; que o critério de competência para o exercício de funções técnicas e executivas não passe por acordos entre partidos. Enquanto daqui não sairmos, não vamos a parte nenhuma.
 
Miguel Castelo-Branco
 

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