Ontem (7 de Junho), pelas 17h00, milhares e milhares de pessoas ocorreram para ver a procissão do Corpo de Deus que se realiza no Porto desde, cerca, 1290 (pela nova lei só daqui a cinco anos será reposto este dia festivo/feriado), sendo uma das mais antigas procissões do país. Nesta cerimónia aconteceu história. A Irmandade das Almas de S. José das Taipas participou na procissão após 101 anos de ausência. Esta Irmandade, de que sou um dos re-fundadores (2011), foi instituida em 1811 a partir da Irmandade de S. José (1790) e assumiu-se com o novo nome e objecto (obter meios para ajudar os familiares das víctimas da tragédia da ponte das barcas) após as invasões francesas. Teve uma vida de auspiciosidade até ser fechada e os seus membros perseguidos pela "tolerância" dos republicanos e da República. Muitas décadas depois, emocionei-me ao segurar e exibir o original e belíssimo estandarte do séc. XIX (1ª foto, atrás das meninas do Sagrado Coração). A procissão foi concorrida por todas as ordens e irmandades da cidade; na sua frente, no sector da sociedade civil, duas bandeiras monárquicas abriam, descomplexadamente, com as cores de Portugal o percurso para a Sé, seguida pelos Leigos, Leitores, Irmandades, Ordens, Cruzes, Acólitos e Seminaristas, Clero, Bispo e os milhares de fiéis. No Paço, o anfiteatro enquadrou-se para a cerimónia, eloquentemente dirigida por D. Manuel Clemente, num ambiente tocado pela união e pelos cânticos, alegremente revestido pelo coloridos dos trajes, das vestes brancas, pelos estandartes dourados, vermelhos e "azuis e brancos".
Este é um Portugal da permanência e de persistência, do não abdicar dos sentimentos, um Portugal sem classes, onde todas as vozes se retratam e se unem como uma voz unívoca e uníssona, que teima pela esperança. O Portugal que não passa nas televisões nem é mote para mesas quadradas.
João Amorim
Fonte: Os Carvalhos do Paraíso
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