quarta-feira, 6 de junho de 2012

O júbilo deles

Tenho uma certa inveja de não podermos ter algum dia um Jubileu como os ingleses. Nós portugueses nunca soubemos crescer e adaptarmo-nos aos tempos, antes promovemos rupturas, que hoje sabemos terem sido tão brutais quanto inúteis, autofágicas.



Os britânicos estão a celebrar com festas por todo o pais o Jubileu de Diamante da Rainha Isabel II. Enquanto monárquico, partilha da alegria do povo britânico?
Eu não sou inglês, por isso não partilho a alegria dos ingleses. Mas olho com pena Porque nós, os portugueses, não tivemos a arte e a sabedoria de crescermos e progredirmos em termos de estruturas sociais e políticas de forma a podermos ter uma festa semelhante a deles. Tenho uma certa inveja de não poder ter um Jubileu como os ingleses.

Como vê o reinado de 60 anos de Isabel II?
Com grande admiração. Era desde o início um reinado condenado ao sucesso. E uma soberana com um grande dom, e a longevidade que e característica dos Estados monárquicos. É um símbolo que inspira uma imagem de união e de sobriedade do povo inglês. 0 seu reinado marca várias gerações. Fico com uma certa inveja, porque nós enquanto nação com 900 anos não fomos capazes de superar as dificuldades e hoje não temos uma monarquia.

Como e que e a relação da Rainha com Portugal? Lembra-se da visita de Isabel II?
Creio que foi a primeira transmissão em directo da RTP, foi um acontecimento marcante em Portugal. Isabel II e o símbolo de um País que sempre foi nosso parceiro.

Parte da popularidade da monarquia no Reino Unido deve-se a imagem de Isabel II. Acha que Carlos vai conseguir manter a instituição popular quando a Rainha morrer?
Claro que sim. Há reinados diferentes uns dos outros e é verdade que a Rainha tem um dom especial, mas o suporte da monarquia também passa em parte pela aculturação a um novo símbolo nacional. É um sentimento republicano querer escolher o Chefe do Estado. É bom um monarca ter um certo carisma, mas não é isso que suporta a monarquia. Suceder a Rainha Isabel II que, quer pelo seu carisma, quer pela longevidade do seu reinado, deixara uma indelével marca de classe na História será sempre uma tarefa muito ingrata. Um pouco como o que veio a acontecer a Eduardo VII, sucessor da rainha Vitória. Nada que no entanto o tempo não resolva, num processo porventura mais retardado de assimilação, de adopção afectiva, ao novo soberano por parte dos britânicos.

Como casamento de William e Kate, os príncipes transformaram-se quase em estrelas de cinema. Isso significa que a monarquia esta agora na moda?
Eu tenho 50 anos e passei uma coisa semelhante como casamento do príncipe com a Diana, em 1981. São cerimónias, rituais, que criam uma expectativa inerente à instituição real. Acaba por ser um momento de fortalecimento do próprio país, ainda mais se for numa altura difícil.

Em Espanha, o Rei Juan Carlos esteve recentemente no centro de uma polémica, com a sua caçada de elefantes em África…
É um mau momento da monarquia espanhola, mas o próprio regime tem os seus mecanismos de regeneração. E acho que Espanha tem problemas muito mais graves. A monarquia espanhola passa por uma crise de prestígio por Causa de uma acção irreflectida do Rei, mas isso não põe em causa o regime.

Alegações Finais,
Entrevista Susana salvador – Diário de Notícias 5 Junho 2012

Fonte: João Távora

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