terça-feira, 15 de janeiro de 2013

EU, MONÁRQUICO, ME CONFESSO

 
Um dia, bem distante e tão presente, perguntei a meu pai porque sorria.
 
E ele, num ímpeto de carinho e desalento, me respondeu: – Meu filho, por te conhecer aceito a verdade da tua escolha. Mas ao percorrer a vida passo a passo, sofro pelo futuro que te espera.
Singelas palavras, sábia profecia! Quisera eu que essa visão não fosse nada mais do que um fantasma, tentando ensombrar a claridade deste sonho!
 
Os dias e os anos foram desgastando, vertiginosamente, deixando em mim presentes as palavras sussurradas naquele momento de discreto e sugerido lamento.
 
Apenas um instante, um instante apenas, feito de mastros de navios, em marés acordadas.
 
Era uma canção escrita com cenas dum grito de revolta, repulsa e desalento.
 
E eu, em cada crise em que me envolvo, transfiguro-me e vagueio por todos os locais feitos de imagens, sozinho e nu.
 
Eu pecador me confesso!
 
No meu grito de revolta, alcanço ainda forças para um poema de esperança, qual regato de águas serenas e cantantes, vibrando pelo Rei ausente, mas de desejo bem constante.
 
E, de súbito, todo aquele poema de espadas e penas se transforma num sonho pueril e distante.
Ser monárquico, é sonhar a inocência singular duma fidelidade a ideais de cavaleiro andante, a juramentos impregnados da candura do acreditar na beleza original.
 
Ser monárquico, é recriar a imagem da saudade paterna, do aconchegante regaço maternal, da inocência de padrões de conduta, que mergulham nas raizes mais distantes.
 
Por isso me confesso pecador! Por acreditar nessa simbiose de saudade e futuro, de passado e presente, qual grito rebelde de liberdade, voando por memórias renascidas.
 
Por isso me confesso pecador! Por ter presente dia a dia, que o Rei da minha nostalgia desejada, transforma em poema todas as vagas profundas e enfurecidas dum grito de igualdade, suportado por recordações de injustiças e mãos vazias. Por acreditar nesta bandeira azul e branca, símbolo dum dia claro de sol vibrante e águas límpidas.
 
E se o sonho for poema acrescentado, rebelde como um grito de criança, constante como marés acordadas, intenso como paixão de secretas cores, onde me possa afogar absorvendo a beleza nesse limiar do infinito, com vigor gritarei ainda: Real, Real, pelo Rei de Portugal!
 
Deixai-me ainda acreditar no sonho! Deixai embora que essa ofuscante claridade, rasgue as vestes sombrias dos sentidos e percorra todo o meu ser, até ao limiar do infinito.
 
Deixai que o símbolo da minha demência, seja a demência dos símbolos da dignidade renascida, da portugalidade recriada, do orgulho numa fraternidade de diferenciação entre iguais.
 
Deixai que eu seja um mero menestrel duma sociedade de sentido renascido, cantando a beleza da minha bandeira azul e branca, gritando esse brado do Álcacer da nossa perdição, qual Sebastião de Sá, que me honra o sangue, morrendo, entre iguais sem desistir de lutar: – O meu cavalo não sabe voltar!
 
Fernando de Sá Monteiro
 

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