"Aumentar as receitas só com os impostos e eles matam a economia produtiva", observou, defendendo cortes na função pública, que representa "80 % das despesas do Orçamento do Estado"
O duque de Bragança, D. Duarte Pio, afirmou hoje, em Macau, que a crise portuguesa tem como causas a "ignorância, a irresponsabilidade e a desonestidade" de alguns políticos e defendeu a necessidade de a população gastar menos.
"Eu acho que a crise portuguesa tem duas causas: a ignorância e a irresponsabilidade, para não dizer também uma certa dose de desonestidade, da parte de alguns políticos que se foram habituando a ter lucros que não deviam ter", disse D. Duarte Pio em declarações aos jornalistas à margem da Feira Internacional de Macau, que visitou a convite da Associação de Jovens Empresários Portugal-China.
Ao constatar que "qualquer dona de casa sabe que não é sustentável gastar mais do que o que se ganha", o duque de Bragança previa que "mais cedo ou mais tarde" o despesismo do Governo "tinha que se pagar" e lamentou que tenha sido "preciso o Governo anterior estar numa situação praticamente de falência para chamar a ‘troika'".
"Acho que se tivesse tido alguma influência como rei ou político nos anos anteriores, a minha voz teria sido mais ouvida, quando durante tantos anos fui alertando contra as despesas não reprodutivas que os governos portugueses foram fazendo", apontou, referindo nomeadamente "as autoestradas, a Expo, o Centro Cultural de Belém".
O herdeiro do trono de Portugal lembrou ainda "a fraude do BPN", defendendo que os seus responsáveis "deviam estar na prisão" e lamentou que o "Governo Sócrates tenha salvado da falência um banco que devia ter ido à falência e que é um dos maiores buracos financeiros que há em Portugal".
"Isto não é admissível que o contribuinte tenha de pagar as aventuras e a desonestidade de algumas pessoas", sublinhou.
Quanto ao Orçamento do Estado para 2014, apresentado esta semana, D. Duarte Pio considera que é "o possível, ninguém gosta dele, mas quando não há dinheiro tem de se fazer aquilo que se pode: ou se cortam as despesas do Estado ou se aumentam as receitas".
"Aumentar as receitas só com os impostos e eles matam a economia produtiva", observou, defendendo cortes na função pública, que representa "80 % das despesas do Orçamento do Estado".
Para o duque de Bragança, "ou se diminui o número de funcionários - e aí há o problema do desemprego e dos subsídios de desemprego - ou se diminuem, de algum modo, os custos do funcionalismo público, não há muita alternativa, aliás, não há mesmo alternativa nenhuma, porque o resto das despesas que o Estado tem de cortar são 20% do Orçamento".
A situação que o país enfrenta é atribuída ainda pelo duque de Bragança ao sistema republicano, apontando que "os presidentes da República, por mais sérios e dedicados que sejam, têm estado sempre comprometidos com os partidos, sendo, por isso, muito difícil intervir e corrigir os desvios dos próprios partidos".
"Se a República Portuguesa tivesse como chefe de Estado um rei tinha mais independência, mais liberdade para poder, de algum modo, ajudar a controlar os desvios que os governos possam ter, que é o caso da Escandinávia, Reino Unido, Espanha, Austrália e Nova Zelândia", acrescentou.
D. Duarte Pio defende a necessidade de o "Estado dar o grande exemplo de poupança e de encorajamento da iniciativa privada", que lamenta que seja "ainda muito vítima da burocracia", apesar de se congratular com a criação dos vistos dourados para "facilitar o investimento estrangeiro".
"E, por outro lado, pode-se viver bem com menos, mas é preciso ajudar a população a perceber como é que se pode viver sem sacrifício gastando menos, porque muita gente habituou-se a gastar demais", concluiu.
O duque de Bragança está em Macau para "apoiar a presença portuguesa" na Feira Internacional e para "rever amigos, monárquicos e republicanos, portugueses e macaenses", num jantar que hoje teve lugar no Clube Militar. No sábado, revê outros amigos num almoço no Clube Lusitano de Hong Kong.
Fonte: I online
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